Nenhum dos meus mamãos me compreende. Primogênito, solteiro e sem filhos, amante do vinho, da dança e da música — além de poeta libertário cheio de amores — pareço-lhes um louco. Aliás, a partir do momento em que disserem que me compreendem, estarão eles assumindo, implicitamente, que se deram mal. E essa conclusão, sob todos os bons pontos de vista, é-lhes desesperadamente incômoda. Porque nossas razões são mutuamente excludentes.
Com a cambaleante e honrosa exceção de um deles (cuja relação até parece razoável, ainda que sem brilho), todos os meus mamãos se deram mal no casamento. Não dá nem pra disfarçar. Logo vemos na cara dos coitados: se foderam todos no grau máximo que a expressão comporta. Eu vivia lhes dizendo, e o demonstrava com minhas atitudes cotidianas: não confundam uma transa eventual com a constituição racional de uma família. Não pensem que todo orgasmo chocho tem necessariamente que gerar uma fruta — ou uma cria. Não se fodam em nome do amor. As relações são passageiras. Tudo se transforma. Não existe amor eterno, etc. etc. etc.
Eu lhes dizia — mas eles fizeram questão de não me ouvir...