18.1.25

Jó perdeu quase tudo

O Livro de Jó


Jó havia perdido tudo: a esposa e as amantes, o gado, os filhos, a lavoura e as empresas. Perdeu seus camelos, suas tendas e colares. As carroças conversíveis e os cartões de crédito. Seu mundo começou a ruir. E Deus ainda teve a maldade de cobri-lo com lepra da cabeça aos pés. Jó ficou sem a casa e o jardim, sem o churrasco e a cerveja, sem a música, sem champagne, sem morangos. Na miséria mais absoluta. Sem café e sem Drambuie...

Seus amigos — como sempre acontece! — desapareceram. Até seus irmãos o desprezaram.

Jó perdeu tudo, mas não perdeu a autoconfiança. Perdeu tudo, menos a fé — que era exatamente o que Satanás queria que ele perdesse.

Você sabe da história: Deus apostou com Satanás. Aliás, segundo a Bíblia, essa foi a única aposta que Deus já fez em toda sua vida. Então a esposa de Jó, ciumenta, pede-lhe que amaldiçoe Deus — e que morra. Como você vê, já naquela época o casamento acabava em pancadaria. Depois, ainda chegam três amigos que ficam sete dias e sete noites reclamando no ouvido de Jó. Visita de sete dias é um horror; amigo reclamando, então, nem se fala. E Jó, mesmo assim, não amaldiçoou Deus, não — de jeito nenhum.

Mas quando ficou de saco cheio daquela situação, resolveu agir, decidiu confrontar Deus. Subiu ao topo da montanha mais alta que havia naquelas bandas, e gritou: "Deus, o senhor tá me fodendo, mas eu nunca pequei, não mereço passar por isto. Sou inocente!"

E Jó louva Deus.

E Deus então fala com Jó através de um trovão. Deus usa metáforas, você sabe. Às vezes metáforas ribombantes... Deus manda sinais — e não é todo mundo que os entende. Deus não fala português. A presença de Deus impressiona Jó, mas Deus não lhe dá as respostas que ele queria. Deus usa uma linguagem poética, e lhe pergunta: "Jó, onde o caminho da morada de quem engendra a geada do meu céu?"

Jó fica pensando. E mesmo sem ouvir as respostas que buscava, Jó tem um insight. Jó se transforma espiritualmente, se arrepende, aceita o seu destino, aceita as suas dores. A sua sina. A sua cruz.

Então Deus começa a devolver tudo o que Jó havia perdido: os camelos, as amantes, as tendas, os cartões de crédito, a saúde, as carroças conversíveis, a alegria de viver — e até mesmo o celular e os licores. Mas quando chegou a vez da esposa, Jó gritou: "Essa, não, meu Senhor. Essa não!"


E Jó voltou a viver — cheio de graça e alegria.
E dormindo sozinho numa casa de casal.
Dizem que chegou aos 140 anos...
Feliz da Vida!




O Livro de Jó é radical.

Portanto, antes que a nossa hora chegue, eu gostaria que você pensasse um pouco mais no Livro de Jó. Na aposta de Deus com Satanás — esse duelo de titãs. Como é que foi parar na Bíblia essa grande obra literária? A principal questão do livro de Jó, filosoficamente, é esta: Qual a razão do sofrimento humano? É bom lembrar que estávamos no ano 400 antes de Cristo, mais ou menos. E o autor dessa história ninguém sabe quem foi. Mas era um gênio da literatura, o Shakespeare da Bíblia. Fosse hoje, teria criado um blog chamado Mude a Vida.


Edson Marques.
Minha respeitosa versão.
Do meu livro Solidão a Mil – página 352.






Uma Crítica - Por Felipe Fanuel

Salve!

É com bastante alegria que leio esse texto. Muita coisa interessante! Suas leituras revelam sempre um lado desconhecido de qualquer hermenêutica: a sensibilidade poética de ler detalhes, perceptíveis apenas por gênios que sentem a vida antes de serem sentidos por ela. Essa idiossincrasia nos insere no seu mundo, literário por essência, porque você quer ver a realidade do jeito que ela é, não como um meio, tampouco como um fim, mas como ela é, como vida. É por isso que seu blog nos faz pensar, nos incomoda, faz-nos ridículos diante da tela, provoca problema de vista. (Na vida real, a gente vê uma cadeira e acha que é para sentar, ponto. Aqui você pinta a cadeira e diz que ela é só cadeira, nada mais, pois a sua condição é ser cadeira.)

Sabe. Seu comentário de Jó mostra uma aproximação extremamente radical com a narrativa. Na verdade, você constrói uma outra narrativa a partir da narrativa. Que se dane o Jó histórico (ele existiu?), você quer o Jó literário! Aquele Jó parecido com muita gente hoje: tinha tudo, hoje tem nada. Personagem arquetípico é, portanto, já que não há sociedade onde não se prega a consciência de que quem tem muito deve-se cuidar para não ficar na lama. A aposta divina com o cão merece um romance. Aí tem coisa! Vale a pena botar a pena no papel. De quebra, a sua aplicação filosófica do livro no final denuncia uma quedinha sensível (que há muito eu já desconfiava) pela ontologia. Afinal, a pergunta "qual a razão do sofrimento humano?" já está repleta de respostas. O autor do Livro de Jó seria mais insolente. Sua ontologia é mais confrontativa do que questionadora. Sua ontologia é mitológica. Religiosa, diríamos apressados. Mas esquecemos que no mito, na resposta, já está a pergunta existencial profunda, do mesmo jeito que hoje, na pergunta, já está a resposta.





15.1.25

Calçadas do Brasil

Planejamento cuidadoso, disciplina absoluta e flexibilidade conceitual. Sócios brilhantes, capital de sobra, e um excelente sistema de informações. Marketing eficiente, prospecção de mercado, intensa captação de clientes, competência operacional, e boa estrutura administrativa. Comunicação constante. Parceiros confiáveis. Ampla terceirização. E uma rotina de pós-venda de primeira classe. Eis os fundamentos para o sucesso de uma empresa que certamente será grande.







Click acima para ver fotos de 30.08.23.





Almoço que fiz hoje.



Talharim Bonalle, com picanha suína, alho cozido, champignon e cebolinha, tudo sob uma torre generosa de parmesão ralado.






Quase 600 páginas, encadernadas com entusiasmo.


Mas tem dias que eu tento conter este divino coração que salta profundo de mim, e que me beija dançando de dentro pra fora. Amantíssimo, poético, livre — e meu: eis o meu coração, meu amor: escancarado em teus braços... Porque em mim agora não existem outras estações. A primavera toda cresce dentro do meu peito, e as flores já não murcham mais. Sou um trem desgovernado em direção ao interior. Zen, vazio de tudo mas cheio de graça, com seu louco motivo e doce razão. E o apito sinuoso que se ouve daqui, reto, respeitoso, se curva.


Também não quero que me considerem muito original: eu apenas repito o que me dizem os pássaros livres no quintal azul da minha Mãe. Transformo em português, literalmente, os cantos que eles cantam para mim. E repito-os para que vocês possam ouvi-los de verdade em nossa língua. Às vezes, quando chove chuva e o canto deles vem molhado, limpo um pouco o seu trinado, acrescento algumas notas, pinto-as de vermelho, reescrevo a melodia. E transformo o bem-te-vi em bem-te-vejo. O beija-flor em minha estrela. O pardal em perdão, o tiziu em tesão. E abro todas as gaiolas.



Todos os dias.










Momentos de cetim

Cruciais e deliciosos, estes momentos que atravesso e que hoje me tocam docemente. A vida encontra-me agora voando nas asas da coragem. Minha profissão é gloriosa: Sou amante do Risco e do Instável, do Incerto e da Surpresa. Entre um largo muro de cimento preso ao chão e a corda bamba de seda à beira do abismo — opto por esta, sempre. Sou um trapezista alucinado e racional no escandaloso Circo da Emoção. Todos os meus saltos são imortais, alegres e profundos. Eu viro a lona azul do céu que me descobre pelo avesso. Meu coração não tem juízo... Como poeta libertário, seria pouco não fosse assim. Porque não tenho razões para ser de outra forma. Se posso ser tudo, não preciso ser médio nem comedido — e não quero ser nada além de mim. Amo a Liberdade como se não pudesse amar outra coisa. Não consigo mais viver em conta-gotas: eu agora só vivo aos borbotões.









13.1.25

Pessoas normais

Se você disser que é infeliz, ou que tem um grave problema (de saúde, de dinheiro ou relacionamento), quase todos acreditam, e chegam até a te oferecer um ombro consolador. Muitas vezes hipocritamente, mas oferecem.


Mas se você disser que é feliz, ou que tudo está correndo às mil maravilhas com tua vida — e que não fica doente há mais de trinta anos — duvidam...


Isso acontece porque pessoas normais geralmente são mórbidas e não creem que a felicidade existe. Aliás, e até por decorrência disso mesmo, as pessoas normais nunca serão felizes.


Nunca!



12.1.25

Tua hora está chegando

A vida está por um fio. Tua casa tá pegando fogo, teu amor se despedaça, tua hora está chegando... Não a hora da morte biológica, que pode até demorar, mas a hora da verdade, a hora de virar gente, a hora de assumir o comando. A hora de tomar consciência.

A cebola da vida está descascando, inexorável, aí, ao teu lado; o leão do tempo, feroz, rugindo no teu cangote — e você não reage. Nem se mexe. Acontece que há conclusões às quais você tem obrigação de chegar, hoje

Ou você se salva — ou você se fode.



É isso que eu quero dizer novamente hoje, mas você teima em não me ouvir. Porque todos temos uma certa tendência neurótica em deixar as coisas como estão, em salvar as aparências, em manter as estruturas — mesmo que apodreçam. Quase todos temos uma enorme preguiça de agitar as circunstâncias. Propendemos a deixar tudo como está, embora vivamos fazendo promessas de mudar o mundo.

Como disse Göethe no Fausto, "a quem persiste na Esperança ainda resta a Salvação". Mas você sempre deixa pra depois. Você chuta o agora. Você adia o instante. Você posterga o hoje. 

Você pensa que vai viver mais mil anos...
Mas não vai, não.
Nem eu.




Texto publicado em 24.07.2005 no Guarujá.







10.1.25

Minha filosofia de vida

Minha filosofia de vida pode fazer muito bem para certas pessoas com as quais convivo. Acontece que, exatamente por lhes fazer tão bem, pode também lhes fazer, a logo prazo e de certa forma, uma espécie de mal... Minha presença alegre e meu estilo libertário de viver podem às vezes desestabilizá-las. Porque eu lhes abro novos horizontes, um leque enorme, fascinante, de opções inesperadas e gostosas.

Acontece que a liberdade assusta. Essas pessoas
 estavam quietinhas, sossegadas em sua própria escravidão emocional, aninhadas nos seus próprios preconceitos, abraçadinhas às suas crenças opressivas — e eu venho lhes dizer que a liberdade é possível. Eu venho lhes dizer que o amor é possível. Que a felicidade é possível.

Então, elas começam a se questionar. Começam a rever os seus conceitos... Algumas criam coragem e chutam seus medos inexplicáveis. Suas cabeças viram corações enlouquecidos. Suas estruturas, antes tão estáveis, começam a ruir. Suas bases tremem. Relações se desfazem com facilidade espantosa. Seus "amores" perdem o sentido. Seus deuses dançam...

Porém, nem todas estavam preparadas para esse fascinante mundo novo que se abriu de repente. E algumas querem de volta o mundo antigo. Porque sentem falta da segurança, daquela quietude, daquela paz de cemitério. Daquela velha vida. Sentem falta da comodidade. Afinal, ser livre dá trabalho... Muito trabalho.

Mas ser livre é uma delícia.
Experimente!





9.1.25

Catedral da Sé


Estive hoje na Catedral da Sé. Fotografando. Filosofando. Lembrando-me do Pedro Bial, e tomando Drambuie.


Deus é a oitava cor do arco-íris. Nem todos podem vê-la. Para vê-Lo, precisamos do Sexto Sentido — que eu suponho já contido no DNA, mas ainda não descoberto cientificamente.

De certo modo, Deus é um Axioma. Sua existência não pode nem precisa ser provada. Mas não caia na tentação infantil de rezar para um Axioma... Deus não nos pede rezas nem orações: Ele nos pede apenas Amor.

7.1.25

Morarei no interior

Por isso, Dorian, nunca deixarei de ser jovem: há minas no meu peito enluarado. Mesmo quando tiver mais idade, serei um véio de ouro, sorteiro, e as garimpeiras de amor sempre vão querer encontrar-me entre os cascalhos que rolam. Morarei no interior. Abandonarei a Stoli e os frutos do mar; trocarei o Baron D´Arignac por caipirinhas deliciosas. Mas, em nome de Vênus, o erótico Lúcifer continuará descobrindo, todo dia, as minhas doces, indispensáveis, e adolescentes Madrugadas.


Então, que Deus me perdoe, e que você me compreenda.


Porque o Lúcifer a que me refiro neste blog é aquele da primeira fase, quando ainda era um anjo — o belíssimo Anjo da Luz. O brilhante intelectual contestador. E Dorian é o irretocável Retrato de Oscar Wilde. E as Madrugadas, são estas que agora vivo — amorosamente 
 entre flores e estrelas.


Esse pano de prato eu guardo ainda hoje. Sem lavar. Com as marcas do vinho que eu tomei aquela noite, no Flat Palladium, em agosto de 2010.
💙💜




Hoje, no Flat Palladium, soznho, tomando um vinho Baron D´Arignac rouge, eu reli partes dos maravilhosos livros Retrato de Dorian Gray e De Profundis, de Oscar Wilde. E publico a seguir algumas frases desse magnífico escritor:

É absurdo dividir as pessoas em boas e más. As pessoas são apenas encantadoras ou monótonas.

Acreditar é medíocre, duvidar é apaixonante. Manter-se alerta: eis a vida.

Um homem pode perfeitamente ser feliz com qualquer mulher; desde que não viva com ela.

Nunca deixe de perdoar seus inimigos: nada os aborrece tanto.

Os solteiros ricos deviam pagar o dobro de impostos. Não é justo que alguns homens sejam tão mais felizes do que os outros.

A inocência é o maior afrodisíaco.

Deem-me o supérfluo, e eu abro mão do indispensável.

6.1.25

Amor

 



 Amar é permitir sempre. 


Amar é deixar que o outro vá — ou que fique, se assim o desejar. 

Amar é ter um respeito absoluto pela própria liberdade e pela liberdade do outro. 


E isso não significa apenas entendimento racional, vai além, muito além: 

Amar é reconhecer afetuosamente o direito que o outro tem de fazer suas escolhas. 

Mesmo que essas escolhas eventualmente me excluam.


Do meu livro 
Página 314



4.1.25

Tocar o intocável

A mim não me basta tocar o coração do que eu vejo,
eu quero é tocar o coração do invisível.
A mim não me basta buscar o que me cabe,
eu quero é desejar o impossível,
tocar o intocável, o intangível,
a alma da minha alma,
o centro do que se move,
o coração do coração.


2.1.25

Minha Mãe

Nasci deitado de costas e de olhos abertos.
Claro que já nasci curioso e atento.
E sabe qual foi a primeira coisa que eu vi?
O Coração da minha Mãe.


Foi nesse momento mágico que eu comecei a perceber que a Vida seria uma delícia...



Hoje (*) é aniversário da minha Mãe. Eu e ela nunca brigamos: nenhum tapinha, nenhum puxão de orelhas, nenhum grito de raiva. Eu e Ela sempre nos compreendemos um ao outro. Escrevi esse texto em homenagem a Ela. Como sou-lhe o primogênito e o preferido, há toda uma mitologia em torno disso. Evidente o ciúme que isso causa em meus irmãos... Porém, do ponto de vista da Psicanálise, acho que até Reich explicaria melhor do que Freud essa nossa maravilhosa relação de Amor.


Edpon Marques.






Muitas mulheres marcam deliciosamente a minha vida. Todas são especiais; nove são musas. Mas uma delas se destaca... Uma mulher que jamais quebrou as lanças da minha ousadia, e nunca pensou em cortar-me as asas de pássaro livre. Uma mulher que me apoia com entusiasmo, incentiva os meus saltos profundos e me aplaude em todas as conquistas. Ela compreende os meus gestos, mesmo quando parados no ar. Ela me aceita como sou, inteiramente. E me faz acreditar, cada vez mais, que o verdadeiro amor é a união gostosa de duas espontaneidades, a fusão poética de dois devaneios. 

31.12.24

Todas as Questões e Algumas Respostas

Todo momento é único, mas este parece ser mais. Agora é hora de saltar profundo e pra cima. É hora de retrospecto e é hora de previsão.

O que fiz, o que farei?

Neste ano que passou, fui bom para mim ou maltratei-me? Será que respeitei os meus amores e vontades tanto quanto as minhas loucuras e razões? Será que agora vou mudar, mesmo, de verdade — ou só repetir outra vez outra vez outra vez as promessas que teimo em não cumprir?

Sei que não há meio-termo entre andar na linha do trem e dançar no arco-íris. Aliás, há. Mas o meio-termo é sempre meio morno, é quase sempre um meio-fim...


Por isso, aqui, agora, ouvindo pássaros livres e respirando amor, vivo, alegre, te quero cúmplice:


— Vamos sonhar juntos alguma coisa verdadeiramente nova?




Todas as Questões e Algumas Respostas.
Estou escrevendo este livro.

Arremesso de facas

Voltei a treinar
Arremesso de Facas.



Nessa minha busca, nessa minha incansável e eterna busca de caminhos, eu acabo às vezes me afastando de alguns dos meus amores. E esse espaço, essa distância — esse vazio — é como uma navalha cortando a emoção...

A emoção não deve ser cortada, eu sei. Mas, o que se há de fazer?
Eu quero apenas abraçar a metade do infinito.

Acontece que essa busca incansável de caminhos é uma das mais nobres e louváveis tentativas de aprimoramento pessoal. Significa refinar, cada vez mais, meu sentimento de amor-próprio. O contrário disso chama-se acomodação. Ou, até mesmo, desleixo.

Talvez covardia...











Arremesso de facas no Jardim da Casa Azul.








.

28.12.24

2025

Eu quero que em 2025 você mantenha apenas três tipos de relacionamentos:

1.
Os que te dão prazer e alegria;

2.
Os que são necessários à tua sobrevivência;

3.
Aqueles que te trazem boas informações ou sabedoria, estimulam a criatividade e te fazem progredir.

E que todos os demais sejam considerados dispensáveis.

Extremamente dispensáveis!






25.12.24

Jesus

Imagine se, em vez de ter ido à Montanha fazer o Sermão, Jesus tivesse ido ao Pão de Açúcar buscar fraldas descartáveis. Ou se precisasse ter ficado na cozinha trocando o bujão de gás, ou consertando a torneira da pia. Imagine o coitado chegando em casa à noite, exausto, depois de intensas reuniões com os apóstolos, e encontra Madalena de avental, fritando bife, com as mãos na cintura, descabelada, ciumenta, cheirando a cebola:
— Jê, onde você tava até agora?!
Imagine ainda Jesus na sala, mais tarde, compenetrado, conversando com o Pai por telefone, fazendo o relatório do dia, e a esposa gritando lá do quarto:
— Amor... O Júnior tá com febre...

Pois, é: "nada" contra o casamento tradicional, mas:

Se Jesus tivesse casado, a Humanidade teria desperdiçado um Deus.



Agora, imagine uma outra cena maravilhosa: Jesus, sorrindo, deitado solto no colo de Maria, que massageia-lhe o corpo inteiro com seus cabelos embebidos em nardo, e Judas reclamando: "Porra, Jesus, esse perfume custou trezentos paus! A gente podia alimentar um monte de pobres com essa grana toda..."
E Jesus, um verdadeiro mestre zen, um iluminado, Filho de Deus, primogênito, responde:
— Não te aflijas, meu caro Judas, pois pobres sempre hão de existir, mas Eu: só hoje!

Esse cara sabia viver!


Em verdade, em verdade, eu vos digo: Há dois Jesus Cristo: o teológico e o histórico. O Jesus da Teologia é Filho de Deus, personagem central da Mitologia Cristã — e sobre Ele não quero falar agora. Nem é preciso, pois os estudiosos se encarregam disso.

Mas o Jesus histórico — esse era "o Filho do Zé Marceneiro". Desde pequenino já era diferente. Ovelha negra. Uma mistura de santo, poeta, filósofo, artista e mestre zen. Solucionava conflitos, mostrava caminhos, fazia milagres. Charmoso e simpático. Cabeludo. Falava por parábolas — ninguém o entendia. Amava mulheres e homens. Era completamente livre. Nunca se casou. Adorava uma festa: bebia vinho, dançava, brincava com todo mundo. Vivia sorrindo. Gostava de perfumes e cremes. Namorou Madalena. Dormia pouco. Jamais trabalhou...

Um era Filho de Deus, os dois eram Sábios — e ambos merecem o meu respeito.

Mas eu gosto muito mais do Poeta!


A cena de Jesus no colo de Maria e o diálogo com Judas estão na Bíblia - Mateus 26:6-13
A cena de Jesus casado está no Manual da Separação 142:4
Tal tema se deve ao Natal que se aproxima. Aliás, tudo isso vai estar no meu livro The Master of Jesus.






Continuo aprendendo mandarim.



23.12.24

Um Plano de Salvação

A vida é muito curta.

Isto é fatal.

Mas,
se eu pudesse começar de novo,
tomaria certos cuidados que nem sempre tomei:
Jamais teria permitido que me prendessem,
ainda que em nome do amor.


Teria quebrado as correntes logo no início.

Teria tido menos pressa
e mais coragem.

E nenhum sentimento de culpa.

Daria valor secundário
a todas as coisas secundárias,
e consideraria secundário tudo aquilo
que não tivesse o efetivo poder de causar
mudanças significativas no rumo
da minha vida.

Todas as manhãs começariam
com meditação, esplendor e frutas leves.


Se pudesse começar de novo,
dançaria muito mais
do que dancei,
e brincaria muito mais do que brinquei.

Minha Vida seria uma festa...

Se pudesse mesmo começar de novo,
seria mais espontâneo.

Seria mais ousado:
A ousadia move o mundo.

Desobedeceria
todas as regras injustas,
e afastaria os preconceitos e a hipocrisia.

Procuraria respeitar sempre
o Deus de cada um.

Teria viajado muito mais do que viajei.

Correria mais riscos.

E teria tido seis milhões de amores profundos...

Se eu pudesse começar outra vez,
iria aprender com os erros dos outros,
e com os acertos também.

Andaria mais leve:

não levaria comigo nada que fosse
apenas um fardo.


Não teria desperdiçado tanta vida
e tanto tempo.


Não teria tentado salvar todo mundo.

Amaria muito mais a liberdade.

Viveria cada minuto
como se Deus
derramasse flores e estrelas na minha cabeça.

Tentaria uma coisa nova
todos os dias.

Em tudo que eu fizesse colocaria
mais Poesia,
mais Amor, mais Alegria.


E teria feito a opção de ser feliz
muito mais cedo
do que fiz.


Edson Marques

Manual da Separação
página 71



Este meu texto (apenas o tema) foi inspirado num poema chamado INSTANTES, erradamente atribuído a Jorge Luís Borges. Veja detalhes AQUI e também no Jornal de Poesia. (uma explicação.)



Eu optei por ser feliz aos doze anos de idade. Já lia muito, inclusive Pitágoras, Neruda e Karl Marx, mas não foram (só) esses três que iluminaram os meus caminhos. Eu olhei para os lados, e vi a vida sem graça que as pessoas do meu meio viviam. Aquilo me chocava. Eram pessoas infelizes, que só reproduziam relações antigas, só seguiam as regras. Acomodadas e passionais. Então, analisei as circunstâncias, vislumbrei um futuro, estudei ainda mais — e tomei a decisão. Conscientemente. Elaborei um Plano de Salvação. E o segui à risca. Com disciplina, com amor, com muita leitura, com estudos profundos, com determinação.

Deu certo.

Esse poema, portanto, não foi feito para mim, pois a a maior parte do que ali se diz eu já faço desde que me conheço por gente. Cometi alguns erros, é claro. Liguei-me quatro ou cinco vezes a pessoas ciumentas, e sofri por manter tais relações por períodos demasiado longos (no total dessas relações, perdi uns três ou quatro anos de vida). Por descuido, também tomei algumas decisões equivocadas, em outras áreas, mas tudo se resolveu (maravilhosamente bem) a seu tempo. O que lamento mesmo, e lamentarei até o fim dos meus dias, é ter perdido aqueles quase três ou quatro anos com pessoas ciumentas, inseguras, possessivas. E esse tempo é irrecuperável. Houve também alguns jacarés nos quais depositei confiança e saquei mordidas — mas essa é outra história...



Eu, no dia em que ia cortar os cabelos, em 1982.


20.12.24

Presente de Natal

O presente de Natal que eu quero te dar
não pode ser comprado:
Não tem nas lojas, nos mercados, nas feiras, nos balcões.
Não é feito de plástico, não é eletrônico,
nem precisa de manual.
O presente de Natal que eu quero te dar
já está dentro do teu próprio coração.

Basta que você agora o desperte para a vida:
É o amor pela liberdade absoluta.
É a admiração extrema pela Arte de Viver.
A defesa inabalável da ideia de justiça,
de verdade e de prazer.
A coragem de sonhar transformações.
A busca cotidiana por tudo que é sublime,
e o doce desejo de sugar o açúcar
de todas as coisas.
Feliz Natal !




Click nas frases em azul no texto acima para ver detalhes das ideias de Jesus, de acordo com meus conceitos.



Lunna, minha irmãzinha mais nova.
Foto de ontem.


18.12.24

Tudo é experimental

Esta minha página é experimental, no mais amplo sentido que tal palavra possa ter. Aqui não procuro defender nenhuma posição conservadora nem contemporizo com adeptos da normalidade absoluta ou radical.

Também não busco ser compreendido, nem pretendo apenas te agradar.


Contra ou a favor ao que proponho — não importa.

Mas, pensar.


Reflita-me.




16.12.24

Dois Caminhos



Ou você segue o caminho da Tristeza,
arma-se de medo e de falsas alegrias,
arma-se de angústia, fecha os olhos, se acomoda,
e segue o rebanho dos que não sabem;
obedece a regras injustas, não reage, não questiona,
não se aprimora, não lê, não significa,
nem percebe o absurdo em que se mete.
Vende a própria natureza
por duas ou três moedas de aço,
troca a inocência pela responsabilidade apressada,
torna-se respeitável aos olhos da sociedade,
cumpre horários, nunca tem tempo,
preocupa-se com coisas banais.
Comerciante das próprias emoções — já não brinca,
vive correndo, ama com pressa,
esquece-se da lua,
e se torna uma pessoa média, mediana, medíocre,
pequena, cansada e normal...


Ou você escolhe o caminho da Ousadia,
compreende, se aprofunda, vai mais longe, realiza,
respeita o ser humano que existe em você mesmo,
resgata a própria vida e o sorriso,
rompe de vez com o passado agonizante,
procura defender a verdade, a justiça e a poesia,
acorda e assopra o fogo da alma que dormia,
cavalga o cavalo negro, cego e alado
das paixões gostosas e sublimes,
enche o peito de coragem, corações e relâmpagos,
acende de novo esse vulcão que é o teu corpo,
deixa a própria cabeça plena de agora,
de ternura e de vertigem,
e parte em busca de Aventura, de Amor e Liberdade.


É uma simples questão de escolha.


Qual é o teu caminho? 









15.12.24

Onde estão aqueles sonhos todos?

JÁ ESTAMOS NO FIM DO ANO... E você continua aí, do mesmo jeito, andando pelas mesmas ruas, girando as mesmas chaves para abrir as mesmas portas? Sentado nas mesmas cadeiras, ao lado das mesmas mesas, fazendo sempre as mesmas coisas? Com os mesmos amigos, os mesmos amores, a mesma visão do mundo? Com os mesmos medos e preconceitos? Abraçando as mesmas pessoas, tocando os mesmos corpos, com o mesmo jeito, os mesmos toques, e o mesmo estilo? A mesma instável estabilidade? Repetindo a mesma angustiante rotina? 


Onde está aquele maravilhoso projeto de Vida?! 


Onde está a coragem de mudar, a coragem de criar? Onde aquele entusiasmo e aquela ousadia de outrora? Onde aquela gostosura tão buscada? Onde estão aqueles sonhos todos?





14.12.24

Razões para casar

Um casamento jamais será opressivo (ou torturante) — se os casais abdicarem da sua tão querida liberdade pessoal. Suprimida esta, preferencialmente de forma consensual, a harmonia se instala na relação. O sentimento de opressão só advirá se pelo menos um dos parceiros continuar amante da liberdade. Afinal, ninguém se casa para ficar mais livre. Seria uma contradição... Nesse sentido, requer-se apenas uma verificação do custo/benefício: quanto perco da minha liberdade pessoal — e quanto posso ganhar em outros campos. Quanto prazer pode me dar uma possível reclusão. Quanta segurança. Quanta garantia. Quanto sossego. Quanta tranquilidade. A gaiola é bonita? Tem comida? São essas algumas das questões que se podem levantar para entender uma relação de amor.

Toda relação é restritiva — por definição. O que varia é o grau de restrição e os propósitos mútuos dos que se relacionam. Mesmo as relações comerciais são restritivas, posto que fundadas em mútuas concessões. Eu te dou um desconto — e você só compra de mim. No casamento ocorre a mesma coisa. Eu tolero a tua cerveja e o futebol, e você não reclama por me ver descabelada. Eu só transo com você, e você não sai com mais ninguém. Você me dá um desconto, que eu te pago à vista. E por aí vai.

É uma troca, simplesmente.

Também influem os objetivos imediatos ou remotos de cada um, além da sua (i)maturidade emocional. Emprego está difícil, vou me casar. Quero ter um filho, e preciso de alguém que o produza, eduque, ou sustente. Quero sair da casa dos meus pais. Quero morar com meu atual namorado ou namorada. Quero alguém para ser a projeção da minha mãe. Quero ajudar alguém. Quero que alguém me ajude. Quero ter a chance de exercer minhas ganas autoritárias. Quero constituir uma família. Quero ser respeitável. Quero voltar a ser santa. Quero uma empregada doméstica. Quero seguir a tradição. Enjoei do meu estado civil original. Quero reproduzir a relação dos meus pais, exatamente igual — ou corrigindo-a. Quero mudar de vida. Quero melhorar a vida. Estou apaixonada. Quero desperdiçar minha vida. Cansei de ser livre. Quero me regenerar. Quero fazer uma grande besteira. Quero fazer uma besteira monumental. Nosso casamento será diferente. Quero fazer amor todo dia. Quero ser feliz. Quero engordar. Quero foder a minha vida sexual... Etc.


Como se vê, razões para casar é o que não falta.


Porém, no casamento tradicional, há quase sempre um componente meio maldoso que, contraditoriamente, estraga muito a relação — exatamente para tentar mantê-la em pé: ou seja, o ciúme. Mas aí já é outra história. /// No livro Solidão a Mil eu escrevo algo mais sobre essa minha tese.




Texto originalmente publicado em Abril de 2008 - Guarujá, quando eu estava reformatando meu quinto casamento. Em verdade, refinando a relação. Para que aquele amor não morresse no Pico. Como aliás não morreu, posto que cada um de nós prosseguiu, livremente, no seu respectivo e amoroso caminho florido.




12.12.24

Tudo que existe

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Foto que fiz de uma carroça conversível que estava estacionada em frente ao boteco do meu Pai, com uma máquina fotográfica Kodak, comprada por reembolso postal. Eu tinha 11 anos, e já era um Cartier-Bresson.



Tudo que existe no mundo — existe duas vezes : primeiro, na cabeça do Criador. Toda mudança tem que antes ser sonhada. A realidade só se transforma de verdade, na prática, depois que transformou-se em teoria. Primeiro no cérebro — depois, no mundo. Sem sonho e sem loucura inteligente, nada de concreto se produz. Nem sorvete, nem avião, computador, arranha-céu. Nem igreja, nem poesia, nem romance, nem boteco, nem Calçadas do Brasil.


Os inventores, os poetas, os artistas, os cantores, e os sonhadores empreendedores — são todos visionários. Einstein, Jesus Cristo, Picasso, Buda, Galileu, John Lennon, Espinosa, Niemeyer e o dono do boteco ali da esquina: um bando de malucos. Se dependesse apenas dos normais, ainda andaríamos de carroça. Talvez nem mesmo de carroça, pois a roda foi criada por um louco... Sem fantasia e liberdade não se encanta o cotidiano. A imaginação descontrolada é que dá cor e vida ao mundo livre. Por isso é que a Loucura Criativa é necessária, desejada — e tão temida.



Volume 001.