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Ela me ensinou a pecar sem culpa — isso eu jamais esquecerei. Tinha um pé de café lá no fundo do quintal, ao lado de uma roseira, e eu ficava colhendo só os grãozinhos vermelhos, que eram doces. Havia também um velho torrador de manivela meio enferrujado, um fogão de lenha limpíssimo, e muitas histórias de amor. E uma ciência sutil que só as mulheres eleitas por Deus conseguem ter.
O processo todo das lições que ela me dava é muito longo — passa até por um despertador de alumínio Westclox, um Jesus de madeira brilhante, uma bicicletinha vermelha e várias tentações inocentes. Um dia desses vou descrevê-lo aqui.
Ela ainda assava queijo branco na palha de milho, todo dia, e me olhava com seus olhos de mistério. Mas, a imagem que mais me volta hoje à lembrança... é minha Vó Vitalina olhando o Botticelli pregado na parede da sala, e tomando café no bico do bule. Delicadamente — como se fizesse amor.
Vou agora fazer o meu.
Antes que a noite acabe e a lua se vá.