11.10.21

Ela me amava

Ela me queria muito e me queria todo e me queria sempre — mas não me queria livre. 

Dizia me amar, e acho que era sincera. 

Mas dava-me algemas de presente todo dia. Chocolates e algemas. Algemas de ouro forradas com veludo azul. 

 Vivia me dizendo que eu era a RAZÃO da vida dela, e que "morreria se um dia me perdesse". 

Portanto, para manter inteira a minha dignidade, só me restou abrir meu peito e deixar-lhe um bilhete, um dolorido e amoroso bilhete azul e rasgado na mesa da sala. 

 — Meu amor, se eu tiver que NÃO viver para que você NÃO morra, então existe entre nós uma contradição insuperável. 

Lamento muito: pode comprar o teu caixão e encomendar teu funeral. O máximo que eu posso fazer, religiosamente, todo dia 2 de novembro, será depositar algumas flores — amarelas — no teu túmulo. 

Jamais te esquecerei, 
Adeus.