17.11.24

Razões para sorrir


Não espere a próxima primavera
para sentir o perfume de todas as flores.



Amanhã pode ser tarde demais.

Há oito dias ele estava assim, viçoso.









Razões para chorar. 

Eu acredito sempre na supremacia da ternura. Escrevi esta frase na página 4 de um livro de Erich Fromm, onde ele analisa a Antígona de Sófocles. Eu a escrevi num momento de silêncio após ter almoçado uma deliciosa comida-surpresa, no Pedra Baiana. Coloquei açúcar hoje na salada e temperei com vinho. Me acham louco, também por coisas assim. Eu estava me lembrando de como os infelizes têm certas dificuldades de raciocinar com lógica, quando fui interrompido pelo dono do restaurante, que veio me cumprimentar, todo sorridente. O cozinheiro já tinha vindo antes, e os três garçons também. Não sei o que eles veem em mim. Talvez gostem de poesia ou talvez saibam que eu amo Henry Miller. Não sei. Mas eles são simpáticos e competentes. Leio mais um pouco, pago a conta, me dão balas, vou embora. O carro estava na sombra, felizmente. Resolvo então passar no Pão de Açúcar da Presidente Wilson. Escolho um vinho diferente, duas garrafas, só para experimentar; guaraná Antarctica, um leite Parmalat premium, um pedacinho de queijo, duas mangas. E entro na fila, cantando por dentro. Divagando...  

Será que vou à praia agora? Vejo um dvd do Sammy Davis Jr na gôndola ao lado e me lembro do meu Pai, que gostava dele. A menina do caixa tem os olhos lindos. E os lábios dela, parecem da Angelina Jolie. Bem que eu beijaria... Alguém me liga, convidando pra jantar. Atendo e desligo. Não posso: tenho que terminar o desenho daquele projeto. Nossa, já são quase três horas! Acho que vou subir à piscina primeiro. Tomara que aquela gostosinha de Piracicaba esteja hoje lá de novo. Me lembro de algumas cenas do filme A Filha de Ryan, que vi de madrugada. Olha, que loira linda ali, escolhendo melancias... Acho que vou... 


Eis que acontece um insight: Na fila, logo atrás de mim, dois rapazes contam suas moedinhas... Meu mundo vira de ponta-cabeça na hora! Um deles trazia quatro salsichas num saquinho transparente. Será que vai dar, o mais novo perguntou. E o outro recontou as moedinhas, uma por uma. Acho que vai, responde, apreensivo. Duas lágrimas rolam dos meus olhos e eu tento disfarçar. Um monte delas caem de novo agora enquanto escrevo isto. Meu Deus: como pode nossa sociedade ainda produzir cenas como essa? Tanta complexidade só para comprar quatro salsichas?! Tanta dor e tanto sofrimento por causa de noventa e quatro centavos?! Tanta humilhação só para se matar a fome?! E meu coração me diz que devemos fazer alguma coisa... Então, peço-lhes, gentilmente, que passem à minha frente, e o que faço depois não é preciso contar aqui.


Isto aconteceu no dia 10 de janeiro de 2008, quando eu estava fazendo uma obra em São Vicente, SP, no Condomínio Brasil Colonial, e, além do Guarujá, morava também no Flat Paladium.