Se enquanto trabalho não faço amor,
não escrevo poesias, não tomo sol nem vejo a lua;
Se enquanto trabalho não sorrio nem gargalho,
nem vejo os olhos amantes da minha mãe;
Se enquanto trabalho não ando descalço
em areias brancas, nem ouço o barulho do mar;
Se enquanto trabalho não abraço a Vida com tesão e alegria,
nem leio Henry Miller nem Neruda nem Jesus;
Se enquanto trabalho não mergulho fundo em minha alma;
Se enquanto trabalho não vejo filmes, não sinto perfume de lírios,
nem admiro alguma coisa genial de Michelangelo;
Se enquanto trabalho não escalo essas montanhas,
nem salto profundo, nem tomo vinho branco;
Se enquanto trabalho não medito, nem canto, nem ouço música,
nem como doce de abóbora com coco ralado,
nem respiro o sagrado ar da liberdade...
Se enquanto trabalho não sonho, não pinto, nem componho,
não desenho, nem danço, nem esculpo;
Se enquanto trabalho nem sequer me lembro
dos vinte poemas de amor e das canções desesperadas;
Se enquanto trabalho não parto melancias,
nem crio conceitos,
nem beijo mamilos de um grande amor...
Se enquanto trabalho não faço nada disso,
então só me resta perguntar:
O que é que estou fazendo aqui?