Tem gente que se mata por aquilo que chama de vida. Despreza a liberdade e assume relações opressivas. Por isso, usa relógio de pulso, agenda, telefone, celular, e até barbantinho no dedo. Ama o despertador de plástico e o cartão de ponto como se amasse dois deuses simultâneos. Toma ônibus, avião, táxi, metrô, balsa, moto, bike, lotação, elevador. E ainda sobe escadas, inclusive rolantes. Tudo com pressa. Trabalha, trabalha, trabalha, se ferra, se humilha, suporta, bajula, atende, digita, preenche. Rasteja, engole, se agita, se afasta, se agride, se ofende, se junta e separa de novo. Adoece, empacota, vomita, remenda, cozinha, lava e passa. Se prende, se amarra, se enrola, se curva, se apaga! Obedece, obedece, obedece. Se anula...
Mas — incrivelmente — ainda sobrevive!
Mas — incrivelmente — ainda sobrevive!