Anteontem eu fui ao Manicômio de Franco da Rocha procurar meu avô paterno. A ficha dele. Um cadastro antigo, alguém que dele se lembrasse — qualquer coisa. Não achei. Ele era um louco delicado que enlouqueceu do lado errado. Dizem que os irmãos o deixaram certo dia jogado numa rua de São Paulo, sozinho, tremendo de frio, para que morresse abandonado e lhes deixasse a sua parte na herança. Conseguiram. Seu nome era Joaquim. Ele não havia suportado a morte do grande amor de sua vida, que caíra de uma laranjeira sobre um toco de cerca. Alienou-se do mundo por causa disso. Partiu-se em dois. Para esquecer Maria, não abraçou a poesia: abraçou a tristeza — e mergulhou no álcool. Esqueceu-se de si mesmo, perdeu a graça, e deprimiu-se fundamente. Por isso eu digo que o coitado enlouqueceu do lado errado...
Texto escrito originalmente em julho de 1989.
Texto escrito originalmente em julho de 1989.