22.10.21

O chão e o Pico

Sou livre. Por isso, nada mais é necessário porque nada é tão preciso. Não existe mais busca, não há posse no território que habito a partir de mim mesmo.

Nada tenho que eu possa perder, nada existe que eu queira ganhar.

Produto do meu próprio trigo, gume da minha própria faca, sou o verso da minha poesia, e a fantasia de um espírito em repouso.

Meu movimento, meu ócio, meu verbo, meu Deus. Minha pátria, minha religião, meu partido, meu clã.

Sou a saudade e a ausência de suspiros, a sorte que sustenta-me o corpo, sonho enlouquecido da minha alma, porta que se abre sobre si, a paisagem, a luz — e o olho.

(...)

Nada me falta e nada me sobra: sou a exata medida de todas as coisas, um conjunto pleno de vazio e de amor, mestre discípulo de Mim, um barco sem destino navegando um coração — num verdadeiro Himalaia de razões.


Sou portanto o Pico de mim mesmo.

Amém.