13.4.25

A nova Páscoa

Segundo a Bíblia, Jesus ressuscitou após três dias da sua morte biológica, num processo de religação do seu corpo à sua alma. E na Páscoa celebra-se exatamente isto: a volta de Jesus ao mundo matematerial, levantando-se do seu sepulcro, e ressurgindo perante Madalena, primeiramente (João 20:10-18). Esse retorno, essa passagem de volta a este mundo, essa ressurreição é comemorada na Páscoa.

Tal concepção de ressurreição está na Bíblia, explicitamente, e é assim entendida por todos os teólogos e cristãos nos últimos dois mil anos. Mas eu defendo uma tese diferente (*). Para mim, a verdadeira ressurreição de Jesus foi quando Ele morreu. Quando ele deixou esta vida e renasceu para a outra. Para aquela de onde ele supostamente veio.



Como Jesus foi o maior criador de metáforas, um mestre das parábolas, entro no jogo dele e crio uma nova. Quando se diz “ressuscitar”, isso, segundo aqui proponho, quer dizer “renascer para a outra vida” — não para esta. Não é o retorno a esta, mas o retorno à outra.

(...) 

A Bíblia relata dez casos de ressurreição: três no Antigo Testamento e sete no Novo. A Bíblia (em Mateus 28:5-6) diz claramente que Jesus ressuscitou dos mortos:

"Mas o anjo disse às mulheres: Não temais vós; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Não está aqui, porque ressurgiu. (...) Vinde, vede o lugar onde jazia."

Ou seja, segundo a Bíblia (**), o Corpo deixou o sepulcro e viveu novamente. E depois teria sido visto, andando, por muitas pessoas, incluindo Madalena e os apóstolos.





(*)  Aliás, eu tenho uma tese muito mais revolucionária ainda. A morte metafórica de Jesus, aos 33 anos de idade. Ou até mais cedo, quando Ele fugiu de casa... (conforme a biografia escrita por Paulo Leminski).


(**) Como filósofo, e respeitosamente, não posso acreditar nessa história de ressurreição biológica. Não tem fundamento científico. Mas, como expressão religiosa, é belíssima e muito interessante.


Em 20 de junho de 2008, escrevi um texto basilar sobre Jesus e seus ensinamentos. Leia AQUI.




Entretanto, eu acho belíssima a ideia de existir um Deus. Uma energia poderosíssima, radiante, capaz de criar mundos — e lhes dar sentido. Uma coisa tão maravilhosa assim não pode ficar nas mãos trêmulas de pastores fazendeiros ou vendedores de miçangas. Temos que nos apropriar dela. Nós, os poetas, os filósofos, os cientistas, as crianças, os artistas, os crentes verdadeiros e os ateus inteligentes — todas as pessoas sensíveis e amorosas — temos que nos juntar a Ele e dar-lhe as nossas mãos. Precisamos impedir que os aproveitadores arrendem sua imagem e pronunciem seu Santo Nome em vão.