5.3.22

Sonho da Mãe

O primeiro corpo de mulher que eu toquei foi o da minha Mãe quando eu nasci. Ele brilhava só por mim, como a própria luz da virgindade poética. Era um farol no alto da montanha, era um sino na catedral de amor por onde entrei neste mundo encantador.

Meu primeiro ato foi saltar profundo.

Eram sete e vinte da manhã e eu vibrei cento e oitenta vezes sem parar. Aquilo não era um parto natural, era uma partitura. Minha mãe não gemia, cantava — e eu não era só um bebê normal que nascia de um corpo humano, mas uma sinfonia em sol maior que floresceu a partir de uma semente divina, colorida, entusiasmada.

Era um sábado de aleluias, e eu amei chegar como cheguei. Naquele momento, ao ouvir as mil badaladas, eu já senti que o meu destino era viver.

E eu vivo.