2.11.08

Flores no túmulo

Ela me queria muito e me queria todo — mas não me queria livre. Dava-me algemas de presente todo dia. Algemas de ouro forradas com veludo azul. Ela vivia dizendo que eu era a razão da sua vida, e que morreria se um dia me perdesse. Portanto, para manter minha dignidade, só me restou abrir meu peito inteiro e deixar um bilhete rasgado na mesa da sala.

Abre aspas:


Meu amor, se eu tiver que não viver para que você não morra, então existe entre nós uma contradição insuperável. Lamento muito: pode comprar o teu caixão e encomendar teu funeral. O máximo que posso fazer, todo dia 2 de novembro, será depositar algumas flores — amarelas — no teu túmulo.

Adeus.


E nem precisa fechar as aspas.