4.4.21

A Nova Páscoa

Segundo a Bíblia, Jesus ressuscitou após três dias da sua morte biológica, num processo de religação do seu corpo à sua alma. E na Páscoa celebra-se exatamente isto: a volta de Jesus ao mundo material, levantando-se do seu sepulcro, e ressurgindo perante Madalena, primeiramente (João 20:10-18). Esse retorno, essa passagem de volta a este mundo, essa ressurreição é comemorada na Páscoa.

Tal concepção de ressurreição está na Bíblia, explicitamente, e é assim entendida por todos os teólogos e cristãos nos últimos dois mil anos. Mas eu defendo uma tese diferente. Para mim, a verdadeira ressurreição de Jesus foi quando Ele morreu. Quando ele deixou esta vida e renasceu para a outra. Para aquela de onde ele supostamente veio.

Esta é a minha tese. Como Jesus foi o maior criador de metáforas, um mestre das parábolas, entro no jogo dele e crio uma nova. Quando se diz “ressuscitar”, isso, segundo aqui proponho, quer dizer “renascer para a outra vida” — não para esta. Não é o retorno a esta, mas o retorno à outra.

A Páscoa é a Passagem — desta vida para a Outra. Desta, em que Jesus viveu por trinta e três anos, para a Outra, de onde ele teria vindo. Nesse sentido, engana-se quem pensa que a ressurreição de Jesus significa o retorno do seu corpo a esta vida. Em verdade, Jesus ressurgiu para a outra vida: a vida espiritual. O corpo de Jesus, nessa perspectiva, não tem a mínima importância, pois não é o corpo que ressurge: é a alma que se liberta.

A Páscoa também está ligada aos antigos festivais da primavera (no hemisfério norte). Assim como em outras datas festivas já existentes, como o Natal, a Igreja aproveitou esses eventos e anexou-lhes algumas comemorações cristãs. Deu-lhes formas novas. Um método inteligente de fazer propaganda, pois começar do zero uma comemoração grandiosa custaria muito. Nesse período também os judeus já comemoravam seu êxodo do Egito durante o reinado do faraó Ramsés II, quando os judeus passaram da escravidão à liberdade. Uma belíssima metáfora. Tal qual Jesus saindo da escravidão do corpo e passando para a liberdade do mundo espiritual. Ou seja, de acordo com essa minha concepção, quando morremos biologicamente é que ressuscitamos. A morte, repito, é a Passagem. A morte é a Páscoa. A morte do corpo — entenda-se. Nesse sentido, portanto, a verdadeira ressurreição de Jesus aconteceu ainda na Cruz, e não no sepulcro, três dias depois, como está na Bíblia, e como erradamente dizem os teólogos, padres e pastores. Aliás, eu não creio nadinha nessa história de um corpo físico, morto, voltar à vida!

A Bíblia relata dez casos de ressurreição: três no Antigo Testamento e sete no Novo. A Bíblia (em Mateus 28:5-6) diz claramente que Jesus ressuscitou dos mortos:

"Mas o anjo disse às mulheres: Não temais vós; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Não está aqui, porque ressurgiu. (...) Vinde, vede o lugar onde jazia."

Ou seja, segundo a Bíblia, o corpo deixou o sepulcro e viveu novamente. E depois teria sido visto, andando, por muitas pessoas, incluindo Madalena e os apóstolos.




E eu tive certa vez uma Páscoa inesquecível. Com a Beatriz. Depois eu conto.