30.12.22

Como será que você foi ?

Há trinta dias eu te conheci, em todos os sentidos, e você me pareceu uma deusa sorridente, desejada e desejante, sobrevoando minhas bíblicas loucuras. E eu te amei, como talvez nunca tenha amado antes. E você me amou também, como nunca pensei fosse possível. Voamos juntos, por uns tempos, umas horas, eu e você, no olho aberto de um furacão poético e amoroso — e brilhamos naquele céu de gostosuras em que se tornou a minha sala atlântica. E há trinta dias eu já não te vejo. Não te procuro, não me mostro, não te encontro. Uma certa saudade estranha e boa me invade agora o peito nu, nesta noite, tarde madrugada, e eu sinto uma vontade impressionante de te ver de novo. Nem uma foto tua eu tenho aqui, e a própria tua imagem começa a desaparecer. Vira uma espécie de fumaça, meio azulada, decrescente, frágil, morena, lua e pequenina. Eu tento desesperadamente agarrá-la na minha memória, mas ela foge de mim... Como será que você foi, onde será que você está? Como será que você é?