Hoje eu vi uma cena impressionante: Joana fazia o café quando sua filha, a Lunna, lhe perguntou:
— Mamãe, quanto tempo demora pra ferver a água?
— Uns dez minutos — ela respondeu, dando o assunto por encerrado.
E a menina ficou ali, sentadinha ao lado da mesa, imersa em dúvidas e olhando para a fumaça que saía pelo bico da chaleira, enquanto a mãe se afastava para abrir a geladeira. Como se pegar um pote de manteiga fosse mais importante do que dar uma aula de lógica à filha... E eu fiquei pensando que deveria existir um "Curso de Mãe". Obrigatório. A nenhuma mulher seria concedido o direito de ter filho se não passasse, com louvor, nos exames desse curso. Enquanto não souber a diferença entre vitaminas hidro e lipossolúveis, por exemplo — não tira o diploma. Enquanto não ler e entender o livro A Nova Criança, não tira o diploma. Enquanto não conhecer um pouco de Freud nem ser capaz de falar em duas línguas com o filho (ou a filha) — não será aprovada. Nesse caso, a possibilidade de ter filhos será zero. Absolutamente zero!
Eu sei que o que proponho é algo ideal. Nem tudo são flores na vida das pessoas. Nem todos têm chance de preparar-se, de refinar-se. O sistema acaba atropelando quase todo mundo. O tempo é escasso. As pressões são infinitas... Eu compreendo. A inteligência emocional é coisa rara. /// Essa história continua. Mas o texto ficou longo demais, e ainda não decidi se vou publicá-lo todo aqui. Eis mais um pedaço:
Entretanto, se passar nas provas, ela, além de boa mãe, ficará inclusive mais esperta para escolher o marido... Mas, voltando à fervura, eu não interferi nessa questão porque não sou o pai da Lunna. Sou apenas o tio. Aliás, o pai (meu cunhado) talvez nem mesmo saiba por que emprestou os espermatozóides para gerar essa amável criança, há cerca de seis anos. Esse pessoal parece que faz filho como se estivesse fazendo amor — com "a" minúsculo. Sem projeto algum. Sem responsabilidade alguma. Sem planos para o destino do fruto. Mas essa é outra história. Quero voltar à pergunta da Lunna, e às lições que dela podemos tirar.
Coloquei-me, então, mentalmente, no lugar da atarefada Joana. Ao ouvir a pergunta do filha, eu largaria tudo que estivesse fazendo e me sentaria ao lado dela. Desligaria o fogo, pegaria nas mãozinhas da Lunna, olharia bem no fundo dos olhinhos dela, e lhe diria, sorrindo:
— Filha, o tempo de fervura da água é variável. Depende de uma série de fatores... No Guarujá é diferente de Cochabamba...
— Onde fica Cochabamba, mamãe?
(...)
— Mamãe, quanto tempo demora pra ferver a água?
— Uns dez minutos — ela respondeu, dando o assunto por encerrado.
E a menina ficou ali, sentadinha ao lado da mesa, imersa em dúvidas e olhando para a fumaça que saía pelo bico da chaleira, enquanto a mãe se afastava para abrir a geladeira. Como se pegar um pote de manteiga fosse mais importante do que dar uma aula de lógica à filha... E eu fiquei pensando que deveria existir um "Curso de Mãe". Obrigatório. A nenhuma mulher seria concedido o direito de ter filho se não passasse, com louvor, nos exames desse curso. Enquanto não souber a diferença entre vitaminas hidro e lipossolúveis, por exemplo — não tira o diploma. Enquanto não ler e entender o livro A Nova Criança, não tira o diploma. Enquanto não conhecer um pouco de Freud nem ser capaz de falar em duas línguas com o filho (ou a filha) — não será aprovada. Nesse caso, a possibilidade de ter filhos será zero. Absolutamente zero!
Eu sei que o que proponho é algo ideal. Nem tudo são flores na vida das pessoas. Nem todos têm chance de preparar-se, de refinar-se. O sistema acaba atropelando quase todo mundo. O tempo é escasso. As pressões são infinitas... Eu compreendo. A inteligência emocional é coisa rara. /// Essa história continua. Mas o texto ficou longo demais, e ainda não decidi se vou publicá-lo todo aqui. Eis mais um pedaço:
Entretanto, se passar nas provas, ela, além de boa mãe, ficará inclusive mais esperta para escolher o marido... Mas, voltando à fervura, eu não interferi nessa questão porque não sou o pai da Lunna. Sou apenas o tio. Aliás, o pai (meu cunhado) talvez nem mesmo saiba por que emprestou os espermatozóides para gerar essa amável criança, há cerca de seis anos. Esse pessoal parece que faz filho como se estivesse fazendo amor — com "a" minúsculo. Sem projeto algum. Sem responsabilidade alguma. Sem planos para o destino do fruto. Mas essa é outra história. Quero voltar à pergunta da Lunna, e às lições que dela podemos tirar.
Coloquei-me, então, mentalmente, no lugar da atarefada Joana. Ao ouvir a pergunta do filha, eu largaria tudo que estivesse fazendo e me sentaria ao lado dela. Desligaria o fogo, pegaria nas mãozinhas da Lunna, olharia bem no fundo dos olhinhos dela, e lhe diria, sorrindo:
— Filha, o tempo de fervura da água é variável. Depende de uma série de fatores... No Guarujá é diferente de Cochabamba...
— Onde fica Cochabamba, mamãe?
(...)
Lunna com cinco dias de palco.