Estou morando numa casa que tem tramela, uma corruíra canta ali na laranjeira e a tampa da chaleira de alumínio começa a tremer lá no fogão de lenha. Nenhum silêncio que não seja o agradável. Um tiziu aveludado toma a decisão de me encantar, saltando vertical no palanque do portão. E eu fico aqui pensando. Se a gente não nasceu num lugar assim, como esse, bucólico, meio oriental, pode ainda ter a sorte grande de renascer num parecido. Sinto-me hoje um louco Hermann Hesse cultivando rosas e alfaces, tocando clavicímbalos ao lado de um pé de lírio, e deitado eternamente no meio de um jardim, no quintal da minha Mãe.
A bem da verdade, minha casa não tem tramela nem palanque no portão. Aliás, minha casa nem é minha. E fogão de lenha já não vejo há muito tempo. Mas eu toco clavicímbalos até que bem, cultivo rosas e alfaces num canteiro de estrelas, e vivo mesmo num jardim... E o tiziu aveludado imaginário é quem conta essas coisas todas tão malucas e amarelas para mim. Acordei hoje cedo num hotel brilhante no meio do Rio (*), sem saber de onde vim, nem pra onde vou. Talvez foi isso que me fez lembrar do fogão de lenha da Vó Vitalina e do quintal da minha Mãe.
(*) Rio que corre por dentro da Pedra.
A bem da verdade, minha casa não tem tramela nem palanque no portão. Aliás, minha casa nem é minha. E fogão de lenha já não vejo há muito tempo. Mas eu toco clavicímbalos até que bem, cultivo rosas e alfaces num canteiro de estrelas, e vivo mesmo num jardim... E o tiziu aveludado imaginário é quem conta essas coisas todas tão malucas e amarelas para mim. Acordei hoje cedo num hotel brilhante no meio do Rio (*), sem saber de onde vim, nem pra onde vou. Talvez foi isso que me fez lembrar do fogão de lenha da Vó Vitalina e do quintal da minha Mãe.
(*) Rio que corre por dentro da Pedra.