Ela me queria muito e me queria todo e me queria sempre — mas não me queria livre.
Dizia me amar, e acho que era sincera.
Mas dava-me algemas de presente todo dia. Chocolates e algemas. Algemas de ouro forradas com veludo azul.
Vivia me dizendo que eu era a RAZÃO da vida dela, e que "morreria se um dia me perdesse".
Portanto, para manter inteira a minha dignidade, só me restou abrir meu peito e deixar-lhe um bilhete, um dolorido e amoroso bilhete azul e rasgado na mesa da sala.
— Meu amor, se eu tiver que NÃO viver para que você NÃO morra, então existe entre nós uma contradição insuperável.
Lamento muito: pode comprar o teu caixão e encomendar teu funeral. O máximo que eu posso fazer, religiosamente, todo dia 2 de novembro, será depositar algumas flores — amarelas — no teu túmulo.
Jamais te esquecerei,
Adeus.