6.5.12

bichinho crente

A pior coisa que os pais podem fazer a uma criança é fazê-la crer em Deus antes que ela conheça Sócrates. O argumento "papai do Céu castiga", por exemplo, além de mentira cruel, é um sofisma — mas eu suponho que pais desse tipo nem saibam o que é um sofisma. "Isto é pecado", "Deus tá vendo", etc. — todas essas ameaças veladas confundem a cabeça da criança. Acontece que é muito mais fácil "educar" um bichinho obediente do que um filosofozinho questionador. Porém, a crença em Deus, imposta assim, deveria ser considerada abuso intelectual. Crime inafiançável.

Não quero ofender ninguém. Tenho um respeito muito grande pelos cristãos e pelos crentes. Porém, como filósofo, e com responsabilidades intelectuais que levo a sério, não posso apoiar a fé — aqui entendida como crença inquestionável na existência sobrenatural de seres mitológicos. Entretanto, como poeta, eu creio num Deus maravilhoso, que mora dentro do meu próprio coração. Inclusive no meu próprio coração. Porque Ele mora também no coração das estrelas. O meu Deus pode até ser o mesmo que o teu — só que o meu é mais poético e não me exige uma fé inabalável. De certo modo, e no sentido figurado, eu creio nele e Ele em mim. Não negociamos nossas crenças em comum. Por isso, quando falo com meu Deus, dou-lhe a garantia de que sou-lhe seu amigo e não seu seguidor. Converso com Deus por opção poética, não por dever da crença. Minha chance de ser salvo, portanto, é bem maior do que a de um papa ou de um pastor. Aliás, dando-me as condições intelectuais de ser ateu, especialmente a lógica e a razão, Deus já me salvou dos horrores e desgraças de uma fé sem fundamento. Por isso mesmo estou agora escrevendo um livro sobre o assunto, cujo título é The Master of Jesus.