Quanto tempo você acha que ainda vai viver?
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Experimente-me.
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Quanto tempo você acha que ainda vai viver?
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Numa discussão racional sempre sou flexível. Se os argumentos de um suposto adversário forem melhores do que os meus, seria burrice não admitir tais fatos. Aliás, admitindo-os, eu amplio meu sistema de informações. De certo modo, fico ainda mais inteligente, pois acabo incorporando ao meu repertório algumas informações ou conclusões que eu antes não tinha.
Jó havia perdido tudo: a esposa e as amantes, o gado, os filhos, a lavoura e as empresas. Perdeu seus camelos, suas tendas e colares. As carroças conversíveis e os cartões de crédito. Seu mundo começou a ruir. E Deus ainda teve a maldade de cobri-lo com lepra da cabeça aos pés. Jó ficou sem a casa e o jardim, sem o churrasco e a cerveja, sem a música, sem champagne, sem morangos. Na miséria mais absoluta. Sem café e sem Drambuie...
Seus amigos — como sempre acontece! — desapareceram. Até seus irmãos o desprezaram.
Jó perdeu tudo, mas não perdeu a autoconfiança. Perdeu tudo, menos a fé — que era exatamente o que Satanás queria que ele perdesse.
Você sabe da história: Deus apostou com Satanás. Aliás, segundo a Bíblia, essa foi a única aposta que Deus já fez em toda sua vida. Então a esposa de Jó, ciumenta, pede-lhe que amaldiçoe Deus — e que morra. Como você vê, já naquela época o casamento acabava em pancadaria. Depois, ainda chegam três amigos que ficam sete dias e sete noites reclamando no ouvido de Jó. Visita de sete dias é um horror; amigo reclamando, então, nem se fala. E Jó, mesmo assim, não amaldiçoou Deus, não — de jeito nenhum.
Mas quando ficou de saco cheio daquela situação, resolveu agir, decidiu confrontar Deus. Subiu ao topo da montanha mais alta que havia naquelas bandas, e gritou: "Deus, o senhor tá me fodendo, mas eu nunca pequei, não mereço passar por isto. Sou inocente!"
E Jó louva Deus.
E Deus então fala com Jó através de um trovão. Deus usa metáforas, você sabe. Às vezes metáforas ribombantes... Deus manda sinais — e não é todo mundo que os entende. Deus não fala português. A presença de Deus impressiona Jó, mas Deus não lhe dá as respostas que ele queria. Deus usa uma linguagem poética, e lhe pergunta: "Jó, onde o caminho da morada de quem engendra a geada do meu céu?"
Jó fica pensando. E mesmo sem ouvir as respostas que buscava, Jó tem um insight. Jó se transforma espiritualmente, se arrepende, aceita o seu destino, aceita as suas dores. A sua sina. A sua cruz.
Então Deus começa a devolver tudo o que Jó havia perdido: os camelos, as amantes, as tendas, os cartões de crédito, a saúde, as carroças conversíveis, a alegria de viver — e até mesmo o celular e os licores. Mas quando chegou a vez da esposa, Jó gritou: "Essa, não, meu Senhor. Essa não!"
E Jó voltou a viver — cheio de graça e alegria.
E dormindo sozinho numa casa de casal.
Dizem que chegou aos 140 anos...
Feliz da Vida!
O Livro de Jó é radical.
Portanto, antes que a nossa hora chegue, eu gostaria que você pensasse um pouco mais no Livro de Jó. Na aposta de Deus com Satanás — esse duelo de titãs. Como é que foi parar na Bíblia essa grande obra literária? A principal questão do livro de Jó, filosoficamente, é esta: Qual a razão do sofrimento humano? É bom lembrar que estávamos no ano 400 antes de Cristo, mais ou menos. E o autor dessa história ninguém sabe quem foi. Mas era um gênio da literatura, o Shakespeare da Bíblia. Fosse hoje, teria criado um blog chamado Mude a Vida.
Edson Marques.
Minha respeitosa versão.
Do meu livro Solidão a Mil – página 352.
Uma Crítica - Por Felipe Fanuel
Salve!
É com bastante alegria que leio esse texto. Muita coisa interessante! Suas leituras revelam sempre um lado desconhecido de qualquer hermenêutica: a sensibilidade poética de ler detalhes, perceptíveis apenas por gênios que sentem a vida antes de serem sentidos por ela. Essa idiossincrasia nos insere no seu mundo, literário por essência, porque você quer ver a realidade do jeito que ela é, não como um meio, tampouco como um fim, mas como ela é, como vida. É por isso que seu blog nos faz pensar, nos incomoda, faz-nos ridículos diante da tela, provoca problema de vista. (Na vida real, a gente vê uma cadeira e acha que é para sentar, ponto. Aqui você pinta a cadeira e diz que ela é só cadeira, nada mais, pois a sua condição é ser cadeira.)
Sabe. Seu comentário de Jó mostra uma aproximação extremamente radical com a narrativa. Na verdade, você constrói uma outra narrativa a partir da narrativa. Que se dane o Jó histórico (ele existiu?), você quer o Jó literário! Aquele Jó parecido com muita gente hoje: tinha tudo, hoje tem nada. Personagem arquetípico é, portanto, já que não há sociedade onde não se prega a consciência de que quem tem muito deve-se cuidar para não ficar na lama. A aposta divina com o cão merece um romance. Aí tem coisa! Vale a pena botar a pena no papel. De quebra, a sua aplicação filosófica do livro no final denuncia uma quedinha sensível (que há muito eu já desconfiava) pela ontologia. Afinal, a pergunta "qual a razão do sofrimento humano?" já está repleta de respostas. O autor do Livro de Jó seria mais insolente. Sua ontologia é mais confrontativa do que questionadora. Sua ontologia é mitológica. Religiosa, diríamos apressados. Mas esquecemos que no mito, na resposta, já está a pergunta existencial profunda, do mesmo jeito que hoje, na pergunta, já está a resposta.
Mas tem dias que eu tento conter este divino coração que salta profundo de mim, e que me beija dançando de dentro pra fora. Amantíssimo, poético, livre — e meu: eis o meu coração, meu amor: escancarado em teus braços... Porque em mim agora não existem outras estações. A primavera toda cresce dentro do meu peito, e as flores já não murcham mais. Sou um trem desgovernado em direção ao interior. Zen, vazio de tudo mas cheio de graça, com seu louco motivo e doce razão. E o apito sinuoso que se ouve daqui, reto, respeitoso, se curva.
Também não quero que me considerem muito original: eu apenas repito o que me dizem os pássaros livres no quintal azul da minha Mãe. Transformo em português, literalmente, os cantos que eles cantam para mim. E repito-os para que vocês possam ouvi-los de verdade em nossa língua. Às vezes, quando chove chuva e o canto deles vem molhado, limpo um pouco o seu trinado, acrescento algumas notas, pinto-as de vermelho, reescrevo a melodia. E transformo o bem-te-vi em bem-te-vejo. O beija-flor em minha estrela. O pardal em perdão, o tiziu em tesão. E abro todas as gaiolas.
Todos os dias.