Dizem que tem aí um arruaceiro, condenado pela Justiça, que vive se metendo em encrenca. Não segue as regras da sociedade, anda sempre bem acompanhado, rejeitou a hipocrisia — e os irmãos detestam ele. Dizem até que o imoral anda beijando uma menina em público. O cara nunca trabalhou, mas festa é com ele mesmo. Adora dançar. Corre até um boato que na semana passada ele chegou a transformar água em vinho, e multiplicou meio quilo de sardinhas num boteco do subúrbio. Agora há pouco ele parou aqui no portão da minha casa, os cabelos amarrados com elástico, em rabo-de-cavalo, e me pediu um copo dágua. E me mostrou umas dez folhas meio amassadas: disse-me que é o rascunho do Sermão do Morro.
Todo dia ele trepa num caixote de madeira ali na pracinha e fica fazendo discurso:
Olhai os delírios do campo...
Todo dia ele trepa num caixote de madeira ali na pracinha e fica fazendo discurso:
Olhai os delírios do campo...