2.10.25

Desapego charmant

O apego é sinal de insegurança e falta de personalidade. Mas, se você tiver necessidade absoluta compulsiva de apegar-se a alguma coisa, apegue-se logo a uma Mercedes conversível, e não a uma canequinha de lata.

Apegar-se a uma coisinha comum, é imperdoável. É como apegar-se a uma canequinha de lata, ou a um saquinho de tranqueiras...

É ridículo!

Por que amar um jacaré se você pode amar um Deus?

O foco desse meu texto tem duas vertentes. A primeira é o horror ao apego. Mas deixei uma alternativa para quem não consegue livrar-se dele. Que possa então escolher algo mais interessante para apegar-se: algo melhor do que uma canequinha de lata. Algo que possa dar mais prazer. Suponho que um Camaro preto dê mais prazer do que uma canequinha de lata. Mas nem todos concordam com isso. Tem gente que nem dirige...

A segunda é a confusão entre apego e amor. Entre apego e gosto, preferências, escolhas, desejos. Eu gosto muito de pão e café: será que sou apegado a pão e café? Eu gosto de vinho e estrelas, eu amo a liberdade, eu amo a minha Mãe, eu amo meus amores: será que sou apegado a isso tudo?


Porque sou zen. E porque sou zen e lógico, suponho que sou zen. Entretanto, tem gente que se apega a beijos, a flores, amores...


Tudo vem da cabeça. Até o coração vem da cabeça. Inclusive os olhos. E os meus olhos se arregalam, mesmo, diante de uma Mercedes conversível preta. Diante de uma obra de Niemeyer, de um poema de Neruda, de um sorriso de criança. Meus olhos se arregalam diante de um belo corpo de mulher menina.


E se isso for demonstração de apego, contradigo a minha própria zenidade.

Esse assunto ainda vai longe...




1.10.25

Feliz aniversário!

O presente de Aniversário que eu quero te dar
não pode ser comprado:
Não tem nas lojas, nos mercados, nem nas feiras ou balcões.
Não é feito de plástico, não é eletrônico, nem precisa de manual.
O presente de aniversário que eu quero te dar
já está dentro do teu próprio coração.

Basta que você agora o desperte para a vida:
É o amor pela liberdade absoluta.
É a admiração extrema pela Arte de Viver.
A defesa inabalável da ideia de justiça, de verdade e de prazer.
A coragem de sonhar transformações.
A busca cotidiana por tudo que é sublime,
e o doce desejo de sugar o açúcar de todas as coisas.

Feliz Aniversário!






30.9.25

Depressivos e saudáveis

Eu escrevo para amantes e sensatos, ciumentos e malucos, depressivos e poetas... Tento a todos incendiá-los com meu verbo ensolarado. Invento-lhes metáforas alegres, e dou-lhes chaves e faíscas com que abram suas portas. Certos dias dou-lhes minha luz escandalosa e minha mão cheia de creme, mas em outros só pretendo inundá-los de profunda escuridão. Alguns dias dou-lhes uma dúzia de tijolos e um pouco de cimento, mas em outros só lhes trago duas rosas vermelhas e um vasinho de lírios. Às vezes, acabo revelando-lhes certas senhas que resolveriam com amor os seus enigmas — e talvez por isso mesmo é que alguns fogem de mim, apavorados.







Original publicado por mim em Junho 2011.


.

28.9.25

Olhe para os lados

Agora mesmo, onde você estiver, olhe para os lados. Ajuste a consciência, apure a sensibilidade, abra seu coração, respire fundo, olhe para os lados outra vez, e responda-me sinceramente:


São?!

Porque, se assim não forem, responda-me:


(...)


Mas a pergunta pode ficar ainda mais radical:

— Você manteria relacionamento com uma pessoa que não é amorosa, ou não é compreensiva, ou não é inteligente, ou não é excitante, ou não é audaciosa, ou não é livre, ou não é saudável, ou não é brilhante, ou não é honesta, ou não é sensível, ou não é delicada, ou não é independente, ou não tem entusiasmo algum pela vida?






26.9.25

Se eu pudesse começar de novo...

A vida é muito curta.

Isto é fatal.

Mas,
se eu pudesse começar de novo,
tomaria certos cuidados que nem sempre tomei:
Jamais teria permitido que me prendessem,
ainda que em nome do amor.


Teria quebrado as correntes logo no início.

Teria tido menos pressa
e mais coragem.

E nenhum sentimento de culpa.

Daria valor secundário
a todas as coisas secundárias,
e consideraria secundário tudo aquilo
que não tivesse o efetivo poder de causar
mudanças significativas no rumo
da minha vida.

Todas as manhãs começariam
com meditação, esplendor e frutas leves.


Se pudesse começar de novo,
dançaria muito mais
do que dancei,
e brincaria muito mais do que brinquei.

Minha Vida seria uma festa...

Se pudesse mesmo começar de novo,
seria mais espontâneo.

Seria mais ousado:
A ousadia move o mundo.

Desobedeceria
todas as regras injustas,
e afastaria os preconceitos e a hipocrisia.

Procuraria respeitar sempre
o Deus de cada um.

Teria viajado muito mais do que viajei.

Correria mais riscos.

E teria tido seis milhões de amores profundos...

Se eu pudesse começar outra vez,
iria aprender com os erros dos outros,
e com os acertos também.

Andaria mais leve:

não levaria comigo nada que fosse
apenas um fardo.


Não teria desperdiçado tanta vida
e tanto tempo.


Não teria tentado salvar todo mundo.

Amaria muito mais a liberdade.

Viveria cada minuto
como se Deus
derramasse flores e estrelas na minha cabeça.

Tentaria uma coisa nova
todos os dias.

Em tudo que eu fizesse colocaria
mais Poesia,
mais Amor, mais Alegria.


E teria feito a opção de ser feliz
muito mais cedo
do que fiz.


Edson Marques

Manual da Separação
página 71



Este meu texto (apenas o tema) foi inspirado num poema chamado INSTANTES, de "Nadine Stair" (Don Herold), erradamente atribuído (inclusive por Bono Vox) a Jorge Luís Borges. Veja detalhes AQUI e também no Jornal de Poesia. (uma explicação.)




Eu optei por ser feliz aos doze anos de idade. Já lia muito, inclusive Pitágoras, Neruda e Karl Marx, mas não foram (só) esses três que iluminaram os meus caminhos. Eu olhei para os lados, e vi a vida sem graça que as pessoas do meu meio viviam. Aquilo me chocava. Eram pessoas infelizes, que só reproduziam relações antigas, só seguiam as regras. Acomodadas e passionais. Então, analisei as circunstâncias, vislumbrei um futuro, estudei ainda mais — e tomei a decisão. Conscientemente. Elaborei um Plano de Salvação. E o segui à risca. Com disciplina, com amor, com muita leitura, com estudos profundos, com determinação.


Deu certo.


Esse poema, portanto, não foi feito para mim, pois a a maior parte do que ali se diz eu já faço desde que me conheço por gente. Cometi alguns erros, é claro. Liguei-me quatro ou cinco vezes a pessoas ciumentas, e sofri por manter tais relações por períodos demasiado longos (no total dessas relações, perdi uns três ou quatro anos de vida). Por descuido, também tomei algumas decisões equivocadas, em outras áreas, mas tudo se resolveu (maravilhosamente bem) a seu tempo. O que lamento mesmo, e lamentarei até o fim dos meus dias, é ter perdido aqueles quase três ou quatro anos em relações com pessoas ciumentas, inseguras, possessivas e, por consequência, tediosas. E esse tempo é irrecuperável. Houve também alguns jacarés nos quais depositei confiança e saquei mordidas — mas essa é outra história...



Eu, no dia em que ia cortar os cabelos, em 1982.



25.9.25

Minha primeira empresa

Quando me perguntam sobre o que sou e o que faço digo apenas que sou um Criador. Tenho ideias, muitas, sobre vários temas, todo dia. Projetos, sonhos, invenções. Planos loucos, inclinados, geniais. Alguns são colocados em pedaços de papel, outros vivem no meu próprio coração. Muitos viram livros, amores, empresas, relações, consultorias. O importante é que meu primeiro grande amor foi Marina, aos sete anos de idade.


Hoje sou um analista de sistemas. Um analista de circunstâncias.


Mas meu primeiro empreendimento foi na área de calçados, também aos sete anos (fui engraxate, por duas ou três horas). Depois, a AJAN — Aliança Juvenil dos Amantes da Natureza — foi considerada subversiva pelos militares, que a fecharam. O meu time de futebol durou só dois anos, pois concluí que era melhor continuar sendo o craque do time do que ser apenas o dono da bola. A administração do Boteco (que depois virou armazém e quase mercado), até os 15. O Restaurante, aos dezesseis, em cuja construção aprendi com meu Pai a beleza do piso cerâmico em diagonal, continua funcionando até hoje. O terceiro projeto comercial, aos 22 anos, logo após ter sido gerente de informática na Protin, foi a K-Misster, que virou minha segunda empresa — e que abandonei de modo romântico e poético, como se pode ler dando um click na imagem seguinte: 




Como já disse acima, aos 22 anos eu montei minha segunda empresa. Uma confecção. O nome era K-misster, e ficava na Avenida Nacionalista, número 100, Itaquera, SP. Aluguei um galpão, comprei doze máquinas na rua São Caetano, montei um bom estoque de tecidos, que comprei na 25 de março, contratei dezessete costureiras e soltei o meu barquinho em alto mar. Eu também desenhava os modelos. Cheguei a vender, entre outros, vários lotes para as Lojas Piter, que ficavam ao lado do Teatro Municipal. Mas a fábrica era muito longe, e eu queria curtir a vida e estudar filosofia... Depois de três ou quatro meses larguei tudo. Dei as máquinas para as costureiras, comprei um carro conversível — e saí pelo mundo. Viver novas experiências.

Deu certo.




24.9.25

Três tipos de relacionamentos

Eu quero que neste final de ano você mantenha apenas três tipos de relacionamentos:

1.
Os que te dão prazer e alegria;

2.
Os que são necessários à tua sobrevivência;

3.
Aqueles que te trazem boas informações ou sabedoria, estimulam a criatividade e te fazem progredir.

E que todos os demais sejam considerados dispensáveis.











23.9.25

Meu irmão Beto

Beto, um dos meus irmãos, começou a ter autonomia aos quinze anos. Com dezoito já tinha carro próprio e uma energia sensual impressionante. Bonito, saudável, simpático, charmoso e elegante. Inteligente. E com dinheiro no bolso. E com uma bundinha arrebitada que até hoje é famosa entre as mulheres. Portanto, tinha tudo para ser o que realmente foi: um conquistador maior do que Alexandre, o Grande.

Mas depois, numa das curvas da estrada da vida, lá nas Colinas de Golan, na Curva do Pelame, derrapou, e foi convencido a se casar. Ou melhor, um casamento enorme caiu-lhe na cabeça como um cofre despencando do vigésimo quinto andar. E não havia mesmo como safar-se, em vista de circunstâncias que agora não me cabe analisar. Era o destino errando no cálculo, como se costumava dizer naquele tempo. Casou-se — e foi um marido exemplar por vinte e cinco anos. Acontece que, para um tipo desses, amante da Liberdade, é impossível ser um marido exemplar por vinte e cinco anos — impunemente.

É contraditório.

Mas Beto foi realmente um marido exemplar. Só não sabemos ainda a que custo. Ninguém pode dedicar-se por tanto tempo a uma relação só — tediosa — e sair sem cicatrizes ou tristezas, traumas, hematomas...

Por isso eu vivia lhe dizendo para que saltasse profundo. Sempre recusou. Mas hoje, até que enfim, ele resolveu saltar. Só que escolheu a porta errada.

Morreu.






Beto morreu na madrugada de 12.12.2012. Ninguém me avisou que ele já estava há quatro dias na UTI... Se não tivesse morrido, em 30/07 estaríamos comemorando o aniversário dele.


Um dado histórico:

Há pouco mais de vinte anos, numa certa noite de outubro de 2004, fui visitá-lo num quarto de hospital em Sorocaba, SP. Ele havia sido internado devido a uma complicação qualquer. Conversamos muito, e ele me pareceu bem, embora triste. Na minha volta ao Guarujá, descendo a Serra, sozinho, gravei um texto que, depois, revisado e publicado no blog Mude, ficou assim:



Eu tenho um irmão chamado Beto. Mas, para ele perceber que a Vida já lhe fugia pelo vão dos dedos, foi preciso que a Morte o visitasse algumas vezes. Claro que ele já poderia ter mudado há muito tempo, mas o medo e as falsas responsabilidades o impediam. Por anos e anos a fio, o coitado bateu ponto no Banco do Brasil, religiosamente. Nunca faltou. Nunca teve uma aventura. Nunca leu um livro meu. Nunca se desviou do caminho traçado por outros. Nunca teve um orgasmo fora de casa. Isto porque, antes de viver a própria Vida, disseram-lhe, ele teria que salvar o casamento, a família, a tradição, a propriedade, a camada de ozônio, a Mata Atlântica, o mico-leão dourado e o Sistema Financeiro Nacional.

Quando ele ficava de saco cheio, davam-lhe mais um — vazio, e enorme...

Fizeram-no quase esquecer como se vive. Trabalhava doze horas por dia, era o primeiro a chegar na seção. Um consultor agrícola competente — ou um modelo de peão, dependendo do ponto de vista. Mesmo quando parado, corria por dentro. Ele se achava indispensável.


Vangloriava-se por ser normal e não ser livre...

Até que ontem à noite, deitado na UTI de um Hospital em Sorocaba, sozinho, de olhos fechados, teve um insight: ele era um homem realmente indispensável — mas indispensável só para si mesmo. Concluiu que o mundo não acabaria se ele morresse ali, estatelado entre tubos e agulhas. Se o seu coração parasse naquele exato momento, o mundo não cairia aos pedaços no fundo do abismo, como ele supunha por anos a fio. Todo aquele antigo excesso de esforço havia sido desnecessário, ele enfim concluiu. De certo modo, havia sofrido em vão. E agora a decisão crucial era mudar — ou morrer...


Acabou sendo salvo pela própria Morte. 


Publico tal texto, novamente agora, porque esse foi um dos alertas que ele recusou-se a ouvir. Persistente, sobreviveu mais oito anos, sem saltar profundo e sem mudar a essência do próprio sufoco. Em verdade, naquela noite de outubro de 2004, Beto não teve nenhum insight. Fui eu que ardentemente desejei que ele tivesse. Aliás, ele detestava a expressão "saltar profundo". Eu e meus irmãos, irremediavelmente, somos diferentes. Somos muito diferentes... 


Assim como não fui aos funerais do Paulo, também não fui aos funerais do Beto. Sou contra velar o corpo: prefiro velar a alma. A propósito, eis o que penso hoje sobre a Morte.



22.9.25

Primavera




Nesta Primavera até o pé de couve  já está florescendo no jardim da Casa Azul.

Esta horta foi plantada por Joyce Ann no Jardim da Casa Azul.


Não espere a próxima Primavera
para sentir o perfume
de todas as flores.


O ano que vem
pode ser tarde demais.



Brócolis com hibisco e pétalas de gengibre Dulce.





Portanto, fui concebido na Primavera e nasci em 15 de Julho do ano seguinte.

20.9.25

Quarenta coisas

As Coisas mais importantes pra você fazer neste ano


01. Tome mais água, mais vinho e mais sol.
02. Escolha melhor os teus próximos amores. Prefira os livres.
03. Viva com mais Entusiasmo, com mais Energia, e com mais Coragem.
04. Arranje sempre algum tempo para planejar o teu futuro.
05. Faça atividades que estimulem o teu cérebro.
06. Leia mais livros do que você leu no ano passado.
07. Fique em silêncio alguns minutos todo dia. Pense. Reflita. Medite.
08. Procure dormir tranquilamente, para acordar de bom humor.
09. Faça exercícios físicos. Caminhe pelo menos 30 minutos por dia.
10. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
11. Não compare a tua vida com a de ninguém. Cada um tem sua história.
12. Seja sempre um otimista racional.
13. Mantenha o controle absoluto dos teus estados de espírito.
14. Não se torne sério demais. Só os alegres vão pro Céu.
15. Só gaste tua preciosa energia com coisas importantes.
16. Sonhe mais. Sem sonho não se cria absolutamente nada.
17. Saiba que a inveja é um desesperado sinal de fracasso.
18. Jamais conclua apressadamente. Analise antes as premissas.
19. A vida é curta demais para ser tão pouca. Viva mais!
20. Faça as pazes com o teu passado para não estragar o teu presente.
21. Ninguém comanda a tua própria felicidade, a não ser você mesmo.
22. Tenha consciência de que você não vai viver mil anos.
23. Sorria mais. Encontre motivos para dar umas boas gargalhadas.
24. Não é preciso vencer todas as discussões. Aceite a discordância.
25. Entre mais em contato com teus amigos e com teus amores.
26. Nunca perca uma oportunidade de ajudar alguém.
27. Se não puder perdoar a todos, ao menos os compreenda.
28. Misture-se aos melhores.
29. Jogue fora tudo que não presta.
30. O que outros dizem a teu respeito nunca vai mudar a tua essência.
31. Não permita que um simples idiota comprometa o teu destino.
32. Faça sempre o que é correto, justo e verdadeiro.
33. Procure não trair jamais a tua própria natureza.
34. Deus cura todas as doenças — exceto o mau humor e a maldade.
35. Valorize a própria liberdade, acima de qualquer outra coisa.
36. Estude. Estude sempre. Estude o máximo possível.
37. O melhor ainda está por vir — em todos os sentidos.
38. Só o que está morto não muda.
39. Preencha o teu coração com alegria, esperança e gostosura.
40. Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.


TransCriação de Edson Marques sobre um texto de Jesus + partes do poema Mude.


Um arco-íris embaixo da Capela da Mãe.



O poema Mude - Lou Reed e WolfMother.


19.9.25

Deus canhoto

Embora a gente saiba que o mundo não tem lado de dentro nem lado de fora, nem esquerda nem direita, nem parte de cima ou parte de baixo — eu hoje descobri algo muito interessante. Considerando a dança espiralada das galáxias, a frenética explosão das supernovas e a forma encantadora com que Deus criou a maçã; considerando o espírito de Einstein contido nos átomos que fazem o meu próprio coração; considerando a gargalhada amorosíssima que minha Mãe ontem me deu por telefone ao meio-dia; considerando tudo isso e olhando o mundo daqui onde estou, da perspectiva de um pezinho de lírio branco e ouvindo pássaros — ou seja, do Pico — eu descobri que Deus é canhoto. Vejam que coisa mais impressionante!










18.9.25

Elogios e críticas

ELOGIOS E CRÍTICAS

Algumas considerações sobre os meus pontos de vista



Como toda pessoa com posições seriamente democráticas — no sentido grego da expressão — eu aceito tanto as críticas positivas quanto as negativas a respeito do que sou, do que penso, e do que faço. Todas elas são, por definição, simples manifestações de opinião — e todas, por isso mesmo, igualmente passíveis de serem verdadeiras ou falsas. Com base nessa premissa tão elementar eu concluo que seria irracional privilegiar umas em detrimento das outras.


Embora (como para todo mundo, suponho) certos elogios me sejam mais agradáveis do que as críticas negativas, costumo ver nestas um sinal — e acabo valorizando-as até mesmo um pouco acima daqueles. Primeiro, e só para efeitos de raciocínio, suponho-as desinteresseiras e com algum valor de verdade. Procuro entendê-las no contexto, racionalmente, a partir de uma certa e segura distância brechtiana. Se ocorre não concordar com algumas delas, mas se também consigo refutá-las com sucesso — ainda que apenas mentalmente — deixo-as de lado, e sigo em frente no que faço, no que sou e no que penso, livremente.


Decididamente.



Porém, se tais críticas são bem formuladas e tocam meu coração de alguma forma; se perdura em mim uma certa sensação de que as mereço realmente — não as desprezo, não as esqueço, nem tento desqualificá-las de modo algum. Então, nesse caso, a partir delas e sensatamente, procuro tomar providências, mudar concepções, aprimorar o que faço e melhorar o que sou — como ser humano, como filho, amigo, amor, amante ou companheiro de jornada.


O mesmo raciocínio vale para os meus textos e poemas. Para as
paredes que eu desenho, as fotos que eu faço, as relações que mantenho, os projetos que apresento, os pratos que eu cozinho, as idéias que proponho, as atitudes que tomo, e os livros que eu escrevo.


Claro que vale também para
essas múltiplas gostosuras que vivo compartilhando com todos os meus amores principais.



Essa abertura poética na cabeça dançante é que torna minha vida uma
aventura inesquecível.


Extraordinária.


E finalizo com um breve texto que escrevi em 1984 — inspirado por Nietzsche — logo após terminar minha primeira leitura do seu genial livro Assim Falava Zaratustra:


Não existem verdades definitivas, inquestionáveis. O que existe são interpretações elaboradas sobre determinados aspectos da realidade — comprováveis ou não — mas necessariamente condicionadas pelo ponto de vista, pelos interesses, pela visão do mundo, e pela capacidade intelectual de quem as propõe.




Piso que ajudei meu Pai a fazer quando eu tinha 15 anos de idade.

Talvez fosse a Calçadas do Brasil já germinando.






Imagine que hoje é teu último dia de vida.

16.9.25

Coração sangrando

Hoje um coração à deriva, sangrando, me pediu socorro. Mas vi que sangrava falso, e sangrava tanto, que sangrará de novo se eu socorrê-lo assim. Portanto, é melhor que sofra para ver se aprende. Porque não era um simples coração coitado: era um coração ciumento, que sangrava muito por causa errada. Ele tinha perdido o objeto amado, e só queria um outro, substituto, que lhe fosse escravo... Então, ajudar por quê? Não vale a pena estancar um sangue que é mal vertido. Não posso, portanto, vender meu corpo como remédio.

Dei-lhe um band-aid.




15.9.25

Dois períodos

Só me interessam dois períodos da minha vida: 

os piores e os melhores.


Os piores, porque já passaram — e não voltam nunca mais.

E os melhores, porque acontecem exatamente agora
neste impreciso, fantástico e absoluto momento
em que coloco minha cabeça delicada no teu peito descoberto
e vejo a Lua dizer-me olá!




13.9.25

Meu Pai e os girassóis

A melhor lição que meu Pai me deu.

Se. Eu. Não. Estudar. Eu. Vou. Me. Foder.



MESTRE ZEN COM VARA DE MARMELO

Meu Pai era racional demais, disciplinado demais, e ético demais. Dominava o cálculo, era íntimo dos números, ensinou-me a tabuada do 13 quando eu tinha sete anos. Quem não sabe a tabuada se fode, ele me dizia. Nasceu para o comando. Era dono de uma violência verbal impressionante — e nunca deixava pra depois as broncas que pudesse dar. Exagerado, tinha seus momentos de loucura: de vez em quando mandava fazer almoços festivos para crianças pobres. Era comum se reunirem duzentas ou trezentas em nosso restaurante. Absteve-se do jogo, não fumava, mas bebia um pouco mais do que eu supunha o certo. Com duas exceções, nunca o vi de fogo. Ele nunca nos disse que gostava de poesia, mas certa vez mandou que plantassem trezentos e sessenta pés de girassol no fundo do quintal da nossa casa. Depois que as plantas cresceram, ele ficava toda tarde um tempão lá no fundo, sentado num banquinho improvisado de madeira, sorrindo, encantado, tomando vinho vermelho — e olhando os girassóis girarem... Meu pai, portanto — e no fundo — talvez não fosse apenas um simples comerciante atarracado e ex-delegado de polícia. Talvez fosse um poeta. Pena que não teve tempo de ficar completamente louco: morreu aos 49, por erro de um médico que tinha a morte até no nome.



Acabou sendo enterrado sem sapatos, por uma sábia decisão de minha Mãe. Pois ele dizia que nas ocasiões especiais temos que ir de sapato novo. Então, em respeito ao que dizia e supondo ser aquela uma "ocasião especial" — íamos sair para comprar-lhe um par de novos, lá na loja do Jacopetti. Mas a Mãe foi incisiva, além de delicadamente irônica:
— Prá quê? Vai só com as meias!
Com isso, demonstrou que o comando, agora bem-humorado, passaria a ser dela.

Para um bom entendedor, meias bastam...



Conselhos do meu Pai

Além das suas recomendações sobre sempre respeitar a propriedade alheia — e nunca usar sapatos velhos — há outras dele das quais agora me lembro:

1.  Respeite a tua Mãe.
2.  Não carregue pacotes.
3.  Não economize na comida.
4.  Seja dono do teu próprio negócio.
5.  Junte-se aos melhores.
6.  Beba pouco.
7.  Estude bastante.
8.  Não fume.
9.  Não transe com as empregadas.
10 Não minta — exceto se for para salvar a vida.

Quando morreu, trazia no bolso, na carteira de couro marrom, uma carta, dobradinha, meio amarelada e com sinais evidentes de muitas leituras. Não sei onde pode estar o original. Talvez tenha tido o mesmo destino daquelas fotos que as doentes rasgaram. Felizmente a memória não se perde. Não é possível rasgar uma lembrança, destruir um símbolo, esconder um coração. Manifestações de amor, como essa do meu pai ao carregar minha carta consigo — até no dia da sua própria morte —, não se apagam. É uma honra para mim.

Obrigado, Pai!

11.9.25

Ultrapassando limites

 

Foto feita hoje de manhã no quintal da Casa Azul, enquanto eu tomava sol e também o café que fiz com água benta e açúcar cristal.


Sem fome, sem sono, sem culpa, e sem dor. Sem pressa, sem apego, e sem pressões. Sem esperas, sem cobranças, sem promessas. Sem medo e sem controle, sem ódio e sem juízo. Sem maldade — e sensível. Sentindo-me eterno no transitório. Conseguindo equilíbrio no instável, no incerto e no inseguro. Amado com delícia e liberdade, e amando com grandeza e ousadia.

Passageiro numa viagem sem destino, percorrendo caminhos ainda não trilhados. Cada vez mais fascinado e encantado com os novos horizontes que se abrem para mim. Adorando as surpresas no momento mesmo em que acontecem, e vivendo a Primavera em qualquer das estações.

Quebrando as barreiras, de modo irreversível. 


Encontrando a essência de cada coisa nela mesma. Compreendendo as razões também daqueles que não me compreendem. Vivendo o mais profundo, o mais criativo, o mais sensual, o mais inocente e o mais sagrado período da minha vida.

Sugando a doçura de todas as coisas...

Vivendo as maiores e melhores paixões da minha vida, e vibrando com tudo que me toca. Sentindo-me a cada momento como se Deus me cobrisse de glórias, de flores e estrelas. Dançando nas minhas próprias e nas Suas emoções. Inundado de carinho e gratidão. Com a cabeça nas nuvens — e o coração no infinito.


Portanto, o que mais posso eu querer da vida, além de amores livres e brilhantes, crepúsculos cor de abóbora nessa praia que eu prefiro, óleo de amêndoas doces, um buquê de rosas brancas e vermelhas, duas ou três taças de vinho transbordantes, muita liberdade, alegria, saúde, poesia, gostosura — e tempo livre para viver tudo isso? 





9.9.25

No amor a posse é impossível

Não penso que te possuo — nem quero te pertencer. Não importa se isso dure, nem é preciso que se acabe. Não sei se será sempre tão bom assim, e nem busco certezas eternas. Mas, como as delícias do agora me encantam — e bastam — até posso dizer que já estou começando a te amar. Por isso eu me entrego como um ponto de luz nos teus olhos de mar e um toque sutil na tua pele de Amor. Pois eu só te quero como um risco delicado, um perigo iminente, transitória gostosura — nada mais.

Eu não te quero compromisso: eu te quero dança.

Te quero paixão e alegria. Sem excesso de presença e sem sufoco da esperança. Desse modo, nem meu mundo termina aqui, nem você será prisioneira de mim. Afinal, somos livres um do outro — para sempre.





7.9.25

A independência é fundamental

Viva a Independência.
A dos países e a das pessoas.
A independência política, a financeira,
e a emocional.
A do Corpo e a do Espírito.
A dos amigos — e a dos amores.

Só é livre quem for independente.

PORTANTO,
INDEPENDÊNCIA — OU MORTE!








Qual será dos meus irmãos ?





Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?


Será aquele que eu trouxe no colo, chuviscando, ao lado de um pai desesperado, numa charrete azul puxada por estrelas e ternuras? Será aquela, pequenina, de quem salvei a vida, tirando-a de uma tina cheia de água e sabão, com esforço indescritível? Será aquela que arrumava minha cama com amor na sua casa aconchegante, depois de dar-me um prato de comida e um abraço?



Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?

Será aquele com quem colhemos serralha nos confins do Guarujá e depois jantamos entre vinhos e lembranças? Será aquela que me mandava pés-de-moleque, até por Sedex, e em cuja caixa ainda hoje eu guardo meus tesouros de papel? Será aquele com quem tomei cerveja inesquecível num boteco em Sorocaba várias vezes?



Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?

Será aquela com quem nos perdemos na Serra da Melancia, lá no sítio do Julinho, entre coivaras e alegrias? Será aquele com quem jantamos uma bela caldeirada de salmão no Perequê, numa noite plena de confissões, de risadas e projetos? Será aquela que me escrevia poesias profundas como se eu realmente as merecesse? Será aquela com quem choramos uma tarde inteira sobre um túmulo em frangalhos? Será aquela que sempre me recebia com flores e carinho em sua casa?



Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?

Será aquele que me fez chorar numa ambulância ao vê-lo todo ensanguentado? Será aquela que me emprestou um livro do Reich pleno de caráter? Será aquele que matava bois quando eu chegava e me recebia como a um rei? Será aquela a quem na minha infância eu chamava, carinhosamente, de trator? Será aquela com quem apostei uma viagem a Paris só para salvá-la de um desastre?



Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?


Será aquela que eu buscava toda noite no cursinho e no trabalho em SP? Será aquela que me visitou no Guarujá, no dia em que ficamos quatro horas conversando ao lado da piscina? Será aquele para quem comprei uma brasília amarela há mais de vinte anos? Será aquela com quem comíamos filé à cubana na Barra Funda, nas horas do almoço? Será aquela cujo ex-marido tentou matar-me por eu tê-la defendido certa vez? Será aquele a quem escrevi um lindo poema, chorando na estrada deserta, logo após tê-lo visitado num hospital do interior? Será aquela que já fez tanto por mim, tão sinceramente?



Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?

Será aquela que várias vezes esteve em minha casa na alameda Barros em São Paulo? Serão aquelas com quem viajávamos, que nem andarilhos românticos, pelo sul de Minas Gerais? Será aquele que trouxe a família toda ao Guarujá, numa ocasião em que abandonei até meu trabalho só para tratá-los melhor? Será aquela que sempre me disse eu te amo? Serão aquelas que um dia me encontraram sozinho numa pensão japonesa na zona do mercado? Será aquela com quem fui ao norte do Paraná atrás de um jagunço que lhe matou o marido a sangue frio? Serão aquelas a quem eu toda noite trazia sorvete de abacate, e lhes dava em silêncio?



Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?

Será aquela a quem dei certa vez uma sandália barata porque eu não tinha mais dinheiro? Será aquela com quem fui ao fórum para tentar, em vão, salvá-la de um casamento horroroso? Será aquela que fotografei no dia da morte do nosso pai, pequenininha? Será aquele com quem ficamos conversando sobre a liberdade, ao lado de uma cachoeira em São Francisco? Será aquela que me convidava para jantar todo dia em sua casa no Ibirapuera? Será aquela com quem viajávamos livremente pela vida? Será aquela que agora mesmo deve estar muito triste, pensando no que fez?



Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?

Será aquele a quem certa vez escrevi um poema de amor, e que foi publicado em jornal? Será aquela que me deu uma delicada camisa branca? Será aquele cujo e-mail sincero me levou às lágrimas ontem à noite? Será aquela com quem jantávamos, sempre alegres, num restaurante chinês de Perdizes? Será aquele que ficou louco por ser sensível demais? Será aquela que vivia por trás do muro de Berlim, numa casinha de madeira deliciosa, onde conversávamos ao sol da meia-tarde? Será aquela que ainda hoje me abraça dançando toda vez que me encontra?



Qual será dos meus irmãos aquele que não quer que eu fale mais com minha Mãe?







Esse poema acima foi escrito há mais de vinte anos, em 31.01.2004, depois que o telefone da minha Mãe foi maldosamente trocado (pelas minhas irmãs) sem que Ela tivesse sido sequer avisada a respeito disso. O motivo delas era torpe. Eu telefonava para minha Mãe todos os domingos, ao meio-dia em ponto, desde 1994. E conversávamos amorosamente, sempre. Todos os domingos! E esse nosso amor, é claro, gerava nelas um ciúme enorme...
  





Relendo hoje, 07.09.2025, entre os hibiscos florescendo, no maravilhoso quintal da Casa Azul, só pra dizer que eu venci. De novo.



E continuo falando com minha Mãe. 










O projeto da Capela da Mãe na parede da Casa Azul