23.8.22

Sete personagens

1. A trajetória da minha vida nem sempre coincide com a trajetória dos meus sonhos. Mas eu vivo procurando juntá-las.

2. Todo poeta é gerado com orgasmo. Aliás, "Espírito Santo" é a melhor metáfora para Orgasmo que alguém já conseguiu imaginar.

3. Comer o pão que o diabo amassou é um horror. Mas, muito pior, é amassar o pão pro diabo comer.

4. Acho impossível ter duas vezes a mesma tesão pela mesma pessoa numa única vida.

5. O amor é um alimento perecível. Às vezes, para que não apodreça, tem que ser guardado no freezer.

6. Que vontade de comer de novo aquela flor de abóbora à espanhola, feita por minha mãe!

7. Não adianta viver atrás do Sonho. Muitas vezes, é preciso ir à frente dele.

8. A palavra Google está contida em "George Orwell"...

9. Não é fácil ser aventureiro... Primeiro jogar o coração no abismo — e só depois saltar atrás dele. Não é fácil.

10. O casamento só viceja em catacumbas.

11. Existem três tipos de amor: o da mãe por seu filho, o do homem pelas mentiras, e o meu por você.

12. O excesso, a excentricidade e os milagres: nós temos essas três coisas, incomuns.

13. Minha mãe queria que eu fosse um filho pródigo. Meu pai, um filho prodígio. Para não desrespeitá-los, tive que ser ambos, simultaneamente.

14. Por que não fiz vasectomia? Ora, porque um dia ainda posso ter um filho, cujo nome será Lúcifer Marques. E, se for menina, espero que a mãe concorde com o nome que já escolhi: Estrela Viva Marques de Alguma Coisa.

15. Claro que me arrependo de um monte de coisas que já fiz. É preciso ser imbecil completo para não se arrepender de nada.

16. Meus cinco maiores sentidos são os meus cinco maiores amores.

17. Jesus, ao defender Madalena naquela maravilhosa cena do apedrejamento: "Que atire a primeira pedra aquele que ainda não a pegou".

18. Jesus deve ser sempre respeitado. Eu o respeito ao meu modo. E se isso não te agrada, é uma pena.

19. O amor é uma curva.

20. Eu tinha um cavalo chamado Estrela.

21. Segundo a OMS - Organização Mundial da Saúde, a adolescência começa aos dez anos. A minha começou aos sete. Em quase todos os sentidos: eu já trabalhava no armazém do meu pai, somava as contas de cabeça, comia pão sovado o dia inteiro, e nunca roubei no peso. Ah, eu também já amava Marina, em todos os sentidos...

22. Eu procuro nascer de novo em todos os lugares onde sou estrangeiro.

23. Minha mãe até hoje não entende muito bem por que, no dia em que eu nasci, chegaram à nossa casa aqueles três desconhecidos trazendo ouro, incenso e mirra.

24. Acabo de ligar pra Joyce Ann em São Paulo. Ela está escrevendo um livro cujo título é "Coração Diamante".

25. Às vezes, uma pergunta simples pode exigir uma resposta complexa.

26. O caminho que eu tomei, eu não sei onde vai dar. Só sei que é meu e livre.

27. Rosângela publicou hoje a minha frase:
"Quero ser livre, meu Amor: arraca-me de dentro de ti."

28. Por que quase parei de escrever "The Master of Jesus"? Será que devo transformar em peça? Ligar pro Abujamra. Tenho que terminar a peça pra ele!

29. Tem dias que altero Paulo Leminki, outros altero Fernando Pessoa. Quem sou eu para deixá-los sozinhos?

30. Que me desculpem o narcisismo, mas às vezes eu preciso falar de Mim na primeira pessoa.

31. Musa não tem sobrenome.

32. Jesus era um garoto judeu travesso que só ele. Com seis anos quebrou a moringa, e teve que trazer água nos panos da camisa. Milagre ou metáfora? Ou esperteza de criança: torceu a camisa no pote...

33. A liberdade deve ser conjugada e não adjetivada.

34. Minha loucura é crística.

35. Navalha de Occam. A explicação mais simples para o mesmo problema? Estudar também o Princípio do Duplo Efeito.

36. Suzana tinha o cheiro de jasmim florescendo em noites de luar.


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Essas coisas eu as escrevi em 01.02.2008, entre 13h e 16h, enquanto almoçava num restaurante nordestino, o Pedra Baiana. Mostra um pouco do meu processo criativo. São idéias que anoto, como surgem. Não alterei nada: só as transcrevi, numerando-as. Embora possam ser refinadas mais tarde, algumas jamais serão publicadas. Foram escritas nas páginas iniciais do livro "Vida", do Paulo Leminski, que eu estava lendo. Parte delas irá para o livro The Master of Jesus, que escrevo em parceria com Paritosh. Quando o vinho acabou, tomei dois cafezinhos e voltei pra ver as obras do Brasil Colonial.



Ressalva em benefício da minha sanidade (ou da minha Loucura): certas frases serão ditas por personagens do meu livro "The Master of Jesus".

A frase número 11 é quase toda de James Joyce. Ele disse que "só existem dois tipos de amor: o da mãe por seu filho, e o do homem pelas mentiras". Não concordo, mas é uma frase de efeito. Também por isso, acrescentei o terceiro tipo.

Certas anotações são de agenda, mas resolvi mantê-las na ordem em que foram escritas.



Eis a obra que eu estava fazendo em Fevereiro 2008.