30.10.22

Coivaras

Eu tinha seis anos e nas férias visitava uma casinha de sapé lá no sul do Paraná. Um dos nossos empregados, o Nhô Benedito, de dia me ensinava a roçar o mato e a plantar feijão, e de noite me contava histórias e me mostrava como afiar a foice. A Vida é uma floresta, ele dizia. Por isso, afiar a foice era uma ciência...

Era um velho negro sábio, criador de metáforas belíssimas. Certa tarde, lá no Morro da Melancia, logo após uma queimada, ele, preocupado comigo, gritou: "Não se embrenhe nas coivaras, menino!". Pois, é. Foi pensando no Nhô Dito e nas suas expressões que escrevi o livro Solidão a Mil. Acontece que, às vezes, na vida, eu me esqueço completamente do que disse ele, não afio muito bem as minhas foices, e me embrenho nas coivaras...