14.4.11

vibora

Toda musa traz uma víbora dentro de si. É só uma questão de tempo. Essa frase eu a escrevi em 1995, nos tempos de Suzana e Patrícia. Agora vejo que exagerei. Em verdade, a musa não traz a víbora dentro de si: nós é que a colocamos dentro dela. Mas nem todas as musas são assim: só aquelas com as quais casamos... Só aquelas que não as deixamos no pico. Musas devem ser deixadas no pico, sempre. Trazê-las para o cotidiano é um desperdício. Transformá-las em esposas é um crime.

Na mitologia grega as musas eram nove. Na minha mitologia, também. Ao homem comum basta uma musa — mas o poeta precisa das nove. No mínimo. Simultaneamente.



A propósito dessas duas musas citadas:

Enquanto Patrícia oferecia-me a morte em bandejas de prata, Suzana dava-me a vida na palma da mão. Patrícia era uma espécie de Fedra sensualíssima, e Suzana, uma pequenina e doce Ariadne. A primeira queria enforcar-me com cordinhas de seda; a segunda deu-me os fios do amor com que me salvei do labirinto. As duas diziam me amar... Mas a primeira me queria boi, e a segunda — Minotauro.
Com qual delas você acha que eu fiquei?


(...)
Patrícia queria certezas; Suzana me jogava no abismo.
Patrícia significava segurança, estabilidade.
Mas Suzana quer dizer Aventura!

Durou quase dois anos esse nosso delicioso triângulo de vertigens. E foi só quando chegamos ao pico é que tive de optar com veemência. Porque, de Patrícia, eu tinha que me salvar correndo, para enfim poder viver. E de Suzana, eu só queria ter belíssimas lembranças...
Além disso, ambas também precisavam salvar-se de mim.
Então, saltei.
De cabeça, no coração da Vida.