22.4.20

Caixa de metáforas

Quando levei meu fogo aos Céus, já sabia de antemão que haveria generosa recompensa. Zeus, em sua infinita bondade, mandou-me ontem, numa carruagem de luz, uma enorme caixa de presentes. De dentro dela sai, antes de tudo, o arquétipo da mulher inconquistável, já Vera e já dizendo:

— Prometeu, venho te ajudar no deslinde das metáforas, uma vez que é a solene forma de me representar para você. O Ballantines é o espaço provisório de abandono à lucidez impertinente. A caixinha de marfim é a minha, original, só que vazia, pois a esperança é perigosa e já voou. A borboleta azul, sabonete perfumado, espumas, Afrodite, remete ao seu post que amei dias atrás. A canequinha de prata, dançarina num pires mitológico, é a infância: desejo de salvar a criança em seu papel de menino Zeus na minha história — bem desempenhado. A peça do jogo de xadrez, é um cavalo em pedra-sabão, cheque mate (vivo e suado) de intensa concentração no galopante jogo-dança da vida. Os chocolates indianos, afetos meditativos. E Etta James, dizendo I'd rather go blind (prefiro ficar cega), cantando com força e voz cênica vinda do fundo edipiano da alma.

— E as conchinhas? — resolvo perguntar.

— As conchinhas, meu querido, as cinco conchinhas são as mais importantes nesta caixa que te entrego. Mas seu significado fica por tua conta, porque nunca entrego tudo de mão beijada. Você é perspicaz, pensa muito e sempre antes. Então, aumente as duas doses de Ballantines nesta noite semiótica, e decifre o que faltar. "O álcool nos torna lúcidos", lembre-se. Aliás, esta é a questão primordial de todas as metáforas.

Ela fala tudo isso e se vai. Então, só me resta ficar aqui, pensando, inundado de Pandora, de luar, de Vera e gostosura. E bêbado de mim.



Zeus mandou-me a Caixa por Sedex, e Vera, mentalmente, me ditou os dois parágrafos em itálico.
Tudo que aqui escrevo é baseado em fatos reais.