14.2.13

um ano depois

No primeiro dia, beijo-lhe os pés delicadinhos, chupo-lhe os dedinhos, um por um, sinto todos os perfumes, percorro-lhe os vãozinhos, os meandros, as curvas, minha língua vai coleando seus caminhos de amor. Êxtase total. Porém, depois de uma semana, ou duas, antes de fazer isso já lhe passo um pano quente para retirar areias finas. Passo cremes, faço massagens, repito operações. Ainda existe amor e entusiasmo nos caminhos que percorro — e muito! Mas, depois de um mês, ou dois, já me esforço para lembrar que ela tem pés. E se tento beijá-los, às vezes me distraio um pouco. Pois há pedregulhos nos vãos dos seus dedos, aquele perfume parece que se foi. Minha língua se transforma então em cascavel inexplicável que foge apavorada de um deserto já sem fim. E um ano depois, ou dois, tudo tem gosto de areia...
Acho que é o tempo.
E o vento.