5.10.24

Paulo vive

Ele era um louco por metáforas e céus azuis enluarados. Ficou cego porque via demais. Assim como Jesus, todas as irmãs, com duas ou três exceções, o detestavam. Criativo, montava estruturas geodésicas já aos cinco anos de idade. Dizem que, quando criança, transformava bujões de gás em lança-chamas. Peralta como um saci.

Era bom de cálculo: aos dezessete, passou direto no vestibular de Engenharia da Poli-USP. Mas não fez o curso porque sentia-se responsável pelas próprias razões... Ou por outras, que talvez não saibamos quais.

Bebia um pouco muito
, e ficava meio chato quando bebia. Nessas horas, costumava desenterrar defuntos. Por isso a distância entre nós era quase sempre necessária. Mas, nos momentos de lucidez (se é que podemos chamar de lucidez esses períodos em que o sangue está seco), nos raros momentos de lucidez, ele tinha uma conversa boa, amável, carinhosa.

Formou-se em Pedagogia, virou jornalista, criou um site de negócios, comprou um sítio no Paraná, plantou trinta mil pés de eucaliptos, fabricou carvão, e teve um açougue. Três ou quatro filhos. Gostava de política, e era crítico da esquerda. Sua coluna no jornal da cidade durou dez anos.

Na última vez em que nos vimos, janeiro de 2011, almocei na casa dele, na área enorme cheia de flores e lembranças. O almoço foi ele que fez. De vez em quando eu dizia, olha, tá queimando... E ele então corria lá pra cozinha. Por sugestão minha, pegamos a comida nas próprias panelas. Sentamos ali, ao lado do jardim, e ficamos conversando por três horas. Sobre a vida, que ele, contraditoriamente, amava tanto. Sob um caramanchão esquisito que tinha até um pé de bucha... Me deu uma, que ainda está na mala que nunca desfaço.

Na saída ele me disse, leve uma rosa. Era a mais bonita, lá no alto da roseira. Levei. E dei pra Mãe.



Morreu hoje.

Não o Paulo, mas a rosa.







Duas das coisas que o mataram, além do álcool: excesso de genialidade, e a incompreensão da família, especialmente das irmãs. Pedi aos filhos dele que lhe guardassem os papéis, os originais, os rascunhos, os recortes — pois vou escrever um livro sobre ele, ano que vem. Talvez uma biografia romanceada.




Uma homenagem ao Paulo, cujo aniversário de nascimento é hoje, 05 de outubro. Quando nos encontramos pela última vez, na casa dele, não foi sequer possível tomarmos uma cerveja. Mas ele fez um almoço delicioso.  Inesquecível.

E ele morreu sem me avisar...


E só agora eu descubro que ele era muito mais inteligente do que deixava transparecer.


Comentário do Professor Samuel Barbosa em 05.10.2015.






Também escrevi um poema de amor para o Beto.
Click neste link para ler.

E estou escrevendo um para o Zezé.
Já tenho parte escrita.

Proposta política

Melhoria das condições de vida da população menos favorecida. Neste momento, uma questão de transporte coletivo em cidades pequenas e médias.


Provocação Amorosa

Eu não quero ensinar nada a ninguém. Não quero ser mestre nem me chamo Buda. Só quero provocar intelectualmente as pessoas criativas, como suponho você é. Quero esmagar todas as convicções, inclusive as tuas, mas especialmente as minhas. Em verdade, eu não quero muita coisa: Eu só quero abraçar a metade do infinito, e fazer o sol nascer azul aqui no céu da tua boca. Quero amar a Liberdade, saltar profundo, e viver a Vida. Dançar abraçado a Nietzsche na corda bamba de seda à beira do abismo. E sempre colocar meu coração no bom caminho -- ou seja, no caminho da perdição gostosa e da alegria desgovernada.

Só isso.



4.10.24

Metade do Infinito

 Todo sonho tem um preço.



A todo instante eu vivo um momento único e ultrapasso um ponto de não-retorno. Vejo agora uma virgem deitada de bruços em minha cama, sem blusa, os seios parecem frutas acariciando o lençol branco de algodão. Ela ainda está de calça preta, sandálias de amarrar. Tem um rosto lindo e cândido que me lembra Edna, aquela. Ou Rose, aquela outra. Há incenso indiano queimando no chão, espetado numa laranja, e a música de Yanni, gravada no Taj Mahal, preenche tudo aqui de magia, de agora e de amor. Vou levar-lhe o suco e depois me safar: virgem é um perigo! E me lembro do melhor presente que já ganhei, dado pela inesquecível Edna. Inesquecível por um K2 de razões, mas principalmente porque Edna Mattos Gurgel teve um papel determinante na minha vida. Tanto, que ela seria a mãe de Maria Paula, filha que talvez teríamos, fruto de uma paixão deliciosa, quase desesperante. Nós nos amávamos, sim, profundamente, mas também tínhamos nossas inquietações particulares...

Tem presente que é só uma quinquilharia, uma bugiganga. Mas tem presente que pode mudar o futuro de quem o recebe. O que Edna me deu aquele dia era uma simples folha de papel, com o que disseram sobre mim:

“Todas as aptidões específicas são bastante superiores. Personalidade bem formada. Boa linha de conduta. Metas bem definidas, determinando uma ação bem programada. Atitudes ponderadas e sensatas, com sinais claros de um bom senso de responsabilidade. Disposição para aceitar idéias novas. Espírito aberto e progressista. Desejo de alcançar uma boa expansão pessoal. Interesses intelectuais bem orientados. Vivacidade mental. É bastante teórico, mas nem por isso deixa de lado os aspectos práticos da vida. É por isso muito objetivo no seu raciocínio. Faz um curso de Filosofia Pura, o que muito o ajuda a se desenvolver nesse plano. Sua personalidade, muito bem formada, também lhe permite condições para se realizar no seu trabalho, aproveitando seu potencial em boa amplitude. Os prognósticos sobre o seu desempenho estão completamente a seu favor. Trata-se de um ótimo candidato.”



Este o resultado do exame psicológico 28.047, quando me candidatei (e ganhei) ao cargo de Programador de computadores na empresa Protin Equipamentos de Proteção Ltda. Foi assinado pela psicóloga Cecília P. Cesar, que me entrevistou por uma tarde inteira. Eu tinha dezenove anos e esse relatório, esse presente que Edna me deu mudou minha vida. Definitivamente. Mudou o rumo do meu futuro e também do meu passado. Aquele menino marxista, um pouco introvertido, com cabelos longos, precisava de alguém que lhe mostrasse o tamanho, o enorme tamanho do Divino Lúcifer intelectual que eu trazia no peito. E se você pensa que o Lúcifer todo ainda me habita, engana-se: é apenas Sua alma que hoje mora no meu brilhante coração. Do corpo Dele já não preciso mais:   Eu uso agora o próprio meu.


Como podem ver, minha loucura vem de longe. Aliás, não tenho apenas uma loucura. Para que nossa vida fique muito mais saudável, em todos os sentidos, o ideal é operarmos com duas loucuras, ambas não excludentes, mutuamente complementares e necessariamente brilhantes.


A Loucura é como a Liberdade:
Só lhe damos valor quando a perdemos.


Por falar em Edna, suponho que aquele nosso amor é a prova mais cabal de que as relações, todas as relações, devem terminar no pico. Para que só fiquem boas e belas lembranças. Eu e ela vivemos juntos momentos inesquecíveis, maravilhosos, por mais de dois anos. Fizemos nossos planos e soubemos desfazê-los, na hora certa, sem traumas, sem rancores, sem ressentimentos. Nós nos separamos no pico da relação. Portanto, aquela Edna, Edna Mattos Gurgel, só posso mesmo amá-la sempre.


Depois de muito tempo, em outubro de 2011 (há exatamente treze anos, portanto) nos encontramos por telefone. Conversamos bastante, e alegremente, várias vezes. Porém, antes de encontrá-la de novo, ao vivo, eu precisava escrever algumas coisas sobre aquele nosso tempo. E sobre esse espaço quase infinito que soubemos colocar entre nós dois. (A propósito: eu ainda não a encontrei de novo, nem por telefone).







Eu não quero ensinar nada a ninguém. Não quero ser mestre nem me chamo Buda. Só quero provocar intelectualmente as pessoas criativas. Quero esmagar todas as convicções, especialmente as minhas. Em verdade, não quero muita coisa: só quero abraçar a metade do infinito, e fazer o sol nascer no céu da tua boca. Quero amar a Liberdade, saltar profundo, e viver a Vida. Dançar abraçado a Nietzsche na corda bamba à beira do abismo. E sempre colocar meu coração no bom caminho -- ou seja, no caminho da perdição gostosa e da alegria desgovernada

2.10.24

A moleira do Cansaço

Se você veio aqui nesta página só pra ver florzinha, talvez acabe se frustando. Porque aqui não tem florzinha...

Aqui só tem porrada intelectual na moleira do Cansaço.


Mas não se assuste, pois é sempre uma porrada amorosa. Compreensiva. Poética. Só para te abrir os olhos.


Eu abro os meus braços pra te abrir o coração!


Volume 2.

30.9.24

A Colônia Penal

Dizem que havia uma colônia de vermezinhos graciosos no fundo de um lodaçal. De vez em quando, alguns deles subiam à superfície e nunca mais voltavam. Isso deixava perplexos aqueles que permaneciam lá no fundo. O que será que tem lá em cima, que tipo de perigos pode haver? — eles se perguntavam. Até que certo dia um deles acordou, pôs as duas mãos no coração e prometeu sinceramente aos seus irmãos: 



Preparou-se bem, leu Nietzsche e Henry Miller, armou-se de inocência e de coragem, aguou suas plantinhas, atualizou o Facebook, despediu-se dos amores, desfez as suas malas — e subiu.




Mas, assim que chegou à superfície, viu Luz, transformou-se numa libélula livre, abriu as DUAS asas — entusiasmou-se! — e voou alegremente para o azul anil do céu profundo... 

E agora já não pode mais voltar. 

Morreria se voltasse...




Volume 3.






Atualizei esse texto em 31.12.2022 e republiquei hoje, também no Facebook.

28.9.24

Meu bisavô Luiz Marques

A vida é uma delícia.

Ainda nem era meio-dia hoje de manhã, e já estávamos tomando vinhos perante um hibisco recém-colhido no Jardim da Casa Azul.


E eu fico aqui pensando sobre meu Bisavô Luiz Marques...


O mestre Antonio Abujamra intepreta aqui o texto que escrevi sobre meu bisavô.



SOU BISNETO DA REBELDIA


Meu bisavô, aos sessenta e dois anos de idade, na década de trinta do século passado, abandonou tudo e apareceu por aqui trazendo no colo uma adolescente chamada Vitalina Maria de Jesus. Um despropósito, disseram todos. Mas o verdadeiro rebelde não hesita entre viver e morrer. O velho Luiz Marques, atolado numa estabilidade massacrante, não havia desistido de procurar aquela coisa que atende pelo singelo nome de felicidade.

Gastou janeiro fazendo planos, um mês inteiro ouvindo vozes, que nem Moisés. E aquela menina passando ali, na frente dele, feito convite, descalça, vestidinho de chita, cabelos soltos, meio ressabiada... Os peitinhos despontando. Então o fazendeiro abandonou tudo: as propriedades e as impropriedades que a elas se ligam, a esposa controladora, os filhos perplexos, as fazendas, as noras, os netinhos, os novilhos e as velhas emoções.

Tudo por causa de Vitalina.

Por aquela menina delicada ele daria o mundo. Por ela, e pelo que então simbolizava aquele amor, ele abandonou mais de mil cabeças de gado e todas as certezas que lhe haviam dado como herança. Era um autêntico rebelde: acabou trocando o futuro garantido e certo, porém morno, por um presente delicioso e faiscante.

Jogou fora o velho baú de premissas usadas, quebrou as algemas — e caiu na Vida. Trocou um milhão de verdades antigas por uma pequena mochila de sonhos. Porque, você sabe, não dá para salvar a alma sem antes salvar o corpo. E o que mais excita o ser humano é a possibilidade aberta de uma nova vida. O respeitável senhor Luiz Marques tomou aquelas decisões que só os grandes homens conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto e partiu! Pois ele também já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que abandonar a própria existência naqueles caminhos já percorridos.

Não fosse por isso, eu não estaria aqui, agora, à beira do mar, tomando um belo copo de vinho branco e contando essas coisas todas pra você.

Sou portanto bisneto da rebeldia.

Sou bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores.

E existo, por incrível que pareça. No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas.






O texto acima abre meu livro Manual da Separação. Caso queira saber mais, click na imagem da capa:

27.9.24

No armazém do Meu Pai

NO ARMAZÉM DE MEU PAI

Varrendo os ciscos, os papéis, as tampinhas de garrafa, todo dia, eu aprendi a amar a limpeza, mas não de forma neurótica. Varrendo, aprendi a ter disciplina. Eu só tinha nove ou dez anos, mas já varria com método, coreografando uma espécie de dança com a vassoura, meditando, desenhando na poeira coisas que combinassem com as irregularidades daquele chão de cimento queimado. Varrendo, eu planejava a minha vida. Varrendo ciscos geométricos por sobre os cacos coloridos da cerâmica vermelha eu construía uma louca arquitetura de mistérios insondáveis. E então chegava um cliente querendo talvez meio quilo de açúcar. Ou duzentos gramas de mortadela. Às vezes um pão sovado. Não importava: em qualquer das hipóteses, antes de atendê-lo, eu me transformava no Balconista do Olimpo — e o atendia sorrindo. Simpaticamente. Ou seja, varrendo e vendendo, eu aprendi a perceber padrões. Eu aprendi a interpretar as circunstâncias. Varrendo e vendendo, eu aprendi a ser cigano, a ler as mãos — e ver a Sorte. Todo dia.

Todo.
Santo.
Dia.



Aliás, naquele tempo, eu trabalhava de domingo a domingo. Inicialmente no armazém (dos oito aos doze anos) e depois na Churrascaria (dos treze aos dezessete). Eu tinha apenas uma folga por ano. Só na Sexta-feira Santa. E eu nunca reclamei por isso. No fundo, já aos oito anos de idade, eu assumi, seriamente, ter responsabilidade na economia familiar. E fiz dessa responsabilidade uma virtude.

Eu só saí da minha cidade natal porque queria estudar Filosofia na USP. E fui. E estudei. Entrei direto, sem cursinho. Três meses depois eu já estava na primeira fila, tendo aulas maravilhosas com Marilena Chauí, Oswaldo Porchat e Franklin Leopoldo e Silva, entre outros. Encantei-me com a nova situação.

Um dado interessante. Meu Pai proibiu-me de aprender datilografia. Ele me dizia que eu, com dezessete anos, já tinha a experiência de administrar, com sucesso, um armazém e um restaurante. Arrumar emprego de datilógrafo, portanto, segundo ele, seria um retrocesso. Essa parte da história em conto no meu livro Solidão a Mil. Onde eu também conto sobre o dia em que eu ganhei do meu Pai um rádio portátil Philco, de ondas curtas, trazido pelo Tito Klocker. Era o dia do meu décimo aniversário. Foi com esse rádio que eu aprendi espanhol, ouvindo a Rádio El Mundo, de Buenos Aires. Eu também ouvia, todas as noites, a Rádio Central de Moscou, a BBC, a Voz da América, e a Rádio Pequim. E isso mudou minha vida completamente. Para melhor.




Talvez por isso é que a Sorte me adora tanto. E jamais me abandonou.

26.9.24

Pedido de desculpas

Ao ser levado a pedir desculpas por um erro cometido, o cérebro (*) entende tal procedimento como um reconhecimento tardio de que cometeu um raciocínio mal feito. Esse raciocínio mal feito — que agora exige reparação, e às vezes exige um pedido de desculpas — pode ter gerado uma opinião sem fundamento a respeito de coisas ou pessoas, ou até mesmo um julgamento em forma de ofensa. Então, o cérebro (neste caso, a Consciência), ao voltar atrás num juízo emitido, registra que errou.

Se isso for eventual, o cérebro pode até compreender que certamente aconteceu apenas uma confusão momentânea. Porém, se a ocorrência de erros cometidos é exagerada, o cérebro vai registrando todas essas ocorrências — e acabará concluindo não ser capaz de tomar decisões apropriadas sequer sobre coisas elementares. E vai depreciar-se, inapelavelmente.

Quanto mais pedidos de desculpas, maior será a autodepreciação.

E o cérebro (o Inconsciente) registra tudo isso.

Entretanto, suprimir simplesmente o pedido de desculpas — após a consciência do erro e seu reconhecimento — não adianta nada. Seria uma supressão da conseqüência e não da causa. E nesse caso, agindo assim, tentando falsear a situação, além da depreciação inescapável pelos erros que comete, o cérebro também se sentirá um causador direto de injustiças. Ainda se sentirá responsável pela culpa gerada pelo gesto eticamente mal feito e não reparado. Ou seja, uma lástima.

(...)

Ao contrário do que você talvez ainda pense, não é a Consciência (a Vontade, o Ego) quem manda. O poderoso chefão é o INCONSCIENTE. Élisabeth Roudinesco escreveu um belo livro sobre o tema.


Esse breve texto acima (na verdade um resumo simplificado) é parte de uma tese que pretendo escrever sobre o vício de julgar sem precisão. Que deriva de raciocínios falhos (que nos oferecem conclusões risíveis, geralmente apressadas) e pode acarretar tomada de atitudes sem fundamento — até mesmo arbitrárias — com possível arrependimento posterior e eventual necessidade de pedir desculpas pela suposta besteira cometida.

Atualizo AQUI.




24.9.24

Feliz Aniversário

O presente de Aniversário que eu quero te dar
não pode ser comprado:
Não tem nas lojas, nos mercados, nem nas feiras ou balcões.
Não é feito de plástico, não é eletrônico, nem precisa de manual.
O presente de aniversário que eu quero te dar
já está dentro do teu próprio coração.

Basta que você agora o desperte para a vida:
É o amor pela liberdade absoluta.
É a admiração extrema pela Arte de Viver.
A defesa inabalável da ideia de justiça, de verdade e de prazer.
A coragem de sonhar transformações.
A busca cotidiana por tudo que é sublime,
e o doce desejo de sugar o açúcar de todas as coisas.

Feliz Aniversário!





Restaurante Azul

Eu também gosto de cozinhar... Eis meu almoço de hoje. Acabei de fazer. Talharim Bonalle com alho cozido e bacon, mais brócolis e pimentão vermelho, com azeite, cebolinha e parmesão ralado.








Como sou um garimpeiro de verbos incendiados, só gosta de me ler quem já tem fogo e não se espanta. Mas se eu primeiro não tornar as emoções em gostosura, não serei capaz de abrir meu coração para ser lido com ternura por você. Por isso, só me mostro inteiro após o meu encanto, e só te dou estas palavras depois que as refino. Aliás, se eu primeiro não polir as minhas pedras preciosas com amor e liberdade, como poderia eu querer trocá-las por essa tua tão amável luz diamante?

22.9.24

Primavera

Nesta Primavera até o pé de couve já está florescendo.

Esta horta foi plantada por Joyce Ann no Jardim da Casa Azul.


Não espere a próxima Primavera
para sentir o perfume
de todas as flores.


O ano que vem
pode ser tarde demais.



Brócolis com hibisco e pétalas de gengibre Dulce.





Portanto, fui concebido na Primavera e nasci em 15 de Julho do ano seguinte.

19.9.24

Mais Perguntas

  ALGUMAS NOVAS PERGUNTAS


Quantas vezes você hoje meditou sobre a Vida?

Quantos minutos você hoje caminhou sem pressa?
Quanto tempo hoje você acariciou teu corpo e tua alma?
Quais os alimentos saudáveis que você vai comer hoje?
Tem seguido o que te pede o teu próprio coração?
Quanta gostosura existe nos teus atuais relacionamentos?
Quais são as coisas novas que você aprendeu hoje?
Quantas pessoas você hoje abraçou de verdade?
Quantos livros você está lendo?
Quando foi o teu último grande êxtase?

Quantas vezes hoje você pensou no Amor?
Quantas vezes você hoje ajudou alguém?
Quanto de prazer e de alegria o teu trabalho proporciona?
Hoje, quais as coisas boas que você já fez ou vai fazer?
Como vai a liberdade dos teus amores?
Terá tempo de contemplar a lua e as estrelas?
Tem olhado os pássaros do céu e os lírios do campo?
Como anda o teu Planejamento Estratégico Pessoal?
Quantos anos você supõe que ainda vai viver?
Como vai a tua própria Liberdade?
Quais são os teus Sonhos?

O que é que você quer da Vida?





17.9.24

Aqui é o Céu

Eu detesto relações ordinárias. O que é comum tem um poder impressionante de jamais me impressionar. Eu gosto é de êxtase. Eu gosto de alegria, de sonhos, de encantos profundos. Eu gosto de companhias brilhantes. De pessoas amáveis — que vibrem a todo momento, como se a todo momento fizessem amor. Como se aqui fosse o céu... Porque aqui é o Céu.





15.9.24

Vitalina Flor

A escrita é o código do Verbo. A roda do vinho faz tudo girar. Depois de dois ou três copos minha voz Vitalina, e realiza sinapses verbais. Ideias escorrem pelas pontas dos meus dedos falantes. Eu começo a desenhar flores e planos nos guardanapos do boteco divino, enquanto as delícias dançam no meu próprio coração. Meu peito entusiasmado, pleno de espírito, quase explode de alegria. Trilhões de átomos já estão se reunindo, sonho a dentro e mundo afora, desde hoje, para que eu os encontre em forma de estrelas e corpos em dezembro do ano que veio. E é por isso que eu escrevo declarações de amor a Deus nesta noite açucarada. A roda da vida faz tudo girar. O vinho deve ser redondo, e o Universo — também.



Nesta primavera
vou encher de flores vermelhas
todos os meus vasos
sanguíneos.



Em 2021 fizemos este estacionamento na Onodera Aclimação - SP.

Canteiros do Brasil.

13.9.24

Minha Primeira Empresa

Certo dia, depois de uma conversa com a Vó Vitalina, eu quis montar um negócio no ramo de calçados. Mais precisamente, queria ser engraxate. Queria muito uma caixinha daquelas de madeira para exercer a profissão, que me parecia fascinante e lucrativa. Então, breganhei um relógio Mondaine por uma caixinha já pronta, comprei umas latinhas de graxa na Cofesa, arranjei com minha Mãe uns paninhos velhos, duas ou três escovinhas de dente já usadas, um escova grande, marrom, duas tirinhas de casimira azul de uma velha calça rasgada, juntei-me a dois amiguinhos que já engraxavam — e saí para vencer na vida. Eu tinha quase oito anos. Mas não consegui vencer na vida. Pelo menos não naquele dia, pois meu Pai foi me buscar no Mercado (o Posto Ipiranga do Rivadávia), repreendeu-me com vigor, porém delicadamente, deu minha "empresa" de presente a um menino pobre nosso vizinho — e pediu-me que eu tentasse outra profissão.




11.9.24

Omelete na Casa Azul

Ontem, por sugestão amorosa da Rayara, eu comi o melhor omelete de toda a minha vida. Depois,  eu e ela fomos tomar um vinho Pector, rosé.





E no fim da noite, nos braços da Lua, refinei este poema:


Sou o autor da minha peça e o próprio personagem. A dança e o bailarino, a música, o maestro, compositor. A ternura mais vermelha e delicada, o lóbulo da orelha e o copo de vinho do meu amor. O beijo e o abraço, a delícia e o licor. O êxtase, e todas as auroras que ainda vão chegar.

Sou o céu do precipício, a língua do horizonte — e mais além. Sou o sagrado e o profano, o profundo e o supérfluo, a origem da tragédia, e o brilho da cor. Sou mínimo e tanto, pouco e princípio, paixão, excesso e glória.

Sou relâmpago, transitório, passageiro, imprevisível, pétala de estrela solitária, um pingo de ocidente no teu mel.

Sou todo infinito no entusiasmo, e a última labareda amorosa de uma espécie de fogo em extinção...






9.9.24

A Vida é um Risco

A Vida é um jogo, belíssimo, onde só podemos ganhar aquilo que arriscamos.
Mas você parece que não anda ganhando muito, nem perdendo muito.
Nenhuma derrota acachapante, e nenhuma vitória inesquecível.
Nenhum ato grandioso, nenhum espetáculo...
Nenhuma desgraça horrorosa, mas também nenhuma paixão infinita.
Nenhuma queda profunda, nenhum salto mortal.
Nem pra cima, nem pra baixo.
Nada!
Nem escuridão, nem brilho, nem glória, nem tragédia.


Assim — a tua vida.

Segura, pacata, certinha, e normal.
Tudo em ordem, tudo estável e bem comportado.
Tudo em brancas nuvens.
Tudo meio morno, meio tépido, meio frouxo, meio mole.
Meio apagado.
Meio cinzento e meio sem graça.


Assim — a tua morte.









7.9.24

Independência é fundamental

Viva a Independência.
A dos países e a das pessoas.
A independência política, a financeira,
e a emocional.
A do Corpo e a do Espírito.
A dos amigos — e a dos amores.

Só é livre quem for independente.

PORTANTO,
INDEPENDÊNCIA — OU MORTE!








4.9.24

O Plano de Salvação

A vida é muito curta.

Isto é fatal.

Mas,
se eu pudesse começar de novo,
tomaria certos cuidados que nem sempre tomei:
Jamais teria permitido que me prendessem,
ainda que em nome do amor.


Teria quebrado as correntes logo no início.

Teria tido menos pressa
e mais coragem.

E nenhum sentimento de culpa.

Daria valor secundário
a todas as coisas secundárias,
e consideraria secundário tudo aquilo
que não tivesse o efetivo poder de causar
mudanças significativas no rumo
da minha vida.

Todas as manhãs começariam
com meditação, orgasmo e frutas leves.


Se pudesse começar de novo,
dançaria muito mais
do que dancei,
e brincaria muito mais do que brinquei.

Minha Vida seria uma festa...

Se pudesse mesmo começar de novo,
seria mais espontâneo.

Seria mais ousado:
A ousadia move o mundo.

Desobedeceria
todas as regras injustas,
e afastaria os preconceitos e a hipocrisia.

Procuraria respeitar sempre
o Deus de cada um.

Teria viajado muito mais do que viajei.

Correria mais riscos.

E teria tido seis milhões de amores profundos...

Se eu pudesse começar outra vez,
iria aprender com os erros dos outros,
e com os acertos também.

Andaria mais leve:

não levaria comigo nada que fosse
apenas um fardo.


Não teria desperdiçado tanta vida
e tanto tempo.


Não teria tentado salvar todo mundo.

Amaria muito mais a liberdade.

Viveria cada minuto
como se Deus
derramasse flores e estrelas na minha cabeça.

Tentaria uma coisa nova
todos os dias.

Em tudo que fizesse colocaria
mais Poesia,
mais Amor, mais Alegria.


E teria feito a opção de ser feliz
muito mais cedo
do que fiz.


Edson Marques

Manual da Separação
página 71



Este meu texto (apenas o tema) foi inspirado num poema chamado INSTANTES, erradamente atribuído a Jorge Luís Borges. Veja detalhes AQUI e também no Jornal de Poesia. (uma explicação.)



Eu optei por ser feliz aos doze anos de idade. Já lia muito, inclusive Pitágoras, Neruda e Karl Marx, mas não foram (só) esses três que iluminaram os meus caminhos. Eu olhei para os lados, e vi a vida sem graça que as pessoas do meu meio viviam. Aquilo me chocava. Eram pessoas infelizes, que só reproduziam relações antigas, só seguiam as regras. Acomodadas e passionais. Então, analisei as circunstâncias, vislumbrei um futuro, estudei ainda mais — e tomei a decisão. Conscientemente. Elaborei um Plano de Salvação. E o segui à risca. Com disciplina, com amor, com muita leitura, com estudos profundos, com determinação.

Deu certo.

Esse poema, portanto, não foi feito para mim, pois a a maior parte do que ali se diz eu já faço desde que me conheço por gente. Cometi alguns erros, é claro. Liguei-me quatro ou cinco vezes a pessoas ciumentas, e sofri por manter tais relações por períodos demasiado longos (no total dessas relações, perdi uns três ou quatro anos de vida). Por descuido, também tomei algumas decisões equivocadas, em outras áreas, mas tudo se resolveu (maravilhosamente bem) a seu tempo. O que lamento mesmo, e lamentarei até o fim dos meus dias, é ter perdido aqueles quase três ou quatro anos com pessoas ciumentas, inseguras, possessivas. E esse tempo é irrecuperável. Houve também alguns jacarés nos quais depositei confiança e saquei mordidas — mas essa é outra história...



Eu, no dia em que ia cortar os cabelos, em 1982.


31.8.24

Quando me apaixono

Quando me apaixono por alguém não lhe peço a identidade. Não quero saber de onde veio, qual a cor da sua pele ou seu estado civil. Não me importa a sua idade, nem o CEP, nem as coisas que já fez. Sobrenome, CPF, pretensões — nada disso me interessa.

Não requeiro experiência. Aliás, eu a dispenso...

Quando me apaixono por alguém, dou-lhe toda a minha alma, e não exijo recompensa. Não lhe peço nada em troca: não se trata de um negócio. Não lhe tiro coisa alguma — especialmente a liberdade. E a fidelidade, é uma questão que nem se põe. Eu me entrego inteiro, e do resto nem quero saber. O que importa é ser feliz.

Quando me apaixono por alguém, eu me apaixono — simplesmente.







29.8.24

O Professor

Quando adolescente, eu tinha o hábito racional e elegante de agradecer aos professores logo depois das aulas recebidas. Todos os professores. Sempre os considerei Mestres... E não era por puxassaquismo, não. Era um sentimento real de agradecimento por aquilo que compartilhavam comigo.

Cheguei a escrever um poema para os professores, cuja ideia central é esta:

(...)
O professor mostra ao aluno a diferença entre o silogismo e a serpente. Ensina-o a extrair raiz quadrada com poesia. Demonstra como ser ousado sem ser burro. Jamais abusa da confiança do aluno, não lhe invade o espaço, não procura condicioná-lo. Não cria relações de dependência, nem exerce dominação sádica sobre ele. Infunde-lhe o respeito absoluto pela vida. Prefere o aluno criativo ao bem-comportado. Nunca o explora, é só o conquistador de um novo mundo, que leva o aluno a ver mais — mais alto e mais longe.
(...)



Eu conto algumas dessas histórias no meu livro Solidão a Mil. Aqui tem parte dele: www.SolidaoaMil.com




27.8.24

Paloma Blanca

Me lembrando do México em 1989...



Una canción me recuerda aquel ayer
Cuando se marchó en silencio un atardecer
Se fue con su canto triste a otro lugar
Dejó como compañera mi soledad
Una paloma blanca me canta al alba
Viejas melancolías, cosas del alma
Llegan con el silencio de la mañana
Y cuando salgo a verla vuela a su casa
¿Dónde va? Que mi voz
Ya no quiere escuchar
¿Dónde va? Que mi vida se apaga
Si junto a mi no está
Si quisiera volver
Yo la iría a esperar
Cada día, cada madrugada
Para quererla más

Se fue con su canto triste a otro lugar
Dejó como compañera mi soledad
Una paloma blanca me canta al alba
Viejas melancolías,…





Mas hoje eu estou aqui, no Brasil, escrevendo poemas de amor para um novo grande amor.



25.8.24

A Nova Vida

Às vezes nós temos que desistir da nossa vida antiga. Das velhas razões. Das velhas relações. Das velhas emoções. Desses móveis quadrados que nos imobilizam... 





Ontem eu fiz frango com curry e arroz cozido com batata, cenoura e açafrão.

23.8.24

Eu e Nietzsche

Anteontem, eu e Nietzsche fomos almoçar no Restaurante do Capitão, no Guarujá. Lá no meio das árvores, embaixo de uma bandeira pirata, ficamos comendo baião-de-dois, carne seca e mandioca frita. Falando sobre a vida e tomando cerveja com tequila. Por mais de seis horas... Na saída, eu ele abraçamos um cavalo magro que puxava uma carroça velha carregada de papel.

E choramos.


E ontem eu tomei Tequila com Biotônico Fontoura.


Para comemorar essa bebida criada por Paritosh Keval em 2007.

21.8.24

Eu acordo de madrugada

Não basta só abrir a janela: é preciso abrir também a parede. Escrevi essa frase agora mesmo, aqui na cama. Acordando com uma ideia na cabeça: a de criar mais uma empresa, além da PCB com Joyce Ann. Mas só na cabeça: o coração ainda não se manifestou. Um copo de leite gelado é o que eu quero agora.



Tem dias em que eu acordo de madrugada, como hoje, e tem dias, como ontem, em que eu durmo de madrugada. Sempre sozinho. Sozinho e completo. E eu vejo que isso é bom. Porque houve tempos em que eu não dormia nem sozinho e nem completo. E aquilo não era bom. Mas as coisas melhores que eu teria para dizer ainda não se acordaram, nos dois principais sentidos da expressão. Portanto, vou ficar aqui, no coração do silêncio. Não: acho que vou tomar um copo de leite ao lado do pezinho de lírio, ouvindo pássaros. Depois, a gente vê o que acontece com esse sábado maravilhoso.




Texto originalmente escrito por mim há mais de doze anos, em 08.01.2012, quando eu, de propósito e de modo altamente racional, estava experimentando uma tormenta (só para refinar minha capacidade de propor soluções inteligentes para circunstâncias similares).


Um novo livro sendo gestado.