4.8.22

Vida curta

Se a vida se encurta por nossa causa, temos que reagir. Sêneca dizia que a vida não é curta: nós é que a tornamos — e a desperdiçamos quase sempre em afazeres inúteis, supérfluos, banais, secundários, desprezíveis.

Se você aproveitasse o tempo enorme que perde no trânsito, no trabalho alienado, na educação dos filhos, nas reprimendas aos escravos, nas conversas hipócritas, na fila do banco, no ônibus, no metrô, no avião, na internet; se aproveitasse o tempo que perde vendo tv, ou em papos furados ao telefone; em agendas ridículas, reuniões absurdas, conflitos de família, salamaleques, sermões e orações; se você não precisasse gastar um tempo enorme corrigindo as barbaridades que comete contra si mesmo; se você não precisasse ficar se explicando a toda hora para o patrão, para a patroa, para os pais, para os filhos, para os namorados — e para a consciência...

Se você não gastasse eternidades tentando encontrar uma saída nesse buraco enorme em que se meteu por descuido; se fosse um pouco mais esperto, um pouquinho mais inteligente; enfim, se você usasse o cérebro inteiro e fosse livre de verdade — e independente — a vida não seria tão curta...

Cento e vinte anos de prazer absoluto bastariam!