Sou um abridor de gaiolas. Mas não quero que me considerem muito original: eu apenas repito o que me pedem os pássaros. Transformo em português, literalmente, os cantos que eles cantam para mim. E repito-os, amorosamente, só para que vocês possam ouvi-los de verdade em nossa língua. Às vezes, quando chove chuva viva e o canto deles vem molhado, limpo um pouco o seu trinado, acrescento algumas notas, pinto-as de azul, e reescrevo a melodia. E transformo o beija-flor em minha estrela. O bem-te-vi em bem-te-vejo. O pardal em perdão, o tiziu em tesão. E abro todas as gaiolas.