9.8.25

As medidas que a vida tem

Morei por quase dois anos no Morro do Sorocotuba, no Guarujá. Lá de cima, da janela do oitavo andar, eu costumava ficar olhando as árvores se moverem ao sabor do vento. Cheguei sempre a ter certeza de que conversava com algumas delas, de longe, amorosamente. Também sabia que não estava louco, nem pirado. Nunca me considerei louco, nem quando, às vezes, fazia pontes para as formiguinhas na descida para a praia. Elas, coitadinhas, não conseguiam atravessar o regato cantante que tem lá. Eram cento e oitenta degraus que me amparavam naquele caminho florido e verdejante.

A praia é bem pequena e sossegada. Foi nesse lugar que mantive as melhores relações comigo mesmo. Ainda volto a esse pico um dia desses. Por uns tempos. Foi por volta de 1998. O zelador era o Sr. Eduardo, budista – de quem tenho saudades. A visita constante era Ana Paula, uma das meninas mais delicadas e cultas que já vi em toda minha vida. Costumava pedir-me que lhe tirasse as medidas do corpo, das pernas, dos seios. Como não tínhamos fita métrica, eu usava as alcinhas do sutiã dela, e simulava contar os centímetros. Duas ou três vezes por semana eu lhe tirava as medidas, e até as anotava numa agendinha com coraçõezinhos na capa. Ana Paula, quinze. Uma delícia inesquecível.
(...)

Página 237 do meu livro Beijos no Céu da Boca.
💙
Só os 15 dela é que são ficção.
O resto é tudo verdade.
👆