Varrendo os ciscos, os papéis, as tranqueirinhas, todo dia, eu aprendi a amar a limpeza, mas não de forma neurótica. Varrendo, aprendi a ter disciplina. E varria com método, coreografando uma espécie de dança com a vassoura, meditando, desenhando na poeira coisas que combinassem com as irregularidades daquele chão. Varrendo, eu planejava a minha vida. Varrendo ciscos geométricos sobre os cacos coloridos da cerâmica eu construía uma louca arquitetura de mistérios insondáveis. E então chegava um cliente querendo meio quilo de sal. Ou duzentos gramas de mortadela. Ou um pão sovado. Não importava: em qualquer das hipóteses, antes de atendê-lo, eu me transformava no Balconista do Olimpo. E sorria.
Varrendo, eu aprendi a perceber padrões. A interpretar as circunstâncias. Varrendo, eu aprendi a ser cigano, a ler as mãos e ver a Sorte!
Varrendo, eu aprendi a perceber padrões. A interpretar as circunstâncias. Varrendo, eu aprendi a ser cigano, a ler as mãos e ver a Sorte!