10.5.11

rede amarela

Desarmo na beira da praia a rede amarela e me lembro de Artaud. E do meu avô Joaquim, o carroceiro — que sequer conheci. Artaud você sabe quem foi, e meu vô Joaquim é aquele que gastava uma semana inteira para juntar os ingredientes da macarronada de domingo. Uma história triste e bela ao mesmo tempo. Ficou louco, o coitadinho. Mas ficou louco do lado errado... Depois eu conto a respeito. Ficar louco é muito fácil. Mas só a loucura brilhante é que nos leva ao templo da sabedoria. Por isso é que, entre a sensatez paralítica das coisas normais e a loucura poética daquilo que excita — fico com esta, naturalmente!

No último sábado eu fui ao Manicômio de Franco da Rocha procurar esse meu avô paterno. A ficha dele. Não achei. Ele era um louco que enlouqueceu do lado errado. Dizem que os irmãos o deixaram certo dia jogado numa rua de São Paulo, sozinho, tremendo de frio, para que morresse abandonado e lhes deixasse a sua parte na herança. Conseguiram.

Como já disse, seu nome era Joaquim. Ele não havia suportado a morte do grande amor de sua vida, que caíra de uma laranjeira sobre um toco de cerca. Alienou-se do mundo. Partiu-se em dois. Para esquecer Maria, não abraçou a poesia: abraçou a tristeza — e mergulhou no álcool. Esquizofrenou-se fundamente. Ou seja, enlouqueceu do lado errado.