7.8.23

As cascas das relações

Eu falo certas coisas tão óbvias, que às vezes rio de mim mesmo. Não pelo que eu digo, mas pelo poder que essas minhas obviedades têm de chocar certas pessoas. Ninguém deveria se espantar com essas coisas que eu escrevo. Eu apenas reproduzo o que, no fundo, é natural. Eu tiro as cascas que me parecem horrorosas dessas relações fechadas que eu vejo por aí — e mostro-as abertas. Exatamente o que todos deveriam fazer. Por exemplo, no almoço de ontem, eu disse que o homem casado, via de regra, não consegue satisfazer plenamente a sua esposa porque seu repertório de novidades é geralmente minúsculo. Falta-lhe criatividade. Acontece que nem mesmo um Einstein seria capaz de criar tantas novidades, todo dia, para suportar um casamento em alto nível. Então, o tédio se instala de modo cruel e fatal...

Por isso o homem casado quase nunca consegue manter-se por muito tempo como um amante esplendoroso da sua própria esposa. Mas o coitado vê num filme de amor que pétalas de rosas vermelhas jogadas num lençol de cetim são uma coisa excitante. Abrir um champagne ao lado de um pratinho de morangos, colocar música romântica, perfumes no travesseiro, essas coisas... Acontece que a criatividade do infeliz não vai além disso. O fato de ter casado (e aceitado um casamento tradicional, quase sempre opressivo) já é uma pequena demonstração de baixa criatividade.


Voltemos ao champagne com morango. Experimente repetir essa cena maravilhosa trinta dias consecutivos — com a mesma mulher — e veja o resultado. Claro que depois de quatro ou cinco dias ela vai ficar desesperada. Com o saco cheio de tanto morango, enjoada de champagne para o resto da vida e com o coraçãozinho entupido de pétalas vermelhas... Ela pode inventar até uma "depressão" pra se livrar do horror. E você vai ser ridicularizado, e virar um fracasso.

Agora, repita essa mesma operação romântica e poética com trinta mulheres diferentes — uma por dia.

Você fará trinta sucessos.


Trinta sucessos!