19.9.24

Mais Perguntas

  ALGUMAS NOVAS PERGUNTAS


Quantas vezes você hoje meditou sobre a Vida?

Quantos minutos você hoje caminhou sem pressa?
Quanto tempo hoje você acariciou teu corpo e tua alma?
Quais os alimentos saudáveis que você vai comer hoje?
Tem seguido o que te pede o teu próprio coração?
Quanta gostosura existe nos teus atuais relacionamentos?
Quais são as coisas novas que você aprendeu hoje?
Quantas pessoas você hoje abraçou de verdade?
Quantos livros você está lendo?
Quando foi o teu último grande êxtase?

Quantas vezes hoje você pensou no Amor?
Quantas vezes você hoje ajudou alguém?
Quanto de prazer e de alegria o teu trabalho proporciona?
Hoje, quais as coisas boas que você já fez ou vai fazer?
Como vai a liberdade dos teus amores?
Terá tempo de contemplar a lua e as estrelas?
Tem olhado os pássaros do céu e os lírios do campo?
Como anda o teu Planejamento Estratégico Pessoal?
Quantos anos você supõe que ainda vai viver?
Como vai a tua própria Liberdade?
Quais são os teus Sonhos?

O que é que você quer da Vida?





17.9.24

Aqui é o Céu

Eu detesto relações ordinárias. O que é comum tem um poder impressionante de jamais me impressionar. Eu gosto é de êxtase. Eu gosto de alegria, de sonhos, de encantos profundos. Eu gosto de companhias brilhantes. De pessoas amáveis — que vibrem a todo momento, como se a todo momento fizessem amor. Como se aqui fosse o céu... Porque aqui é o Céu.





15.9.24

Vitalina Flor

A escrita é o código do Verbo. A roda do vinho faz tudo girar. Depois de dois ou três copos minha voz Vitalina, e realiza sinapses verbais. Ideias escorrem pelas pontas dos meus dedos falantes. Eu começo a desenhar flores e planos nos guardanapos do boteco divino, enquanto as delícias dançam no meu próprio coração. Meu peito entusiasmado, pleno de espírito, quase explode de alegria. Trilhões de átomos já estão se reunindo, sonho a dentro e mundo afora, desde hoje, para que eu os encontre em forma de estrelas e corpos em dezembro do ano que veio. E é por isso que eu escrevo declarações de amor a Deus nesta noite açucarada. A roda da vida faz tudo girar. O vinho deve ser redondo, e o Universo — também.



Nesta primavera
vou encher de flores vermelhas
todos os meus vasos
sanguíneos.



Em 2021 fizemos este estacionamento na Onodera Aclimação - SP.

Canteiros do Brasil.

13.9.24

Minha Primeira Empresa

Certo dia, depois de uma conversa com a Vó Vitalina, eu quis montar um negócio no ramo de calçados. Mais precisamente, queria ser engraxate. Queria muito uma caixinha daquelas de madeira para exercer a profissão, que me parecia fascinante e lucrativa. Então, breganhei um relógio Mondaine por uma caixinha já pronta, comprei umas latinhas de graxa na Cofesa, arranjei com minha Mãe uns paninhos velhos, duas ou três escovinhas de dente já usadas, um escova grande, marrom, duas tirinhas de casimira azul de uma velha calça rasgada, juntei-me a dois amiguinhos que já engraxavam — e saí para vencer na vida. Eu tinha quase oito anos. Mas não consegui vencer na vida. Pelo menos não naquele dia, pois meu Pai foi me buscar no Mercado (o Posto Ipiranga do Rivadávia), repreendeu-me com vigor, porém delicadamente, deu minha "empresa" de presente a um menino pobre nosso vizinho — e pediu-me que eu tentasse outra profissão.




11.9.24

Omelete na Casa Azul

Ontem, por sugestão amorosa da Rayara, eu comi o melhor omelete de toda a minha vida. Depois,  eu e ela fomos tomar um vinho Pector, rosé.





E no fim da noite, nos braços da Lua, refinei este poema:


Sou o autor da minha peça e o próprio personagem. A dança e o bailarino, a música, o maestro, compositor. A ternura mais vermelha e delicada, o lóbulo da orelha e o copo de vinho do meu amor. O beijo e o abraço, a delícia e o licor. O êxtase, e todas as auroras que ainda vão chegar.

Sou o céu do precipício, a língua do horizonte — e mais além. Sou o sagrado e o profano, o profundo e o supérfluo, a origem da tragédia, e o brilho da cor. Sou mínimo e tanto, pouco e princípio, paixão, excesso e glória.

Sou relâmpago, transitório, passageiro, imprevisível, pétala de estrela solitária, um pingo de ocidente no teu mel.

Sou todo infinito no entusiasmo, e a última labareda amorosa de uma espécie de fogo em extinção...






9.9.24

A Vida é um Risco

A Vida é um jogo, belíssimo, onde só podemos ganhar aquilo que arriscamos.
Mas você parece que não anda ganhando muito, nem perdendo muito.
Nenhuma derrota acachapante, e nenhuma vitória inesquecível.
Nenhum ato grandioso, nenhum espetáculo...
Nenhuma desgraça horrorosa, mas também nenhuma paixão infinita.
Nenhuma queda profunda, nenhum salto mortal.
Nem pra cima, nem pra baixo.
Nada!
Nem escuridão, nem brilho, nem glória, nem tragédia.


Assim — a tua vida.

Segura, pacata, certinha, e normal.
Tudo em ordem, tudo estável e bem comportado.
Tudo em brancas nuvens.
Tudo meio morno, meio tépido, meio frouxo, meio mole.
Meio apagado.
Meio cinzento e meio sem graça.


Assim — a tua morte.









7.9.24

Independência é fundamental

Viva a Independência.
A dos países e a das pessoas.
A independência política, a financeira,
e a emocional.
A do Corpo e a do Espírito.
A dos amigos — e a dos amores.

Só é livre quem for independente.

PORTANTO,
INDEPENDÊNCIA — OU MORTE!








4.9.24

O Plano de Salvação

A vida é muito curta.

Isto é fatal.

Mas,
se eu pudesse começar de novo,
tomaria certos cuidados que nem sempre tomei:
Jamais teria permitido que me prendessem,
ainda que em nome do amor.


Teria quebrado as correntes logo no início.

Teria tido menos pressa
e mais coragem.

E nenhum sentimento de culpa.

Daria valor secundário
a todas as coisas secundárias,
e consideraria secundário tudo aquilo
que não tivesse o efetivo poder de causar
mudanças significativas no rumo
da minha vida.

Todas as manhãs começariam
com meditação, orgasmo e frutas leves.


Se pudesse começar de novo,
dançaria muito mais
do que dancei,
e brincaria muito mais do que brinquei.

Minha Vida seria uma festa...

Se pudesse mesmo começar de novo,
seria mais espontâneo.

Seria mais ousado:
A ousadia move o mundo.

Desobedeceria
todas as regras injustas,
e afastaria os preconceitos e a hipocrisia.

Procuraria respeitar sempre
o Deus de cada um.

Teria viajado muito mais do que viajei.

Correria mais riscos.

E teria tido seis milhões de amores profundos...

Se eu pudesse começar outra vez,
iria aprender com os erros dos outros,
e com os acertos também.

Andaria mais leve:

não levaria comigo nada que fosse
apenas um fardo.


Não teria desperdiçado tanta vida
e tanto tempo.


Não teria tentado salvar todo mundo.

Amaria muito mais a liberdade.

Viveria cada minuto
como se Deus
derramasse flores e estrelas na minha cabeça.

Tentaria uma coisa nova
todos os dias.

Em tudo que fizesse colocaria
mais Poesia,
mais Amor, mais Alegria.


E teria feito a opção de ser feliz
muito mais cedo
do que fiz.


Edson Marques

Manual da Separação
página 71



Este meu texto (apenas o tema) foi inspirado num poema chamado INSTANTES, erradamente atribuído a Jorge Luís Borges. Veja detalhes AQUI e também no Jornal de Poesia. (uma explicação.)



Eu optei por ser feliz aos doze anos de idade. Já lia muito, inclusive Pitágoras, Neruda e Karl Marx, mas não foram (só) esses três que iluminaram os meus caminhos. Eu olhei para os lados, e vi a vida sem graça que as pessoas do meu meio viviam. Aquilo me chocava. Eram pessoas infelizes, que só reproduziam relações antigas, só seguiam as regras. Acomodadas e passionais. Então, analisei as circunstâncias, vislumbrei um futuro, estudei ainda mais — e tomei a decisão. Conscientemente. Elaborei um Plano de Salvação. E o segui à risca. Com disciplina, com amor, com muita leitura, com estudos profundos, com determinação.

Deu certo.

Esse poema, portanto, não foi feito para mim, pois a a maior parte do que ali se diz eu já faço desde que me conheço por gente. Cometi alguns erros, é claro. Liguei-me quatro ou cinco vezes a pessoas ciumentas, e sofri por manter tais relações por períodos demasiado longos (no total dessas relações, perdi uns três ou quatro anos de vida). Por descuido, também tomei algumas decisões equivocadas, em outras áreas, mas tudo se resolveu (maravilhosamente bem) a seu tempo. O que lamento mesmo, e lamentarei até o fim dos meus dias, é ter perdido aqueles quase três ou quatro anos com pessoas ciumentas, inseguras, possessivas. E esse tempo é irrecuperável. Houve também alguns jacarés nos quais depositei confiança e saquei mordidas — mas essa é outra história...



Eu, no dia em que ia cortar os cabelos, em 1982.


31.8.24

Quando me apaixono

Quando me apaixono por alguém não lhe peço a identidade. Não quero saber de onde veio, qual a cor da sua pele ou seu estado civil. Não me importa a sua idade, nem o CEP, nem as coisas que já fez. Sobrenome, CPF, pretensões — nada disso me interessa.

Não requeiro experiência. Aliás, eu a dispenso...

Quando me apaixono por alguém, dou-lhe toda a minha alma, e não exijo recompensa. Não lhe peço nada em troca: não se trata de um negócio. Não lhe tiro coisa alguma — especialmente a liberdade. E a fidelidade, é uma questão que nem se põe. Eu me entrego inteiro, e do resto nem quero saber. O que importa é ser feliz.

Quando me apaixono por alguém, eu me apaixono — simplesmente.







29.8.24

O Professor

Quando adolescente, eu tinha o hábito racional e elegante de agradecer aos professores logo depois das aulas recebidas. Todos os professores. Sempre os considerei Mestres... E não era por puxassaquismo, não. Era um sentimento real de agradecimento por aquilo que compartilhavam comigo.

Cheguei a escrever um poema para os professores, cuja ideia central é esta:

(...)
O professor mostra ao aluno a diferença entre o silogismo e a serpente. Ensina-o a extrair raiz quadrada com poesia. Demonstra como ser ousado sem ser burro. Jamais abusa da confiança do aluno, não lhe invade o espaço, não procura condicioná-lo. Não cria relações de dependência, nem exerce dominação sádica sobre ele. Infunde-lhe o respeito absoluto pela vida. Prefere o aluno criativo ao bem-comportado. Nunca o explora, é só o conquistador de um novo mundo, que leva o aluno a ver mais — mais alto e mais longe.
(...)



Eu conto algumas dessas histórias no meu livro Solidão a Mil. Aqui tem parte dele: www.SolidaoaMil.com




27.8.24

Paloma Blanca

Me lembrando do México em 1989...



Una canción me recuerda aquel ayer
Cuando se marchó en silencio un atardecer
Se fue con su canto triste a otro lugar
Dejó como compañera mi soledad
Una paloma blanca me canta al alba
Viejas melancolías, cosas del alma
Llegan con el silencio de la mañana
Y cuando salgo a verla vuela a su casa
¿Dónde va? Que mi voz
Ya no quiere escuchar
¿Dónde va? Que mi vida se apaga
Si junto a mi no está
Si quisiera volver
Yo la iría a esperar
Cada día, cada madrugada
Para quererla más

Se fue con su canto triste a otro lugar
Dejó como compañera mi soledad
Una paloma blanca me canta al alba
Viejas melancolías,…





Mas hoje eu estou aqui, no Brasil, escrevendo poemas de amor para um novo grande amor.



25.8.24

A Nova Vida

Às vezes nós temos que desistir da nossa vida antiga. Das velhas razões. Das velhas relações. Das velhas emoções. Desses móveis quadrados que nos imobilizam... 





Ontem eu fiz frango com curry e arroz cozido com batata, cenoura e açafrão.

23.8.24

Eu e Nietzsche

Anteontem, eu e Nietzsche fomos almoçar no Restaurante do Capitão, no Guarujá. Lá no meio das árvores, embaixo de uma bandeira pirata, ficamos comendo baião-de-dois, carne seca e mandioca frita. Falando sobre a vida e tomando cerveja com tequila. Por mais de seis horas... Na saída, eu ele abraçamos um cavalo magro que puxava uma carroça velha carregada de papel.

E choramos.


E ontem eu tomei Tequila com Biotônico Fontoura.


Para comemorar essa bebida criada por Paritosh Keval em 2007.

21.8.24

Eu acordo de madrugada

Não basta só abrir a janela: é preciso abrir também a parede. Escrevi essa frase agora mesmo, aqui na cama. Acordando com uma ideia na cabeça: a de criar mais uma empresa, além da PCB com Joyce Ann. Mas só na cabeça: o coração ainda não se manifestou. Um copo de leite gelado é o que eu quero agora.



Tem dias em que eu acordo de madrugada, como hoje, e tem dias, como ontem, em que eu durmo de madrugada. Sempre sozinho. Sozinho e completo. E eu vejo que isso é bom. Porque houve tempos em que eu não dormia nem sozinho e nem completo. E aquilo não era bom. Mas as coisas melhores que eu teria para dizer ainda não se acordaram, nos dois principais sentidos da expressão. Portanto, vou ficar aqui, no coração do silêncio. Não: acho que vou tomar um copo de leite ao lado do pezinho de lírio, ouvindo pássaros. Depois, a gente vê o que acontece com esse sábado maravilhoso.




Texto originalmente escrito por mim há mais de doze anos, em 08.01.2012, quando eu, de propósito e de modo altamente racional, estava experimentando uma tormenta (só para refinar minha capacidade de propor soluções inteligentes para circunstâncias similares).


Um novo livro sendo gestado.

19.8.24

Tua hora está chegando

A vida está por um fio. Tua casa tá pegando fogo, teu amor se despedaça, tua hora está chegando... Não a hora da morte biológica, que pode até demorar, mas a hora da verdade, a hora de virar gente, a hora de assumir o comando. A hora de tomar consciência.

A cebola da vida está descascando, inexorável, aí, ao teu lado; o leão do tempo, feroz, rugindo no teu cangote — e você não reage. Nem se mexe. Acontece que há conclusões às quais você tem obrigação de chegar, hoje: Ou você se salva — ou você se fode.



É isso que eu quero dizer novamente hoje, mas você teima em não me ouvir. Porque todos temos uma certa tendência neurótica em deixar as coisas como estão, em salvar as aparências, em manter as estruturas — mesmo que apodreçam. Quase todos temos uma enorme preguiça de agitar as circunstâncias. Propendemos a deixar tudo como está, embora vivamos fazendo promessas de mudar o mundo.

Como disse Göethe no Fausto, "a quem persiste na Esperança ainda resta a Salvação". Mas você sempre deixa pra depois. Você chuta o agora. Você adia o instante. Você posterga o hoje. 

Você pensa que vai viver mais mil anos...
Mas não vai, não.
Nem eu.



Texto publicado em 24.07.2005 no Guarujá.


Não basta ter asas — é preciso ser livre.



16.8.24

A Casa Azul

A CRIANÇA QUE EU SOU ESTÁ VIVA

Hoje eu quero de volta a bicicletinha vermelha que ganhei do meu Pai. Quero de novo abraçar minha Mãe e comer o manjar de bananas que ela fazia pra mim. Quero ser recebido com festa pelo Swing quando eu chegava da escola. Acariciar com raspadeira de alumínio os pelos macios do Estrela, meu alazão espanhol. Quero jogar bolinha de gude na rua São Pedro, e depois comer queijo assado na palha de milho na casa da Vó. Hoje eu quero de novo minha vida um carrossel. Quero torná-la roda gigante, girassol, montanha russa outra vez.


Sem colírio, chorarei. A criança que eu fui não morreu. Eu descendo de mim.


Hoje eu me deliciei aqui na Casa Azul..












14.8.24

Amor bem dito

Bendito Amor.


Os poemas que te dou
são de amor, naturalmente,
e feitos por mim quando me espanto
no meu canto encantador.

Certos poemas eu escrevo com os olhos
nos teus olhos, meu amor;
outros, muito longe de você.
A maioria,
com meu coração ainda pendente,
pulsando no peito de um amor
que às vezes encontrei
nos caminhos desta vida,
por acaso e de repente.

Algumas das poesias
eu as te fiz diretamente,
outras foram feitas para amores
diferentes,
mas depois eu as trouxe até aqui
— para você, naturalmente.

Muita coisa bela eu sinto por você
enquanto ainda estou colado
no outro corpoamante,
suspirando de amor também por ela,
alegremente.
E sei também que muitas coisas
que hoje você diz
já foram ditas para outros
— mas isso não lhes tira
a beleza e a semente.

Sei que essas palavras de amor
se repetem entre nós
com a mesma intensidade,
e muitas das verdades
que dizemos um ao outro
são bem ditas,
e benditas — simplesmente,
com a mesma liberdade.






13.8.24

Vinhos e flores

A vida é uma delícia.

Ainda nem era meio-dia hoje de manhã, e já estávamos tomando vinhos perante um hibisco recém-colhido no Jardim da Casa Azul.


E eu fico aqui pensando sobre meu Bisavô Luiz Marques...


O mestre Antonio Abujamra intepreta aqui o texto que escrevi sobre meu bisavô.



SOU BISNETO DA REBELDIA


Meu bisavô, aos sessenta e dois anos de idade, na década de trinta do século passado, abandonou tudo e apareceu por aqui trazendo no colo uma adolescente chamada Vitalina Maria de Jesus. Um despropósito, disseram todos. Mas o verdadeiro rebelde não hesita entre viver e morrer. O velho Luiz Marques, atolado numa estabilidade massacrante, não havia desistido de procurar aquela coisa que atende pelo singelo nome de felicidade.

Gastou janeiro fazendo planos, um mês inteiro ouvindo vozes, que nem Moisés. E aquela menina passando ali, na frente dele, feito convite, descalça, vestidinho de chita, cabelos soltos, meio ressabiada... Os peitinhos despontando. Então o fazendeiro abandonou tudo: as propriedades e as impropriedades que a elas se ligam, a esposa controladora, os filhos perplexos, as fazendas, as noras, os netinhos, os novilhos e as velhas emoções.

Tudo por causa de Vitalina.

Por aquela menina delicada ele daria o mundo. Por ela, e pelo que então simbolizava aquele amor, ele abandonou mais de mil cabeças de gado e todas as certezas que lhe haviam dado como herança. Era um autêntico rebelde: acabou trocando o futuro garantido e certo, porém morno, por um presente delicioso e faiscante.

Jogou fora o velho baú de premissas usadas, quebrou as algemas — e caiu na Vida. Trocou um milhão de verdades antigas por uma pequena mochila de sonhos. Porque, você sabe, não dá para salvar a alma sem antes salvar o corpo. E o que mais excita o ser humano é a possibilidade aberta de uma nova vida. O respeitável senhor Luiz Marques tomou aquelas decisões que só os grandes homens conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto e partiu! Pois ele também já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que abandonar a própria existência naqueles caminhos já percorridos.

Não fosse por isso, eu não estaria aqui, agora, à beira do mar, tomando um belo copo de vinho branco e contando essas coisas todas pra você.

Sou portanto bisneto da rebeldia.

Sou bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores.

E existo, por incrível que pareça. No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas.






O texto acima abre meu livro Manual da Separação. Caso queira saber mais, click na imagem da capa:

11.8.24

Meu Pai e Os Girassóis

 

A melhor lição que meu Pai me deu.

Se. Eu. Não. Estudar. Eu. Vou. Me. Foder.



MESTRE ZEN COM VARA DE MARMELO

Meu pai era racional demais, disciplinado demais, e ético demais. Dominava o cálculo, era íntimo dos números, ensinou-me a tabuada do 13 quando eu tinha sete anos. Quem não sabe a tabuada não vai longe, ele me dizia. Nasceu para o comando. Era dono de uma violência verbal impressionante — e nunca deixava pra depois as broncas que pudesse dar. Exagerado, tinha seus momentos de loucura: de vez em quando mandava fazer almoços festivos para crianças pobres. Era comum se reunirem duzentas ou trezentas em nosso restaurante. Absteve-se do jogo, não fumava, mas bebia um pouco mais do que eu supunha o certo. Com duas exceções, nunca o vi de fogo. Ele nunca nos disse que gostava de poesia, mas certa vez mandou que plantassem trezentos e sessenta pés de girassol no fundo do quintal da nossa casa. Depois que as plantas cresceram, ele ficava toda tarde um tempão lá no fundo, sentado num banquinho improvisado de madeira, sorrindo, encantado, tomando vinho vermelho — e olhando os girassóis girarem... Meu pai, portanto — e no fundo — talvez não fosse apenas um simples comerciante atarracado e ex-delegado de polícia. Talvez fosse um poeta. Pena que não teve tempo de ficar completamente louco: morreu aos 49, por erro de um médico que tinha a morte até no nome.

O vinho é feito de agulhas, meu copo um dedal. Costuro à mão pedaços da infância — com eles faço um lençol. Peço à Lorenna que me cante cantigas de natal da Idade Média, e ouço a Singer rangendo seus pedais no meu CD. Minha mãe também costurava com linhas de cor, pregava remendos bonitos, trocava meus botões, lavava roupas de amor. Vejo até sabão de cinzas no fogo forte que tanto me arde agora no rio do peito, espumas de lembranças incendiadas.




Carta que escrevi a ele em 28.02.1978.


RECOMENDAÇÕES DO MEU PAI

Além das suas recomendações sobre sempre respeitar a propriedade alheia — e nunca usar sapatos velhos — há outras dele das quais agora me lembro:



2. Não carregue pacotes.
4. Seja dono do teu próprio negócio.
5. Beba pouco.
6. Estude bastante.
7. Não fume.
8. Não transe com as empregadas.
9. Não minta — exceto se for para salvar a vida.


Quando morreu, ele trazia no bolso, na carteira de couro marrom, uma carta, dobradinha, meio amarelada e com sinais evidentes de muitas leituras. Não sei onde pode estar o original. Talvez tenha tido o mesmo destino daquelas fotos que as doentes rasgaram. Felizmente a memória não se perde. Não é possível rasgar uma lembrança, destruir um símbolo, esconder um coração. Manifestações de amor, como essa do meu Pai ao carregar minha carta consigo — até no dia da sua própria morte —, não se apagam. É uma honra para mim.





Hoje, Dia dos Pais, minha homenagem a Ele.

9.8.24

Edson e Edgar

O Homo Sapiens é um ser instável e de amor imenso. Que ri e chora — e se angustia até sem dor.

Um ser gozante, passageiro, embriagado, inteiro, amante.
Invadido pela doce eterna liberdade, conhece a vida e nela crê.

Um ser que abraça o mito e a magia e se deixa penetrar por espíritos e deuses. Que se alimenta de ilusões e de quimeras, de feijão e de poesia.

Um ser errante cujas relações com o mundo objetivo só são subjetivas. Bailarino e questionante, dança o tempo todo envolto em devaneios.

Um ser que se conduz numa infinita e necessária gostosura.

E como chamamos de loucura àquela conjunção da ilusão e do desconhecido, do instável, da incerteza entre o real e o imaginário, da confusão vitoriosa entre o subjeto e o sujeito; da questão irrespondível da Teoria do Acaso e da desordem

— só nos resta concluir que esse Homo Sapiens é um Homo Sapiens Demens. Amoroso e fascinante.



O texto acima foi inspirado num poema de Edgar Morin.





7.8.24

A Natureza da Paixão

Grandes paixões sempre duram pouco. A natureza da paixão é ser fugaz e passageira. Ninguém suportaria viver aventuras diferentes todo dia, e grandiosas — para sempre — com a mesma pessoa. Seria a banalização da gostosura. Já os casamentos tradicionais são mais duradouros. Porque faz parte da própria natureza do casamento ser monótono, e excluir toda e qualquer possibilidade de aventura, de risco e de emoções.

O casamento tradicional foi inventado para encurralar o amor, domesticar os amantes, e torná-los previsíveis, descoloridos, certinhos e estáveis... Em outras palavras, para burocratizar o amor.

O casamento monogâmico foi criado para tornar os amantes sem graça. Ou seja: para desgraçá-los completamente.








4.8.24

Momentos de cetim

Cruciais e deliciosos, estes momentos que atravesso e que hoje me tocam docemente. A vida encontra-me agora voando nas asas da coragem. Minha profissão é gloriosa: Sou amante do Risco e do Instável, do Incerto e da Surpresa. Entre um largo muro de cimento preso ao chão e a corda bamba de seda à beira do abismo — opto por esta, sempre. Sou um trapezista alucinado e racional no escandaloso Circo da Emoção. Todos os meus saltos são imortais, alegres e profundos. Eu viro a lona azul do céu que me descobre pelo avesso. Meu coração não tem juízo... Como poeta libertário, seria pouco não fosse assim. Porque não tenho razões para ser de outra forma. Se posso ser tudo, não preciso ser médio nem comedido — e não quero ser nada além de mim. Amo a Liberdade como se não pudesse amar outra coisa. Não consigo mais viver em conta-gotas: eu agora só vivo aos borbotões.




1.8.24

Não é fácil ser livre

 

Escrevi isto em 31.01.2008. Há exatamente dezesseis anos.


A liberdade é perigosa.

A vida livre é muito arriscada.
A vida livre é uma delícia inesgotável,
mas é também muito insegura — e cheia de surpresas.
Cheia de danças perigosas, de buscas e mudanças,
de riscos e de voos, solavancos, desafios...

Só quem ama a liberdade sobre todas as coisas
é que pode ser livre de verdade.


Só quem dirige o próprio destino

é capaz de arriscar a vida para salvá-la.


Portanto, a liberdade não é pra qualquer um:
os covardes, os medrosos e os coitados,
os dependentes, os desanimados
e todos os que foram educados só pra obedecer
— estes jamais serão livres.

A liberdade é muito perigosa.

30.7.24

Planos

Toda mudança requer um plano. Às vezes, plano esboçado em folha de papel, outras vezes, plano intuído no cérebro da gente. Mas a mudança mais gostosa é aquela que só requer um plano inclinado, por onde vamos deslizando em óleo de amêndoas, como se fosse no corpo de um grande amor. Deslizamos até a borda — e então saltamos no vazio do belo e fascinante azul brilhante profundo da vida.

Mas tem hora que a gente verbaliza mudanças sem atitude que lhes corresponda. Também faço isso, muitas vezes, mas sempre me questiono. Será vontade real de mudar alguma coisa sem permissão das circunstâncias, uma vontade objetiva que pretende puxar o processo da suposta mudança — ou será isso apenas um subterfúgio mental para satisfazer nosso ego?

Não sei.

Só sei que com uma das mãos eu defendo a liberdade, e com a outra acrescento algumas horas ao meu dia.

28.7.24

Calçadas do Brasil

Planejamento cuidadoso, disciplina absoluta e flexibilidade conceitual. Sócios brilhantes, capital de sobra, e um excelente sistema de informações. Marketing eficiente, prospecção de mercado, intensa captação de clientes, competência operacional, e boa estrutura administrativa. Comunicação constante. Parceiros confiáveis. Ampla terceirização. E uma rotina de pós-venda de primeira classe. Eis os fundamentos para o sucesso de uma empresa que certamente será grande.







Click acima para ver fotos de 30.08.23.






Almoço que fiz hoje.

Talharim Bonalle, com picanha suína, alho cozido, champignon e cebolinha, tudo sob uma torre generosa de parmesão ralado.