Rose. Essa namorada tem um capítulo inteiro no livro da minha vida. Vou à casa dela, como tantas vezes já fora. Oitavo andar. Entro, beijo-lhe a testa com a mesma paixão de sempre e ela me pede para ajudar na escolha das roupas. Experimenta dois ou três vestidos, participo da maquiagem, na escolha dos sapatos, nos retoques finais, ajeito-lhe os cabelos. Vai encontrar-se com Marcelo, que eu não conheço mas que está apaixonadíssimo por ela. Fico olhando pelo vidro da sala, ele a recebe delicado lá na rua, abre a porta do carro, e se vão. Durante três ou quatro meses ficamos assim, compartilhando. Aos sábados e domingos, ela saía com Marcelo. Nos outros dias, jantávamos, dançávamos e fazíamos amor. Isto aconteceu em São Paulo, 1996. Casaram-se em 1998, e têm uma filha chamada Regina. Hoje ela mora em Paris. Nunca mais nos encontramos.
Guarujá, 2008. Manhã de domingo, ensolarada. Acordo no quarto do fundo, levanto, faço um café e ponho Andrea Bocelli, que ela gosta. (Ela está no post de ontem. Ainda nos amamos!) Vivo a música... Pouco depois, os dois saem do outro quarto, e nos sentamos os três na sala. Sirvo-lhes o café completo, gentilmente. Fui até comprar pãozinho quente na padaria. Ele quase nem acredita. Como pode um namorado (eu) permitir que a namorada (ela) ame um outro homem (ele) na mesma casa (a minha) ?! Pois, é: pode: a Liberdade é a coisa mais importante do mundo. A mais gostosa. E, se o amor não for livre, chame-o de qualquer outro nome — menos de Amor.
Quando você conhece a verdadeira Liberdade, nunca mais vai querer outra coisa.
Como se pode concluir, não tenho ciúmes. Nunca tive. Nunca terei. Não sou do tipo de homem que acha que o que é bom para ele é ruim para sua namorada.
Aliás, o ciumento traidor a pior espécie de ser humano.