17.10.07

ciúmes

O ciúme é o primo pobre da Inveja. Pobre e completamente desajeitado. O ciúme é o câncer do amor — mas Daniele não sabia disso. Alguns velhos idiotas haviam lhe ensinado, erradamente, que o ciúme é uma legítima demonstração de amor. E a inocente Daniele acreditou piamente nas besteiras que lhe diziam aqueles velhos idiotas. Por isso, ela nunca soube que o ciúme é apenas um contraditório sentimento de inferioridade. Um sentimento mesquinho, maldoso e sem graça. Uma patologia, uma neurose descrita nos manuais de psiquiatria, e tão feia, tão vergonhosa, tão degradante, que poucas pessoas assumem que são portadoras dessa doença...

Mas aqueles seus ataques cotidianos de ciúme ofuscavam-lhe a beleza. Ela dizia me amar — mas queria me prender.

Enfim, um belo dia eu lhe declarei o único tipo de amor que posso amar. E lhe disse algo mais ou menos assim: "Menina, se o nosso amor não pode ser livre, como terá que ser, então: Um amor preso, acorrentado, encarcerado?"

Não adiantou.

Eu propunha que ela fosse a minha musa — mas ela queria mesmo era ser a minha dona. Não lhe bastava habitar meu coração: ela queria colocar-me uma canga.
Queria ser a dona exclusiva do meu corpo e ainda policiar o meu espírito.

E você sabe como terminam histórias assim, não é?

Nenhum poeta jamais terá dono.
Aliás, nenhum ser humano deveria ter dono.

Porque qualquer ser humano que aceita ser propriedade de um outro, deixa de ser humano, e passa a ser vil.