15.8.11

o pico do pico

A tarde continua brilhando

Separo-me porque te amo, vou-me assim porque te quero, abandono alguns sonhos no teu peito porque preciso ficar só. Deixo você porque parece que atingimos o pico. Também sei que poderíamos ir mais além — juntos. Seria um risco, eu sei, mas o risco maior é irmos mais além — separados. E entre dois riscos, devemos escolher o mais profundo, o mais radical, o mais incerto, o mais alegre, o mais aberto. Vamos dar chance ao mundo para que possa ver e sentir quem somos nós, vamos permitir que outras borboletas visitem nossos corações. E se em vez de borboletas nos visitarem urubus, não haverá problema: nós agora já sabemos distingui-los. Quando vivemos em absoluto estado de alerta, conscientes como um Buda vivo — todas as experiências valem a pena.

Eu lhe disse essas palavras ontem à noite, carinhosamente, e ela continuou me olhando, só. Entre o meu copo ainda cheio de absinto e o guaraná que ela tomava trançamos nossas mãos. E o silêncio se fez dúvida e abraçou as circunstâncias.
Então ela me disse, segurando um guardanapo:
— Não dá para todo mundo cavalgar cavalos negros, todo dia, Edson. Não dá pra todas as mulheres conversarem com violetas de manhã... É impossível todo mundo ser feliz...
Ela continua falando, falando, e parece que desiste de saltar, mas eu retruco:
— Por isso é que você deve tentar, meu amor: porque nem todos podem criar loucuras. Muitos já se amarraram demais, se prenderam demais... Loucuras não são para qualquer um. Por isso é que fascinam, por isso é que encantam. Se loucuras fossem coisas fáceis, corriqueiras, seriam apenas desprezíveis.
Todos (em princípio) podem mudar, mas pouquíssimos conseguem.
Só quem é livre tem coragem de mudar de verdade.
Ou você não mais se considera livre?

Penso em fazer-lhe outras perguntas, mas duas lágrimas de novo rolam na face do meu amor, e me sugerem que eu posso simplesmente estar errado.
Mas a noite continua brilhando!
É a vida...