3.6.11

Jesus e Henry Miller

Acabou o churrasco, todos já se foram. Jesus foi o último a sair, abraçado a Henry Miller — os dois de fogo. E já lhes avisei que hoje teremos um jantar à luz de velas, só para nós três. Disseram que virão.

Agora já é madrugada, e eu fico pensando. Será que você — que talvez não entenda como posso ter feito ontem um churrasco só pra mim — será que você nunca passou uma noite inteira lendo um livro, sublinhando palavras ao acaso, cotovelos apoiados na mesa, as mãos e um belo copo de vinho suportando a cabeça dançante? Será que você nunca passou uma noite inteira sozinho, deliciando-se com você mesmo, solto e alegre — sem saber nem como amanhecer? Pois então é preciso que eu te pergunte: 

Você é livre para vivenciar gostosamente a própria Solidão — se quiser — ou tem sempre que reparti-la com alguém?



O direito à solidão e a capacidade de exercê-lo plenamente são, para mim, mais importantes do que a solidão em si. Entretanto, quando eu falo em solidão me refiro, mais apropriadamente, à solitude — que é algo muito além do que apenas estar sozinho. Aliás, eu adoro companhia! Mas tem que ser companhia inteligente, libertária, excitante, criativa e, preferencialmente, sensual. Aqueles que não têm sensualidade transbordante não inspiram o meu tempo.

Bom ressaltar que isso não significa — de forma alguma! — que tem que haver sempre sexo entre nós. Acontece que as pessoas sensuais têm um estilo de vida mais agradável. São pessoas mais gostosas. E se são sensuais (além de libertárias, criativas, excitantes, etc.) é porque já se libertaram de uma série de outras amarras e preconceitos que costumam deixar as pessoas tristes, chatas, ranzinzas...

E a vida é muito curta para que a gente a desperdice assim, à toa.

Companhias humanas inteligentes, criativas, libertárias — sempre são deliciosas.