Portanto, vou agora emprestar meu coração aos meus amores, para que eles amem a si mesmos, livremente, como se me amassem — e se deleitem com essa gostosura indescritível.
Eu vivo trocando um entusiasmo por outro, geralmente maior. Porque amores livres, vou tê-los muitos — para que os tenha sempre. Faz mais de vinte anos que a minha namorada tem dezoito. Às vezes, dezessete.
Ousei amar de modo diferente, e tive a coragem de continuar puro nos meus relacionamentos. Algumas pessoas, porém, querem punir-me por isso, mas sobrevivo, sobre todos. E o que mais indigna meus detratores é que são poéticas e amorosas as minhas santíssimas transgressões.
Então mergulho nessa alegre correnteza onde eu rio fluente de mim mesmo — líquido, cristalino, gargalhante.
Só tenho mais seis meses de vida, suponho — e vivo radicalmente de acordo com tal suposição.
E se por acaso ao fim desse período a morte não me houver levado, tudo o que vier depois será um presente para mim — e uma bênção maravilhosa.