7.5.24

Projeto da Capela da Mãe

Capela de Nossa Senhora de Iracy

Minha ideia 469.

Esboço da Capela que vou construir no jardim da minha Mãe. Lembrem-se de Arquimedes, quando disse: "Deem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu levantarei o mundo". Só agora eu vejo que tem relação com isso. Essa obra terá um único ponto de apoio. Eu a tinha feito apenas com dois traços: o V e o círculo. Depois, acrescentei (em traços um pouco mais finos) a "Cruz" estilizada, que em verdade é o ideograma em mandarim 上 (shàng), que significa "pra cima, alto, superior, excelente". E que compõe 上帝 (shàng dì), que significa Deus. O altar ficará no círculo (que na execução será uma esfera). Ainda estou extasiado com a beleza dessa ideia. Ela me surgiu de repente, assim que me acordei, num domingo Garujá de manhã, dia 23/09/2015.


Acho que foi o espírito do Niemeyer que SUBIU até Mim. Do Niemeyer e daquele Outro Arquiteto, que, dizem, desenhou este Universo...



A propósito,
eu e minha Mãe nunca brigamos. NUNCA. Ela nunca me deu nem sequer um tapa, nem sequer um puxãozinho de orelhas. Ela nunca me viu bêbado. Eu nunca gritei com Ela, e Ela nunca gritou comigo. Nós nos respeitávamos, mutuamente. Portanto, Ela só teve razões para me abençoar. Todos os dias... Sempre fui (ainda sou, e sempre serei) o filho predileto dela. Por isso esse meu Sucesso Absoluto como ser humano.


Esta é a Capela Sistina.



Foto feita em 08.07.22.




5.5.24

Tudo que existe



Foto que fiz de uma carroça conversível que estava estacionada em frente ao boteco do meu Pai, com uma máquina fotográfica Kodak, comprada por reembolso postal.

Eu tinha 11 anos, e já era um Cartier-Bresson.



Tudo que existe no mundo — existe duas vezes : primeiro, na cabeça do Criador. Toda mudança tem que antes ser sonhada. A realidade só se transforma de verdade, na prática, depois que transformou-se em teoria. Primeiro no cérebro — depois, no mundo. Sem sonho e sem loucura inteligente, nada de concreto se produz. Nem sorvete, nem avião, computador, arranha-céu. Nem igreja, nem poesia, nem romance, nem Calçadas do Brasil. Os inventores, os poetas, os artistas, os cantores, e os sonhadores empreendedores — são todos visionários. Einstein, Jesus Cristo, Picasso, Buda, Galileu, John Lennon, Espinosa, Niemeyer e o dono do boteco ali da esquina: um bando de malucos. Se dependesse apenas dos normais, ainda andaríamos de carroça. Talvez nem mesmo de carroça, pois a roda foi criada por um louco... Sem fantasia e liberdade não se encanta o cotidiano. A imaginação descontrolada é que dá cor e vida ao mundo livre. Por isso é que a Loucura Criativa é necessária, desejada — e tão temida.





3.5.24

Eu te convido a ter coragem

Minha proposta é a Liberdade Absoluta. Eu venho é para semear razões, quebrar paradigmas, romper limites e derrubar padrões. Não trago nenhuma resposta pronta: só faço perguntas. Eu quero é mexer no coração da tua cabeça, carinhosamente. Fazer um delicioso cafuné nos teus neurônios enrolados. Passar um pente fino nos caracóis da tradição. Quero questionar tuas verdades mais queridas. Chacoalhar tuas convicções inabaláveis. Não vim, portanto, te propor sossego — nem venho te trazer a paz cansada... Eu te convido a ter coragem. Eu te convido a um salto profundo. Um salto escandalosamente profundo em direção à Vida.





2.5.24

Meu primeiro grande negócio

Eu queria montar um negócio no ramo de calçados. Mais precisamente, eu queria ser engraxate. Queria muito uma caixinha daquelas de madeira para exercer a profissão, que me parecia muito lucrativa e fascinante. Então, troquei meu relógio Mondaine por uma caixinha já pronta, comprei duas latinhas de graxa Odd na Cofesa, arranjei uns paninhos com minha Mãe, duas ou três escovinhas de dente já usadas, um escova grande, marrom, duas tirinhas de casimira azul de uma velha calça rasgada, juntei-me a dois amiguinhos que já engraxavam — e saí para vencer na vida. Eu tinha sete anos. Mas não consegui vencer na vida. Pelo menos não naquele dia, pois meu Pai foi me buscar no Mercado, repreendeu-me com vigor, porém delicado, deu minha "empresa" de presente a um menino (mais) pobre — e pediu-me que eu tentasse uma outra profissão. Segundo ele, engraxate já tinha demais... Acho que foi talvez por isso que eu virei poeta. Poeta e comunista.

Mas a história dessa "empresa" não parou aí. Eu ainda não era poeta... Depois eu conto alguns detalhes sobre a ideia que tive no dia do meu oitavo aniversário: uma espécie de "franquia" com as minhas três caixinhas de engraxar. E do modo interessante como as consegui comprar. De como convenci o Joãozinho, o Gordinho e o Getúlio a serem meus "franqueados". Eu lhes dava o capital inicial e lhes indicava os segmentos do Mercado... Em seguida, tentava convencer o Tio Jora, o português Amândio, o Nho Joaquim, o Seu Lazico, o Dr Mário Mendonça (e outros amigos do meu pai) a engraxar com eles. Marketing puro! Mas é uma longa história curta, pois essa segunda "empresa" também faliu em poucas semanas... Em verdade, não foi uma falência, stricto sensu. Foi meu pai que novamente interferiu no meu destino. Mas sem brigar comigo. Ele achou que eu estava "explorando" os meninos pobres, mal sabendo que metade do lucro era deles. E eu ainda lhes dava, como incentivo, doces e balas e pão com mortadela. Acabei perdendo a empresa, porém, em compensação, ganhei a "gerência" do nosso armazém. E um quarto enorme, só para mim, com escrivaninha e uma estante cheia de livros. Entretanto, a contrapartida que ele me exigiu foi que eu aprendesse a tabuada do 15. "Quem não sabe tabuada não é gente" — ele dizia. É verdade. Suponho.





1.5.24

Dia do Trabalho

A razão do trabalho.

Se enquanto trabalho não falo de amor;
Se enquanto trabalho não escrevo poesias,
nem vejo a lua, nem tomo sol;
Se enquanto trabalho não crio conceitos;
Se enquanto trabalho não beijo os olhos dos meus amores;
Se enquanto trabalho não ando descalço
em areias brancas,
nem ouço as ondas do mar;
Se enquanto trabalho não abraço a minha Mãe;
Se enquanto trabalho não leio Henry Miller;
Se enquanto trabalho não mergulho em minha alma;
Se enquanto trabalho não vejo filmes,
nem respiro o perfume das flores,
nem admiro uma obra de Michelangelo;
Se enquanto trabalho não escalo montanhas,
nem salto no escuro, nem tomo uma taça de vinho;
Se enquanto trabalho não medito, não danço, não ouço música,
nem respiro o sagrado ar da liberdade;
Se enquanto trabalho não sonho, nem pinto,
nem componho, nem desenho,
nem esculpo, nem declamo Lorca ou Neruda;
Se enquanto trabalho nem sequer me lembro
dos vinte poemas de amor
e das canções desesperadas;
Se enquanto trabalho não parto melancias,
nem rezo ao meu Deus;

Se enquanto trabalho não faço nada disso,
então só me resta perguntar:

— O que é que estou fazendo aqui?





30.4.24

Pedido de desculpas

Ao ser levado a pedir desculpas por um erro cometido, o cérebro entende tal procedimento como um reconhecimento tardio de que cometeu um raciocínio mal feito. Esse raciocínio mal feito — que agora exige reparação, exige um pedido de desculpas — pode ter gerado uma opinião sem fundamento a respeito de coisas ou pessoas, ou até mesmo um julgamento em forma de ofensa. Então, o cérebro, ao voltar atrás num juízo emitido, registra que errou.

Se isso for eventual, o cérebro pode até compreender que certamente aconteceu apenas uma confusão momentânea. Porém, se a ocorrência de erros cometidos é exagerada, o cérebro vai registrando todas essas ocorrências — e acabará concluindo não ser capaz de tomar decisões apropriadas sequer sobre coisas elementares. E vai depreciar-se, inapelavelmente. Quanto mais pedidos de desculpas, maior será a autodepreciação. Entretanto, suprimir simplesmente o pedido de desculpas — após a consciência do erro e seu reconhecimento — não adianta nada. Seria uma supressão da conseqüência e não da causa. E nesse caso, agindo assim, tentando falsear a situação, além da depreciação inescapável pelos erros que comete, o cérebro também se sentirá um causador direto de injustiças. Ainda se sentirá responsável pela culpa gerada pelo gesto eticamente mal feito e não reparado. Ou seja, uma lástima.

(...)

Esse texto acima é parte de uma tese que pretendo escrever sobre o vício de julgar sem precisão. Que deriva de raciocínios falhos e pode acarretar tomada de atitudes arbitrárias — com possível arrependimento posterior e eventual necessidade de pedir desculpas pela suposta besteira cometida.

Atualizo AQUI.




29.4.24

Adoro fazer o Bem

Ontem eu ajudei tanta gente na rua, quando estava voltando do almoço, lá na Churrascaria Brasa Gaúcha, da Avenida Rio Branco. Todas as pessoas que eu encontrava eu transmitia energias boas para elas. Todas, uma a uma, conscientemente. As meninas sorridentes que atravessavam a rua, que seguissem livres e seguras para onde quer que fossem. O senhor de olhos tristes na calçada que poderia estar com fome, que conseguisse um bom almoço. O homem que vende livros na banquinha, que vendesse muitos. O soldado sério e meio estressado, que fosse feliz desde já. A senhora apressada com cara de viúva, que arrumasse um namorado sincero que lhe amasse por uns tempos. A criança com mochila da escola, que se torne um doutor de sucesso. A gordinha quarentona, que encontrasse um tarado bonito que lhe desse algumas noites de amor. E assim por diante... Foi uma experiência maravilhosa! Vou agora fazer isso todo dia. Embora já fizesse isso antes, era sempre algo pontual, e para determinadas pessoas apenas, e não em larga escala como foi ontem.


Edson. 20.04.2017. 03h33.





28.4.24

Analista de circunstâncias

Quando me perguntam sobre o que sou e o que faço digo apenas que sou um Criador. Tenho ideias, muitas, sobre vários temas, todo dia. Projetos, sonhos, invenções. Planos loucos, inclinados, geniais. Alguns são colocados em pedaços de papel, outros vivem no meu próprio coração. Muitos viram livrosamoresempresasrelaçõesconsultorias. O importante é que meu primeiro amor foi Marina, aos sete anos de idade. 

Hoje sou um analista de sistemas. Um analista de circunstâncias.

Mas meu primeiro empreendimento foi na área de calçados, também aos sete anos (fui engraxate, por duas ou três horas). Depois, a AJAN — Aliança Juvenil dos Amantes da Natureza — foi considerada subversiva pelos militares, que a fecharam. O meu time de futebol durou só dois anos, pois concluí que era melhor continuar sendo o craque do time do que ser apenas o dono da bola. O Restaurante, aos dezesseis, em cuja construção aprendi com meu pai a beleza do piso cerâmico em diagonal, continua funcionando até hoje. O terceiro projeto comercial, aos 22 anos, a K-Misster, virou minha segunda empresa — que abandonei de modo romântico e poético como se pode ler dando um click na imagem seguinte: 




Como já disse acima, aos 22 anos eu montei minha segunda empresa. Uma confecção. O nome era K-misster, e ficava na Avenida Nacionalista, número 100, Itaquera, SP. Aluguei um galpão, comprei doze máquinas na rua São Caetano, montei um bom estoque de tecidos, que comprei na 25 de março, contratei dezessete costureiras e soltei o meu barquinho em alto mar. Eu também desenhava os modelos. Cheguei a vender, entre outros, vários lotes para as Lojas Piter, que ficavam ao lado do Teatro Municipal. Mas a fábrica era muito longe, e eu queria curtir a vida e estudar filosofia... Depois de três ou quatro meses larguei tudo. Dei as máquinas para as costureiras, comprei um carro conversível — e saí pelo mundo. Viver novas experiências.

Deu certo.

26.4.24

Tempestade de desejos

Deverei assumir a inconsequência e o risco dos meus sonhos e projetos coloridos, ou deixar que esmaguem no meu peito a gostosura das paixões enlouquecidas?

Devo permitir que as vontades puras que tenho em mim sejam cada vez mais satisfeitas, ou submeter meu coração apaixonado às regras neuróticas de outros?

Assumo o compromisso com essa estética erótica que permeia toda a minha existência — e a torna melhor — ou devo aceitar essa volta ao passado, essa negação amargurada, ridícula, normalizante, precária; essa renúncia desajustada e caótica de um futuro brilhante que trago em mim?

Poderei continuar sendo um fogoso corcel negro em disparada, ou conseguirão eles (os moralistas, os conservadores, os donos da força bruta...) fazer com que morram, por perigosas, essas paixões que me libertam?



Saberei eu manter minhas dúvidas racionais enquanto caminho amorosamente por esta fascinante tempestade de desejos?



24.4.24

Não é fácil ser livre

 

Escrevi isto em 31.01.2008. Há exatamente dezesseis anos.


A liberdade é perigosa.

A vida livre é muito arriscada.
A vida livre é uma delícia inesgotável,
mas é também muito insegura — e cheia de surpresas.
Cheia de danças perigosas, de buscas e mudanças,
de riscos e de voos, solavancos, desafios...
Só quem ama a liberdade sobre todas as coisas
é que pode ser livre de verdade.

Só quem dirige o próprio destino
é capaz de arriscar a vida para salvá-la.

Portanto, a liberdade não é pra qualquer um:
os covardes, os medrosos e os coitados,
os dependentes, os desanimados
e todos os que foram educados só pra obedecer
— estes jamais serão livres.

A liberdade é muito perigosa.

23.4.24

Vogelfrei

SOU APENAS UM PARDAL

Em alemão, pardal é Vogelfrei — que quer dizer "pássaro livre". Mas, antes de continuar contando essa minha história, vou te cantar uma coisa muito importante. Existem, por aí, alguns pardais em gaiolas, mas não aqueles que são naturais: estes não se deixam prender. E ninguém sequer pensa em prendê-los. Os pardais engaiolados são aqueles que têm falsas plumagens — e é por isso que são pegos. Eles se mostram demais. Usam correntinhas no pescoço, braceletes, anéis de aço no dedo anular... E se esquecem de voar, pois pensam que as asas são apenas enfeites que devem ser colados ao próprio corpo. Esses se ferram, em todos os sentidos. E só se descobrem livres quando já estão engaiolados. Mas então já é tarde demais.

Sem exercício, a liberdade morre.


Esboço que fiz há exatamente oito anos.


22.4.24

Eu mereço teu Desrespeito

Eu mereço um pouco do teu desrespeito! Abra-me de todas as maneiras, desdobre todos os meus vincos, acaricie-me todas as entranhas, preencha de luz os meus dois corações. Desamarre-me, invada-me, quebre-me as regras e os medos, agarre-me pelos cabelos... Jogue-me nesta cama louca chamada Vida. E me ame — desesperadamente. Eu mereço ao menos um pouquinho desse teu tão amável desrespeito!



Original escrito há quase doze anos, em 11.09.2012.

19.4.24

Meu Pai e os girassóis

 

A melhor lição que meu Pai me deu.

Se. Eu. Não. Estudar. Eu. Vou. Me. Foder.



MESTRE ZEN COM VARA DE MARMELO

Meu pai era racional demais, disciplinado demais, e ético demais. Dominava o cálculo, era íntimo dos números, ensinou-me a tabuada do 13 quando eu tinha sete anos. Quem não sabe a tabuada não vai longe, ele me dizia. Nasceu para o comando. Era dono de uma violência verbal impressionante — e nunca deixava pra depois as broncas que pudesse dar. Exagerado, tinha seus momentos de loucura: de vez em quando mandava fazer almoços festivos para crianças pobres. Era comum se reunirem duzentas ou trezentas em nosso restaurante. Absteve-se do jogo, não fumava, mas bebia um pouco mais do que eu supunha o certo. Com duas exceções, nunca o vi de fogo. Ele nunca nos disse que gostava de poesia, mas certa vez mandou que plantassem trezentos e sessenta pés de girassol no fundo do quintal da nossa casa. Depois que as plantas cresceram, ele ficava toda tarde um tempão lá no fundo, sentado num banquinho improvisado de madeira, sorrindo, encantado, tomando vinho vermelho — e olhando os girassóis girarem... Meu pai, portanto — e no fundo — talvez não fosse apenas um simples comerciante atarracado e ex-delegado de polícia. Talvez fosse um poeta. Pena que não teve tempo de ficar completamente louco: morreu aos 49, por erro de um médico que tinha a morte até no nome.

O vinho é feito de agulhas, meu copo um dedal. Costuro à mão pedaços da infância — com eles faço um lençol. Peço à Lorenna que me cante cantigas de natal da Idade Média, e ouço a Singer rangendo seus pedais no meu CD. Minha mãe também costurava com linhas de cor, pregava remendos bonitos, trocava meus botões, lavava roupas de amor. Vejo até sabão de cinzas no fogo forte que tanto me arde agora no rio do peito, espumas de lembranças incendiadas.




Carta que escrevi a ele em 28.02.1978.


RECOMENDAÇÕES DO MEU PAI

Além das suas recomendações sobre sempre respeitar a propriedade alheia — e nunca usar sapatos velhos — há outras dele das quais agora me lembro:



2. Não carregue pacotes.
4. Seja dono do teu próprio negócio.
5. Beba pouco.
6. Estude bastante.
7. Não fume.
8. Não transe com as empregadas.
9. Não minta — exceto se for para salvar a vida.


Quando morreu, ele trazia no bolso, na carteira de couro marrom, uma carta, dobradinha, meio amarelada e com sinais evidentes de muitas leituras. Não sei onde pode estar o original. Talvez tenha tido o mesmo destino daquelas fotos que as doentes rasgaram. Felizmente a memória não se perde. Não é possível rasgar uma lembrança, destruir um símbolo, esconder um coração. Manifestações de amor, como essa do meu Pai ao carregar minha carta consigo — até no dia da sua própria morte —, não se apagam. É uma honra para mim.





Hoje, 19 de abril, é aniversário dele.

17.4.24

Vinhos e flores

A vida é uma delícia.

Ainda nem era meio-dia hoje de manhã, e já estávamos tomando vinhos perante um hibisco recém-colhido no Jardim da Casa Azul.


E eu fico aqui pensando sobre meu Bisavô Luiz Marques...


O mestre Antonio Abujamra intepreta aqui o texto que escrevi sobre meu bisavô.



SOU BISNETO DA REBELDIA


Meu bisavô, aos sessenta e dois anos de idade, na década de trinta do século passado, abandonou tudo e apareceu por aqui trazendo no colo uma adolescente chamada Vitalina Maria de Jesus. Um despropósito, disseram todos. Mas o verdadeiro rebelde não hesita entre viver e morrer. O velho Luiz Marques, atolado numa estabilidade massacrante, não havia desistido de procurar aquela coisa que atende pelo singelo nome de felicidade.

Gastou janeiro fazendo planos, um mês inteiro ouvindo vozes, que nem Moisés. E aquela menina passando ali, na frente dele, feito convite, descalça, vestidinho de chita, cabelos soltos, meio ressabiada... Os peitinhos despontando. Então o fazendeiro abandonou tudo: as propriedades e as impropriedades que a elas se ligam, a esposa controladora, os filhos perplexos, as fazendas, as noras, os netinhos, os novilhos e as velhas emoções.

Tudo por causa de Vitalina.

Por aquela menina delicada ele daria o mundo. Por ela, e pelo que então simbolizava aquele amor, ele abandonou mais de mil cabeças de gado e todas as certezas que lhe haviam dado como herança. Era um autêntico rebelde: acabou trocando o futuro garantido e certo, porém morno, por um presente delicioso e faiscante.

Jogou fora o velho baú de premissas usadas, quebrou as algemas — e caiu na Vida. Trocou um milhão de verdades antigas por uma pequena mochila de sonhos. Porque, você sabe, não dá para salvar a alma sem antes salvar o corpo. E o que mais excita o ser humano é a possibilidade aberta de uma nova vida. O respeitável senhor Luiz Marques tomou aquelas decisões que só os grandes homens conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto e partiu! Pois ele também já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que abandonar a própria existência naqueles caminhos já percorridos.

Não fosse por isso, eu não estaria aqui, agora, à beira do mar, tomando um belo copo de vinho branco e contando essas coisas todas pra você.

Sou portanto bisneto da rebeldia.

Sou bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores.

E existo, por incrível que pareça. No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas.






O texto acima abre meu livro Manual da Separação. Caso queira saber mais, click na imagem da capa:

16.4.24

Os fundamentos de um sonho

Planejamento cuidadoso, disciplina absoluta e flexibilidade conceitual. Sócios brilhantes, capital de sobra, e um excelente sistema de informações. Marketing eficiente, prospecção de mercado, captação de clientes, competência operacional, e boa estrutura administrativa. Comunicação constante. Parceiros confiáveis. Ampla terceirização. E uma rotina de pós-venda de primeira classe.

Eis os fundamentos ☝️ para o sucesso de uma empresa que certamente será grande.

É assim que estou criando as minhas próximas:








Eu adoro a Matemática desde pequenino. Aos oito anos eu já sabia a tabuada do 15 e a regra de três. Aprendi a descontrolar meu mundo com o Teorema de Pitágoras. Aos dez, já era íntimo de PA e PG e de equações exponenciais. Depois, me apaixonei pela Lógica de modo inescapável. Mais tarde, na USP, virei amante excitado da Estatística e da Teoria dos Nós. Vibrei com Fibonacci, e fui fazer computação. Mas tudo isso abraçado a flores e estrelas, e sem jamais abandonar a Poesia. E foi assim, dançando nos versos dos meus sonhos, é que descobri a existência de uma coisa gloriosa, que se chama Divina Proporção. O modo mais brilhante de levantar uma parede ou desenhar uma calçada. O modo mais gracioso de colocar as vogais tônicas nos meus cantos e poemas, e o modo mais elegante de massagear os pés do meu amor.


Foto da camiseta de um amigo meu.


14.4.24

Rotinas prazerosas

Também tenho certas rotinas. Todos os dias acordo naturalmente. Abro a janela do meu peito, sorrio, gargalho, saúdo-me, estico-me, alongo-me, beijo-me. Amo-me, loucamente. Celebro-me! Dou uma espreguiçada orgástica, felina, demorada, inspiro fundamente muitas vezes, faço yoga, leio algo leve, como Lorca ou blog Mude, excito meus neurônios, faço alguns planos, desfaço muitos outros — e então me levanto, em todos os sentidos. Arrumo a cama zen que me abraçou a noite toda e beijo a imagem de quem me deu a vida. Dez minutos de pilates, mil e quatro socos poéticos no ar, e me torno Bruce Lee. Nem sequer me lembro da palavra pressa. Arrumo as flores, rego as plantas, rasgo alguns papéis, falo sozinho, canto, giro e danço...

Viro uma festa.

Depois, medito com ajuda de Beethoven, como fosse um jogo. Faço café com amor e água benta, quase fervida na chaleira que ganhei de minha Mãe. Aprendo uma palavra nova numa língua diferente, e então me sento aqui, ao lado do segundo pé de lírio, pra te contar os meus sonhos.

Mais tarde, vou ver o mar azul do Guarujá — e caio no mundo...

É a vida!











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12.4.24

O professor

A tabuada não basta. Como não bastam funções hiperbólicas, logaritmos, variáveis complexas, orações subordinadas. Não bastam Euclides e sua geometria, não bastam as teorias. O professor deve ensinar ao aluno a arte de viver com dignidade, com amor, com liberdade.


Não basta falar das guerras, das batalhas, das conquistas — tem que ensinar o aluno a conquistar-se primeiro a si próprio. Ensinar-lhe medir distâncias é pouco — necessário vencê-las. Não basta saber o nome dos rios, temos que fluir. Equações algébricas não resolvem tudo, antes é preciso resolver-se. Em vez das mentiras históricas, o professor deve ensinar as verdades, e o melhor modo de encontrá-las.


Não basta falar de política, o professor tem que ser democrata. Deve olhar nos olhos do aluno e dizer-lhe como a vida é. Aumentar-lhe a coragem de crescer. Ensinar-lhe a lógica das emoções e o amor pelo raciocínio. O professor transmite sabedoria, incentiva o bom senso e o bom gosto. Mergulha fundo no oceano de dúvidas que o aluno tem no coração, e traz o tesouro pulsante lá submerso. Educa, orienta, aviva a chama na consciência de cada. Ao polir a pedra bruta consegue intenso brilhante. Bom professor é aquele que não exige, não cobra — obtém. Não corrige — mostra o porquê. Não hesita quando avalia, não constrange quando examina. E nunca faz da nota uma espada.


O bom professor não só ensina, compreende. Não levanta a voz, amplifica o verbo, convence. É sério — mas ri da própria seriedade. Fala do êxtase, da alegria e da profunda emoção que explode no seu peito quando ensina, como pétalas no riso de quem ama.


O professor mostra ao aluno a diferença entre o silogismo e a serpente. Ensina-o a extrair raiz quadrada com poesia. Demonstra como ser ousado sem ser burro. Jamais abusa da confiança do aluno, não lhe invade o espaço, não procura condicioná-lo. Não cria relações de dependência, nem exerce dominação sádica sobre ele. Infunde-lhe o respeito absoluto pela vida. Prefere o aluno criativo ao bem-comportado. Nunca o explora, é só o conquistador de um novo mundo, que leva o aluno a ver mais — mais alto e mais longe.


Não levanta paredes em torno do aluno, e sim derruba aquelas que houver. Abre-lhe as portas da vida, com veemência. Não o repreende, não o censura, não o recrimina. Mostra ao aluno a importância da inteligência na determinação do seu futuro. O velho dilema entre a caneta e a vassoura...


Como Sócrates, o bom professor não vê glórias no que sabe, não esconde o que conhece, nem oculta o que possa não saber. Brinca, tem confiança em si, e não faz da escola uma cela.


Moderno, convence o aluno a saltar os muros da tradição, porque a aventura está sempre do outro lado. Lógico, respeita aquele que aprendeu a questionar. Não o sufoca com preconceitos nem com juízos de valor. Nem lhe causa medo algum. Transmite confiança, pega na mão, aplaude, incentiva, suporta, conduz, ampara na travessia. Não é hipócrita, faz o que diz e diz o que pensa. É um farol que não vela o que descobre. Mostra um caminho. E não apenas mostra — demonstra, comprova, define.


Aranha em teia de luz, o professor não prende — liberta. Carrega o giz como fosse uma flor, com amor. E quando faz a linha tem firmeza, mas não separa. Ora Dali, ora Picasso, vai colocando a tinta, pondo seu traço, amando seu gesto, compondo a canção. Enaltece o risco do sonho, o círculo do fogo, a pureza da alma, o princípio da vida, o anel da esperança.


Considera o aluno obra de arte quase inacabada. Ama-o como se fosse um anjo. E nunca vai matar-lhe no peito a vontade de ser livre.


O professor é o amigo sincero que ajuda o aluno a superar os limites da vida, desbravando com determinação e ousadia essa fantástica região chamada Experiência.



Enfim — o professor é o Mestre.




www.EdsonMarques.com


Hoje eu conheci a Professora Guilhermina, que deu aulas no Rodeio. Ela precisava até de um banquinho para subir na carroça que a levava até a escola. E esta publicação é uma homenagem a ela.




O novo livro a ser lançado em Julho de 2024.


10.4.24

Vaso de lírios

Já comi ¾ de laranja e uma banana caturra, tomei meio copo de leite frio e 252 ml de água benta. Também já dei banana aos sanhaços e aguei os espíritos amorosos que moram nos pezinhos de lírio — que agora são onze...

Ainda no mesmo vaso tem dois pezinhos de laranja e dois de melancia, que brotaram espontaneamente, e viçosos.

Vou agora fazer um café colorido em homenagem a um dos meus dois ancestrais preferidos: Leonardo da Vinci.

Depois, descerei ao mundo para ampliar meu foco.

É a vida.

🔴

Escrito em 09.04.2013.





9.4.24

Respeitar os amores

Eu respeito sempre os meus amores. Assim mesmo: no plural. Tenho muitos. Sempre os tive. Mas, quando eu digo "respeitar os meus amores", às vezes refiro-me às pessoas que eu amo, outras vezes às coisas que eu sinto.

Portanto, respeitar os amores, tanto pode significar respeitar as vontades (desejos, critérios, preconceitos) de pessoas que eu amo (e que às vezes suponho que me amem), quanto seguir livremente as paixões (desejos, critérios, loucuras) que eu trago no meu próprio peito, e são só minhas.

Dito de outra forma:


💙


8.4.24

Sete personagens à procura de Mim

1. A trajetória da minha vida nem sempre coincide com a trajetória dos meus sonhos. Mas eu vivo procurando juntá-las.

2. Todo poeta é gerado com orgasmo. Aliás, "Espírito Santo" é a melhor metáfora para Orgasmo que alguém já conseguiu imaginar.

3. Comer o pão que o diabo amassou é um horror. Mas, muito pior, é amassar o pão pro diabo comer.

4. Acho impossível ter duas vezes a mesma tesão pela mesma pessoa numa única vida.

5. O amor é um alimento perecível. Às vezes, para que não apodreça, tem que ser guardado no freezer.

6. Que vontade de comer de novo aquela flor de abóbora à espanhola, feita por minha mãe!

7. Não adianta viver atrás do Sonho. Muitas vezes, é preciso ir à frente dele.

8. A palavra Google está contida em "George Orwell"...

9. Não é fácil ser aventureiro... Primeiro jogar o coração no abismo — e só depois saltar atrás dele. Não é fácil.

10. O casamento só viceja em catacumbas.

11. Existem três tipos de amor: o da mãe por seu filho, o do homem pelas mentiras, e o meu por você.

12. O excesso, a excentricidade e os milagres: nós temos essas três coisas, incomuns.

13. Minha Mãe queria que eu fosse um filho pródigo. Meu Pai, um filho prodígio. Para não desrespeitá-los, tive que ser ambos, simultaneamente.

14. Por que não fiz vasectomia? Ora, porque um dia ainda posso ter um filho, cujo nome será Lúcifer Marques. E, se for menina, espero que a mãe concorde com o nome que já escolhi: Estrela Viva Marques de Alguma Coisa.

15. Claro que me arrependo de um monte de coisas que já fiz. É preciso ser imbecil completo para não se arrepender de nada.

16. Meus cinco maiores sentidos são os meus cinco maiores amores.

17. Jesus, ao defender Madalena naquela maravilhosa cena do apedrejamento: "Que atire a primeira pedra aquele que ainda não a pegou".

18. Jesus deve ser sempre respeitado. Eu o respeito ao meu modo. E se isso não te agrada, é uma pena.

19. O amor é uma curva.

20. Eu tinha um cavalo chamado Estrela.

21. Segundo a OMS - Organização Mundial da Saúde, a adolescência começa aos dez anos. A minha começou aos sete. Em quase todos os sentidos: eu já trabalhava no armazém do meu pai, somava as contas de cabeça, comia pão sovado o dia inteiro, e nunca roubei no peso. Ah, eu também já amava Marina, em todos os sentidos...

22. Eu procuro nascer de novo em todos os lugares onde sou estrangeiro.

23. Minha Mãe até hoje não entende muito bem por que, no dia em que eu nasci, chegaram à nossa casa aqueles três desconhecidos trazendo ouro, incenso e mirra.

24. Acabo de ligar pra Joyce Ann em São Paulo. Ela está escrevendo um livro cujo título é "Coração Diamante".

25. Às vezes, uma pergunta simples pode exigir uma resposta complexa.

26. O caminho que eu tomei, eu não sei onde vai dar. Só sei que é meu e livre.

27. Rosângela publicou hoje a minha frase:
"Quero ser livre, meu Amor: arranca-me de dentro de ti."

28. Por que quase parei de escrever "The Master of Jesus"? Será que devo transformar em peça? Ligar pro Abujamra. Tenho que terminar a peça pra ele!

29. Tem dias que altero Paulo Leminski, outros altero Fernando Pessoa. Quem sou eu para deixá-los sozinhos?

30. Que me desculpem o narcisismo, mas às vezes eu preciso falar de Mim na primeira pessoa.

31. Musa não tem sobrenome.

32. Jesus era um garoto judeu travesso que só ele. Com seis anos quebrou a moringa, e teve que trazer água nos panos da camisa. Milagre ou metáfora? Ou esperteza de criança: torceu a camisa no pote...

33. A liberdade deve ser conjugada e não adjetivada.

34. Minha loucura é crística.

35. Navalha de Occam. A explicação mais simples para o mesmo problema? Estudar também o Princípio do Duplo Efeito.

36. Suzana tinha o cheiro de jasmim florescendo em noites de luar.


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Essas coisas eu as escrevi em 01.02.2008, entre 13h e 16h, enquanto almoçava num restaurante nordestino, o Pedra Baiana. Mostra um pouco do meu processo criativo. São idéias que anoto, como surgem. Não alterei nada: só as transcrevi, numerando-as. Embora possam ser refinadas mais tarde, algumas jamais serão publicadas. Foram escritas nas páginas iniciais do livro "Vida", do Paulo Leminski, que eu estava lendo. Parte delas irá para o livro The Master of Jesus, que escrevo em parceria com Paritosh. Quando o vinho acabou, tomei dois cafezinhos e voltei pra ver as obras do Brasil Colonial.



Ressalva em benefício da minha sanidade (ou da minha Loucura): certas frases serão ditas por personagens do meu livro "The Master of Jesus".

A frase número 11 é quase toda de James Joyce. Ele disse que "só existem dois tipos de amor: o da mãe por seu filho, e o do homem pelas mentiras". Não concordo, mas é uma frase de efeito. Também por isso, acrescentei o terceiro tipo.

Certas anotações são de agenda, mas resolvi mantê-las na ordem em que foram escritas.



Eis a obra que eu estava fazendo em Fevereiro 2008.

5.4.24

A criança


Hoje eu quero de volta a bicicletinha vermelha que ganhei do meu Pai. Quero de novo abraçar minha Mãe e comer o manjar de bananas que ela fazia pra mim. Quero ser recebido com festa pelo Swing quando eu chegava da escola. Acariciar com raspadeira de alumínio os pelos macios do Estrela, meu alazão espanhol. Quero jogar bolinha de gude na rua São Pedro, e depois comer queijo assado na palha de milho na casa da Vó Vitalina. Hoje eu quero de novo minha vida um carrossel. Quero torná-la roda gigante, girassol, montanha russa outra vez.


Sem colírio, chorarei.


Eu descendo de mim.


Foto minha aos seis meses de idade, 
feita por Gustav Jansson.

3.4.24

Momentos de cetim

Cruciais e deliciosos, estes momentos que atravesso e que hoje me tocam docemente. A vida encontra-me agora voando nas asas da coragem. Minha profissão é gloriosa: Sou amante do Risco e do Instável, do Incerto e da Surpresa. Entre um largo muro de cimento preso ao chão e a corda bamba de seda à beira do abismo — opto por esta, sempre. Sou um trapezista alucinado e racional no escandaloso Circo da Emoção. Todos os meus saltos são imortais, alegres e profundos. Eu viro a lona azul do céu que me descobre pelo avesso. Meu coração não tem juízo... Como poeta libertário, seria pouco não fosse assim. Porque não tenho razões para ser de outra forma. Se posso ser tudo, não preciso ser médio nem comedido — e não quero ser nada além de mim. Amo a Liberdade como se não pudesse amar outra coisa. Não consigo mais viver em conta-gotas: eu agora só vivo aos borbotões.




31.3.24

Aniversário da Mãe

Hoje (*) é aniversário da minha Mãe. E agora me lembro das canções de ninar que ela cantava para que eu não dormisse — do Kyrie Eleison ao Noel Rosa. Eu me lembro do conselho que sempre me deu: que eu nunca deixe de ser Eu. E me lembro do dia em que eu nasci: era um dia de duplas esperanças. Era uma noite de luar azul escandaloso. Era um sábado de aleluias e esperas, de poesia e de romance. Era uma casinha de madeira e primaveras, ao lado de uma roseira branca, no finzinho de uma rua principal. Era hora de metáforas, era hora de loucuras. Como toda musa entusiasmada era fora deflorada com amor e alegria por um louco jogador — que se chamava Lúiz. Era outra vez madrugada e ela encantada outra vez. Foi então que essa Mulher sagrada decidiu me dar A Luz. E deu. Era o começo de duas histórias de Amor.


Essa foto foi feita há 13 anos. Logo, ela está hoje cerca de 19,75% mais velha. Mas continua saudável, sorridente, bem-humorada. Aliás, eu nunca vi minha Mãe triste. Sempre cantando, sempre alegre, agitando as circunstâncias. Nunca brigamos, eu e ela. Nenhum tapinha, nenhum puxão de orelhas, nenhum grito. Nós dois sempre nos compreendemos um ao outro. Como sou-lhe o primogênito e (suponho) ainda o preferido, há toda uma mitologia em torno disso... rs! Acho que até Einstein explicaria melhor do que Freud essa nossa maravilhosa relação de Amor.

(*) Texto escrito em 02.01.2013.



29.3.24

A Nova Páscoa

Segundo a Bíblia, Jesus ressuscitou após três dias da sua morte biológica, num processo de religação do seu corpo à sua alma. E na Páscoa celebra-se exatamente isto: a volta de Jesus ao mundo matematerial, levantando-se do seu sepulcro, e ressurgindo perante Madalena, primeiramente (João 20:10-18). Esse retorno, essa passagem de volta a este mundo, essa ressurreição é comemorada na Páscoa.

Tal concepção de ressurreição está na Bíblia, explicitamente, e é assim entendida por todos os teólogos e cristãos nos últimos dois mil anos. Mas eu defendo uma tese diferente. Para mim, a verdadeira ressurreição de Jesus foi quando Ele morreu. Quando ele deixou esta vida e renasceu para a outra. Para aquela de onde ele supostamente veio.

Esta é a minha tese. Como Jesus foi o maior criador de metáforas, um mestre das parábolas, entro no jogo dele e crio uma nova. Quando se diz “ressuscitar”, isso, segundo aqui proponho, quer dizer “renascer para a outra vida” — não para esta. Não é o retorno a esta, mas o retorno à outra.

(...) 

A Bíblia relata dez casos de ressurreição: três no Antigo Testamento e sete no Novo. A Bíblia (em Mateus 28:5-6) diz claramente que Jesus ressuscitou dos mortos:

"Mas o anjo disse às mulheres: Não temais vós; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Não está aqui, porque ressurgiu. (...) Vinde, vede o lugar onde jazia."

Ou seja, segundo a Bíblia, o Corpo deixou o sepulcro e viveu novamente. E depois teria sido visto, andando, por muitas pessoas, incluindo Madalena e os apóstolos.

28.3.24

Os gatos da Casa Azul


Click na imagem para ver detalhes.
Bolinha (Snow), William Blake (Fumaça) e Max Von Braun (Pequerrucho). Até agosto do ano passado eram cinco. Viajei, eles se sentiram meio abandonados, sumiram, mas agora estão voltando. Amorosamente.


26.3.24

Dois caminhos



Ou você segue o caminho da Tristeza,
arma-se de medo e de falsas alegrias,
arma-se de angústia, fecha os olhos, se acomoda,
e segue o rebanho dos que não sabem;
obedece a regras injustas, não reage, não questiona,
não se aprimora, não lê, não significa,
nem percebe o absurdo em que se mete.
Vende a própria natureza
por duas ou três moedas de aço,
troca a inocência pela responsabilidade apressada,
torna-se respeitável aos olhos da sociedade,
cumpre horários, nunca tem tempo,
preocupa-se com coisas banais.
Comerciante das próprias emoções — já não brinca,
vive correndo, ama com pressa,
esquece-se da lua,
e se torna uma pessoa média, mediana, medíocre,
pequena, cansada e normal...


Ou você escolhe o caminho da Ousadia,
compreende, se aprofunda, vai mais longe, realiza,
respeita o ser humano que existe em você mesmo,
resgata a própria vida e o sorriso,
rompe de vez com o passado agonizante,
procura defender a verdade, a justiça e a poesia,
acorda e assopra o fogo da alma que dormia,
cavalga o cavalo negro, cego e alado
das paixões gostosas e sublimes,
enche o peito de coragem, corações e relâmpagos,
acende de novo esse vulcão que é o teu corpo,
deixa a própria cabeça plena de agora,
de ternura e de vertigem,
e parte em busca de Aventura, de Amor e Liberdade.


É uma simples questão de escolha.


Qual é o teu caminho? 









21.3.24

A nova Vida

Às vezes nós temos que desistir da nossa vida antiga. Das velhas razões. Das velhas relações. Das velhas emoções. Desses móveis quadrados que nos imobilizam...