16.12.08

Paritosh - diálogo

Diana sai do banho, cabelos molhadinhos, envolta numa toalha azul, encosta seus peitinhos nos meus ombros nus e diz que precisam ir embora já, as duas. Compromissos, promessas, escola, professoras, mães preocupadas — coisas assim. Como chove, e porque quero, vou com elas. Quando volto, Paritosh continua na sala, pensativo, com a sacola colorida de Jenny Lou nas mãos, as roupas que ela havia trazido anteontem. Me pergunta, sem me olhar: — E as meninas?
— Fui levá-las.
— Mas Jenny Lou "esqueceu" a bolsa aqui... Ato falho?
— Não: ato de amor, sem falha alguma — digo.
Vejo que ela deixou na mesa da sala um bilhete escrito em vermelho: "Amei te amar. Assinado: Jenny Lou".
— Ela te deixou um bilhete — eu lhe aviso.
— Acho que é pra você — ele me diz. — Não tem nome.
(Talvez seja.)
— Quer tomar alguma coisa? — pergunto.
— Não, mas tenho um pouco de fome — diz Paritosh.
— Que tal salmão cozido ao molho de laranja, com arroz? — proponho.
— Seria ótimo!


Convido-o a buscarmos o peixe, vamos em profundo silêncio. E eu tentando me lembrar de Roberto Freire: "Porque te amo, tu não precisas de mim; porque tu me amas, eu não preciso de ti. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.”
(Acho que é mais ou menos assim.)
Quando já estávamos na fila da balsa para Santos ele me diz:
— Volte, Swami.
— Por quê?
— Volte, pegue o caminho da Cachoeira.
Obedeci com naturalidade.
Na chácara das plantas, no farol, ele me orienta:
— Pare, deixe o carro aqui, longe, e vá sozinho — a pé. Lá na esquina há uma placa: "Peixaria do Povo". Entre, compre meio quilo de sardinhas, mas peça ao balconista, o Silvano, que as escolha uma a uma.
— Sardinhas?! — eu me espanto.
— Sim.
— Meio quilo é muito pouco, Mahatma...
— Não discuta, há dois mil anos que eu as multiplico.
(Gosto dessas palavras, tanto, que as havia esquecido.)
Ele permanece no carro, quieto. Trago o pacotinho de peixe, voltamos passando pela rua onde Silene mora e me lembro do seu pai — e da navalha suspensa. "Preciso cortar o cabelo de novo". Assim que entramos em casa, Paritosh pega o Mateus branco que sobrou de ontem e me pede, olhando as sardinhas prateadas:
— Agora, Edson, lave-as com amor, enxugue-as, uma a uma, passe-as em farinha de trigo, e frite-as em óleo de girassol. Bastante óleo, e bem quente. Não economize. Lembre-se de Jesus...
Me agradam os detalhes e a sugestão mitológica.
E ele insiste me dizendo volte.
— Volte, Swami, volte mais ainda, retorne às origens. Você não nasceu só para morar na praia tomando champagne. Volte à goiabeira lá no fundo do quintal, suba de novo no pé de jaca, na mangueira. Colha os ariticuns maduros, veja os maracujás pendurados na cerquinha de taquara. Trepe naquela mesma laranjeira, e colha metáforas em vez de laranjas. Brinque de novo com tua irmã que já morreu, pese outra vez meio quilo de sal para o velhinho do Ibiti, varra ciscos no armazém. Abrace teu irmãozinho — que ainda nem bebia. Volte, Swami, volte fundo na tua inocência, abrace mais forte teu pai que já se foi. Pegue a mesmo desenho que um dia você fez pra tua Mãe, e dê-lhe outra vez — só que agora dance com ela na sala da frente. Derrame aquelas lágrimas que você guardou por todos esses anos e abrace os teus irmãos, um a um, como fossem meus. Chame-os de Thiago, de Ana, de André...

E meu Mestre continua falando, falando, como se soubesse tudo a meu respeito. "O peixe vai acabar queimando bem no meio das lembranças..." — penso. Mas Loreena Mckennitt me encanta novamente com sua voz céltica de Janaína irlandesa. Delicado, ele põe a emocionante sacolinha colorida de Jenny Lou no meu colo, segura minha mão direita, dá-me um beijo demorado e amoroso no meu rosto, e quase some.
— Paritosh? — tento chamar-lhe para dizer alguma coisa.
— Sim?
— Nada...
Então enxugo meus olhos com um guardanapo de papel e volto à cozinha, multiplicar os peixes — pois também tenho fome.
Também sou humano.