24.1.23

Jesus

Jesus é o Caminho para o Reino de Deus, e esse Reino é a Liberdade Total. E se Jesus é a Verdade e o Exemplo, então deveríamos obviamente segui-lo. Mas, em vez de percorrê-lo, nós destruímos esse Caminho — para que ninguém mais consiga passar por ele. Nós matamos o Exemplo não só para que nós mesmos não alcancemos o Céu (ou "Reino de Deus", que aliás está dentro do nosso próprio peito), mas também para que ninguém mais o alcance. Para que todos se percam. Para que todos desperdicem essa única possibilidade de Salvação...


Porque o Exemplo de Jesus vai contra a Tradição, contra a Família, contra a Propriedade, contra as convenções sociais, contra a Hipocrisia e, principalmente, contra a Autoridade. Jesus nunca trabalhou, não tinha casa própria, andava descalço, estudou Filosofia, namorou uma mulher solteira (que diziam ser prostituta porque era livre), questionou a própria Mãe, brigou com os irmãos, gostava de vinho, de perfume e dos cafunés da Maria, fez alguns milagres — e nunca se apegou a rigorosamente nada. Nem à própria Vida. "Olhai os lírios do campo" — dizia o Louco. "Olhai os pássaros do Céu: não tecem nem fiam, etc". Jesus era brilhante. Você vai entender o que estou dizendo se ler, sem preconceitos, lá em Mateus 6 ponto alguma coisa, o "Sermão da Montanha".

Exceto talvez pela morte trágica, a vida de Jesus deve ter sido realmente uma delícia. Só festa, cultura e alegria. Jesus vivia coçando o Divino Saco. Nunca se deixou explorar por um patrão ou por uma esposa ciumenta. Nem por um pai dominador. Claro que um "Exemplo" como esse não poderia ser enaltecido pela classe dominante. Claro que esse "Caminho" teria mesmo que ser destruído pelos conservadores. Açoitado, crucificado e, principalmente, desqualificado.

Portanto, o Jesus para o qual hoje se reza é outro — não Este.

Escrevi o texto acima após ter visto o filme A Última Tentação de Cristo.