Certo dia, depois de uma conversa com a Vó Vitalina, eu quis montar um negócio no ramo de calçados. Mais precisamente, queria ser engraxate. Queria muito uma caixinha daquelas de madeira para exercer a profissão, que me parecia fascinante e lucrativa. Então, breganhei um relógio Mondaine por uma caixinha já pronta, comprei umas latinhas de graxa na Cofesa, arranjei com minha Mãe uns paninhos velhos, duas ou três escovinhas de dente já usadas, um escova grande, marrom, duas tirinhas de casimira azul de uma velha calça rasgada, juntei-me a dois amiguinhos que já engraxavam — e saí para vencer na vida. Eu tinha quase oito anos. Mas não consegui vencer na vida. Pelo menos não naquele dia, pois meu Pai foi me buscar no Mercado (o Posto Ipiranga do Rivadávia), repreendeu-me com vigor, porém delicadamente, deu minha "empresa" de presente a um menino pobre nosso vizinho — e pediu-me que eu tentasse outra profissão.