Minha formação religiosa foi determinada basicamente por um conselho, dado com amor por Dona Iracy, minha Mãe, quando eu, aos oito anos de idade, estava de saída para a cerimônia da primeira comunhão e lhe falei sobre o medo que eu tinha de confessar meus pecados — aqueles mortais, veniais, fatais, sexuais, etc. e tais.
Ela então me disse, piscando um olho: "Conte só os pequenos. Os outros já foram perdoados por Deus..."
Dessa forma carinhosa, minha Mãe acabou salvando-me a alma do inferno cristão, só para depois jogá-la, também com amor e ternura, na socrática fogueira da poesia!
Mas hoje eu não cometo mais pecados.
A menos que sejam amorosos, inocentes, fascinantes, e se tornem, portanto, inevitáveis...
Eu me lembro das canções de ninar que Ela cantava para que eu não dormisse — do Kyrie Eleison ao Noel Rosa. Eu me lembro do conselho que me deu: que eu nunca deixe de ser Eu. E me lembro do dia em que eu nasci: era um dia de duplas esperanças. Era uma noite de luar azul escandaloso. Era um sábado de aleluias e esperas, de poesia e de romance... Era uma casinha de madeira e primaveras, ao lado de uma bela roseira branca — no finzinho de uma rua principal. Era hora de metáforas, era hora de loucuras. Como toda musa entusiasmada era fora deflorada por um jovem delicado que se chamava Luiz. Era outra vez madrugada e ela sozinha outra vez. Foi então que essa Mulher maravilhosa se decidiu me dar a Luz. E deu.
Era o começo de duas histórias de Amor.