14.1.23

Sonho da Mãe

O primeiro corpo de mulher que eu toquei foi o da minha Mãe quando eu nasci. Ele brilhava só por mim, como a própria luz da virgindade poética. Era um farol no alto da montanha, era um sino na catedral de amor por onde entrei neste mundo encantador.


Eram sete e vinte da manhã e eu vibrei cento e oitenta vezes sem parar. Aquilo não era um parto natural, era uma partitura. Minha mãe não gemia, cantava — e eu não era só um bebê normal que nascia de um corpo humano, mas uma sinfonia em sol maior que floresceu a partir de uma semente divina, colorida, entusiasmada.

Era um sábado de aleluias, e eu amei chegar como cheguei. Naquele momento, ao ouvir as mil badaladas, eu já senti que o meu destino era viver.