3.2.16

coracao florido

Quando você
entrou em meu coração
e respeitou todas as flores
que lá existiam,
e conviveu com elas
por uns tempos
— isto foi um gesto de amor.

Mas agora,
agora que você
invade o meu peito apaixonado,
pisa nos canteiros,
maltrata minhas flores
e tenta arrancar algumas delas
pelas raízes
— isto não pode ser amor:
isto é violência...

Isto é violência!


Esse texto foi originalmente escrito para Dora, a linda e delicada morena por quem me apaixonei no estúdio, enquanto ainda fazia suas trezentas e sessenta fotos. Tivesse durado só três ou quatro meses, a nossa teria sido a mais bela história de amor. Mas, eu e Dora, inexperientes e afoitos, cometemos o erro primário de ficar além do Pico... Para Dora, depois de um certo tempo, já não lhe bastavam mais os meus olhares: ela queria ser a dona exclusiva dos meus olhos. Sei que era um desejo inocente de ter-me só para ela. Mas os olhos de um poeta, você sabe, não podem ser alienados. E a coisa então resultou numa situação intransponível... E nós, por ainda vivermos uma vida deliciosa e fascinante, realmente demoramos muito para reagir. Dora, no começo, era de uma leveza insuperável, mas depois se tornou, e não por culpa dela, uma espécie de âncora amarrada ao barco da minha vida. Só depois que reagimos, só depois que saltamos inteiros nos braços abertos da liberdade absoluta, só depois que passamos a nos amar de verdade, é que percebemos que essa reação poderia ter se dado antes. Muito antes. E essa é a única falha que eu acho que tivemos, eu e Dora. Por dois anos ainda tentamos manter a estrutura gloriosa da relação. Mas foram dois anos de relação às vezes desesperada. Dois anos de tempos trêmulos. Para mim — que lutei demais em defesa da liberdade; e para ela — que não conseguiu seu intento louvável de amar-me para sempre.
E agora eu fico pensando…