Éramos diferentes.
Eu gastava tudo — eles poupavam.
Eu tomava vinho — eles bebiam cerveja.
Eu amava livremente — eles se envolviam com ciumentos.
Eu era um poeta louco — eles eram respeitáveis.
Eu criava conceitos — eles adoravam as coisas.
Enquanto eu fazia amor, eles faziam filhos.
Enquanto eu fechava os olhos, eles vigiavam.
Enquanto eu estudava e dançava, eles cuidavam da prole e do cônjuge.
Enquanto eu viajava sem destino, eles faziam seus planos e desenhavam seus mapas.
Enquanto eu saltava profundo, eles viam novela.
Tudo tem seu preço.
Por isso hoje eu vivo aqui, sozinho — e não tenho nada além de amores.
Mas eles ainda se amontoam, brigando por inventários e calculando seus haveres...
Não seria justo, portanto, que Deus nos desse agora as mesmas dores.
Somos diferentes.
E não tenho culpa se além de loucura Deus me deu Razão — e continua dando.