4.11.22

Viver ou morrer

Chocolates e algemas

Ela me queria muito e me queria todo e me queria sempre — mas não me queria livre. Dizia me amar, e acho que era sincera. Mas dava-me algemas de presente todo dia. Chocolates e algemas. Algemas de ouro forradas com veludo azul. Vivia me dizendo que eu era a razão da vida dela, e que "morreria se um dia me perdesse". Portanto, para manter a dignidade, só me restou abrir meu peito e deixar-lhe um bilhete, um dolorido bilhete azul e rasgado na mesa da sala.

— Meu amor, se eu tiver que não viver para que você não morra, então existe entre nós uma contradição insuperável. Lamento muito: pode comprar o teu caixão e encomendar teu funeral. O máximo que posso fazer, religiosamente, todo dia 2 de novembro, será depositar algumas flores — amarelas — no teu túmulo.

Jamais te esquecerei,
Adeus.