Tentação do Pecado
Minha vó Vitalina rezava toda noite, ajoelhada aos pés da cama, ao lado da lamparina acesa na pequena xícara com azeite espanhol. Era religiosa demais, acreditava piamente no Deus cristão, mas nunca ia à igreja. Usava um avental xadrez remendado, tomava café no bico do bule, e fumava cigarro de palha. Não tinha nenhuma cultura formal. Morreu aos noventa e quatro anos sem saber quem foi Van Gogh, sem jamais ter ouvido a Nona do Beethoven. Nunca leu Nietzsche, nem Platão, nem Edson Marques... Mas tinha uma sabedoria grega que marcou profundamente a minha vida. Certo dia, enquanto colhíamos grãozinhos maduros de café no quintal da casa dela, eu lhe fiz uma pergunta a respeito de sexo — um assunto palpitante para o meu coraçãozinho já bastante infiel e eternamente apaixonado, que então só tinha sete anos de idade e uma montanha de desejos que eu supunha proibidos.
Ao que ela, limpando as mãos no avental xadrez, me aconselhou sorrindo:
— Meu filho (ela me chamava de Meu Filho), quando a tentação do pecado passar por você, e for uma tentação muito gostosa, que não causa mal a ninguém, você tem um único caminho a tomar: olhe para os lados, pense em Deus, respire fundo... e peque!
Sigo à risca!
Minha vó Vitalina rezava toda noite, ajoelhada aos pés da cama, ao lado da lamparina acesa na pequena xícara com azeite espanhol. Era religiosa demais, acreditava piamente no Deus cristão, mas nunca ia à igreja. Usava um avental xadrez remendado, tomava café no bico do bule, e fumava cigarro de palha. Não tinha nenhuma cultura formal. Morreu aos noventa e quatro anos sem saber quem foi Van Gogh, sem jamais ter ouvido a Nona do Beethoven. Nunca leu Nietzsche, nem Platão, nem Edson Marques... Mas tinha uma sabedoria grega que marcou profundamente a minha vida. Certo dia, enquanto colhíamos grãozinhos maduros de café no quintal da casa dela, eu lhe fiz uma pergunta a respeito de sexo — um assunto palpitante para o meu coraçãozinho já bastante infiel e eternamente apaixonado, que então só tinha sete anos de idade e uma montanha de desejos que eu supunha proibidos.
Ao que ela, limpando as mãos no avental xadrez, me aconselhou sorrindo:
— Meu filho (ela me chamava de Meu Filho), quando a tentação do pecado passar por você, e for uma tentação muito gostosa, que não causa mal a ninguém, você tem um único caminho a tomar: olhe para os lados, pense em Deus, respire fundo... e peque!
Sigo à risca!