30.11.22

Dez razões para (não) casar

Em 29 de dezembro de 2013, revisando meu livro Solidão a Mil para uma nova edição, eu encontrei na página 384 a descrição de uma conversa que eu havia tido com Fernanda quando eu fui morar no Guarujá, em 1995. Era sobre as "Dez Razões Para Nunca Mais Casar De Novo" — título de um livro que eu então estava escrevendo. Em que talvez eu ainda acrescente parênteses, deixando uma abertura em defesa da liberdade: Dez Razões Para (Nunca Mais) Casar De Novo.

Eis a parte inicial do Capítulo 13:

— Odeio-me por te amar... — ela me diz quase chorando.
— Não entendo — minto-lhe que não entendi, segurando-lhe as mãos.
— Odeio-me por te amar do modo errado! — ela enfim confessa. E eu sei que essa confissão lhe é dolorida. Depois de seis meses tentando mudar-me, em vão, ela jogou a toalha.
Procurando continuar o diálogo que já dura séculos, perguntei:
— Mas por que você não pode me amar do modo certo?
— Porque eu só sei amar do modo errado... — ela diz e me abraça, como se quisesse adiar o momento final. Embora ela tenha qualidades fascinantes, eu não devo abrir concessões. Ceder uma vez só é mais difícil do que ceder nunca. E se eu, algum dia, amar do modo errado só para satisfazer um grande amor, nunca mais poderei de novo amar do modo certo. Aliás, se eu fosse do tipo que ama do modo errado, nem com ela hoje eu estaria. Eu estaria lá em casa, com a outra, que passou quase três anos me esperando no portão...
— É a vida... — tento consolá-la, sinceramente. Tento mitigar-lhe a frustração. Tento esticar por amor humanitário uma relação já por demais tensionada. Porém, por dentro de mim, tudo já está decidido: chegamos ao fim. Melhor perdê-la do que perder-me.

É a vida.