25.10.22

Meus filhos...

Não tenho filhos — e jamais os terei. Decisão tomada quando eu tinha apenas doze anos. Foi com essa idade que eu cheguei à conclusão de que jamais seria um tradicional "chefe de família". Acabei concluindo que ser um bom pai e amante da liberdade — ao mesmo tempo — são coisas mutuamente excludentes. Hoje penso que ter filho é um risco para mim desnecessário. Não quero corrê-lo. Entretanto, se por desventura mudar de ideia ou se por acidente tiver um, sei que serei um bom pai. Um ótimo pai! Porém, caso venha a tê-lo, vou preferir um filho criativo a um filho bem-comportado. (Porque não dá pra ser as duas coisas ao mesmo tempo).

Adoro crianças! Tenho verdadeira paixão por elas, e parece que tal sentimento é recíproco. Trato-as com profundo respeito, e sempre ensino-lhes coisas novas. Até chego a dar-lhes algumas dicas sobre como enganar os papais muito autoritários e as mamães superprotetoras. Minha relação com as crianças — todas as crianças que não sejam birrentas — é fundada na compreensão, no ensino gostoso da lógica, no deslinde dos mistérios, na cumplicidade fraternal, na alegria de buscar belas coisas novas, e na quebra de alguns tabus alienantes. E na tabuada. E no chute às normas castradoras. Todas as crianças eu as trato como grandes artistas, gênios indomáveis, pequeninos deuses. Por isso elas geralmente também gostam muito de mim.

Como já disse, adoro crianças — mas não é preciso que eu tenha uma exclusiva, aqui na minha casa o tempo todo, o dia inteiro... Eu não tenho esse sentimento de posse. Não tenho essa necessidade e não quero esse compromisso. E além disso não sou pedagogo. Prefiro amá-las a produzi-las. Não quero ter a responsabilidade de fazê-las e criá-las. Não tenho pretensões de ser um reprodutor da espécie...

A propósito, eis alguns outros que também (supostamente) não as fizeram: Leonardo da Vinci, Issac Newton, Jesus Cristo, Kierkegaard, Nietzsche, Buda, Tchekhov, Madre Teresa de Calcutá, Sócrates, Franz Kafka, Simone de Beauvoir, Cesare Pavese, Samuel Beckett, Joana D'Arc, Eliot, Michelangelo, Cioran, etc. Além, supostamente, de todos os padres da Igreja Católica nos últimos 1.500 anos.