26.1.22

Meu jeito

MEU JEITO DE ESCREVER

Estou aqui, ao lado de um pezinho de lírio e tomando um copo de vinho vermelho. Solto e protegido como fosse uma simples formiguinha. Ronronando sensual como os gatinhos de Joyce Ann. Livre como um pássaro livre. Zen. E então fico pensando que meus leitores talvez nem façam ideia de quanto cuidado, quanto tempo, quanta energia, quanto amor — quanta loucura — eu preciso para escrever uma frase assim:

"Liberdade a gente tem que ter de sobra, pois, se dela um dia nos roubarem um pedaço, ainda nos resta o suficiente para que a vida não se torne uma desgraça."

Demorei cerca de duas horas para escolher o tema de hoje e as palavras que me parecem certas. Para que houvesse cadência, pulsação — e alegria na leitura. E rima. Mas não rima pobre, formal. Eu busco uma rima quase imperceptível. Às vezes, apenas conceitual, como em de sobra e bastante, suficiente. Às vezes, rima sonora, como em pedaço e desgraça.

Também me preocupo, nos meus textos, com que a língua não se enrole, se lidos em voz alta. Mesmo subvocalizados, não pode haver tropeços na boca de quem lê. Até pontuações eu às vezes suprimo visando pausas que não quero. Faltou dizer, mas teu subconsciente certamente já percebeu, que nas sílabas tônicas daquilo que eu preciso — cuidado, tempo, energia, amor e loucura — temos todas as vogais, em ordem crescente: a e i o u.

Enfim, eu educo os meus textos como se fossem filhos bons. Eu os refino e aprimoro, amorosamente, para que dancem no céu da tua boca e mereçam tocar-te o coração.


Edson. 26.01.2011.