Quando eu era pequeno, diziam-me que Deus escreve no livro da minha vida todas as coisas que eu fazia, e que, no dia do Juízo Final, tudo seria revelado. Nada seria mantido em segredo — nem mesmo aquelas coisas lindas que eu e Marina fazíamos no escuro do meu quarto, de portas fechadas e mãos deliciosas, cheias de creme. Só não me disseram que as páginas desse livro divino seriam guardadas na minha própria cabeça. E que o Deus que escreve nelas sou Eu. A tinta é indelével: nada vai se apagar. Serei condenado pelas verdades que tive medo de dizer, mas serei absolvido pelas verdades todas que eu gritei. A hipocrisia e o medo me jogariam no abismo do inferno — mas a espontaneidade me salva.